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Linguagista

Léxico: «tartaruga-gigante-da-fernandina»

Conforme aparecem

 

      «Uma fêmea já adulta da espécie Chelonoidis phantasticus, também conhecida como a tartaruga-gigante-da-fernandina, foi avistada este domingo por uma expedição conjunta do Parque Nacional das Galápagos e da Galapagos Conservancy, uma associação que se dedica à protecção a longo prazo da biodiversidade do arquipélago e que tem sede nos EUA» («Tartaruga-gigante que se julgava extinta afinal ainda existirá nas Galápagos», Sofia Neves, Público, 22.02.2019, p. 37).

      Se há muitos aspectos num dicionário que têm de ser tratados de forma sistemática (e nem sempre o são, como vemos a cada dia que passa), outros há que têm de ser vistos ao sabor do acaso, de forma casuística. Encaixa entre estes a dicionarização dos nomes da fauna e da flora.

 

[Texto 10 867]

Léxico: «ADN Hachimoji»

Agora, um pouco de japonês

 

      «Chama-se ADN Hachimoji, hachi significa “oito” e moji quer dizer “letra” em japonês (como em e-moji). É uma nova forma de ADN, sintético, feito em laboratório, com o dobro dos blocos que existem no ADN natural. [...] E agora? O que se pode fazer com este alfabeto expandido? O ADN Hachimoji pode ter muitas aplicações no campo da biologia sintética aplicada. Os investigadores falam de diagnósticos melhorados, alternativas ao silício para armazenamento de informações, proteínas com aminoácidos extras e novos tipos de fármacos» («Novo ADN sintético com oito letras em vez dos “naturais” quatro», Andrea Cunha Freitas, Público, 22.02.2019, p. 36).

 

[Texto 10 866]

Léxico: «Ceifeira»

Essa ceifeira escura, vingadora!

 

     «Passou, morrendo, para a galeria da “situação”, ou seja, dos perversos políticos que mandam nesta nação que o “povo” populista, representado por intelectuais com o mesmo adjectivo, verbera. Mas deixemos as asneiras, e tentemos falar do homem, do percurso e do tempo que começa agora a encerrar-se por obra da Ceifeira» («Arnaldo Matos encontra a Ceifeira», José Pacheco Pereira, Público, 23.02.2019, p. 8).

     Não custava nada os dicionários registarem que esta Ceifeira — assim com C maiúsculo, quase a lâmina de uma foice —, porque nem todos os leitores, longe disso!, saberão que é a morte personificada (personificação mítico-folclórica), a Morte. Mais uma foiçada nos dicionários.

 

 

[Texto 10 865]

Léxico: «géis/geles»

Sim, mas explicitamente

 

      «Os sulfatos, nomeadamente o lauril sulfato de sódio (Sodium Lauryl Sulfate, SLS) e o lauril éter sulfato de sódio (Sodium Laureth Sulfate, SLES) são ingredientes com propriedades detergentes encontrados na grande maioria de produtos cosméticos de limpeza, tais como champôs, geles de banho e pastas de dentes.» («Os sulfatos do champô fazem mal à pele?», Diogo Baltazar, Público, 18.07.2018, 17h28).

      No texto anterior, vimos o plural géis; neste, geles. Estão ambos correctos e deviam, por isso, estar explicitamente em todos os dicionários na entrada gel.

 

[Texto 10 864]

Léxico: «pectina/quitosano»

Vejam-se as diferenças

 

      «O investigador [Cesar Cavalcante Filho] explica que optou por desenvolver um sistema polimérico constituído por géis porque “são sistemas de baixo custo, baseados em constituintes naturais, entre os quais quitosano (obtido da carapaça de crustáceos, como caranguejo e lagosta) e pectina (obtida da casca de algumas frutas). São géis promissores, desenvolvidos pela primeira vez neste trabalho e preparados através de metodologias simples”» («Carapaça de caranguejo usada para combater “marés negras”», Motor 24, 23.02.2019).

      Não conheço nenhum dicionário que acolha quitosano. Quanto a pectina, com uma presença esmagadora na indústria alimentar, mal seria que não estivesse dicionarizado. Contudo, a definição de alguns dicionários é simplesmente inútil — nada diz ao falante comum. Apesar de tudo, em 10, a definição do dicionário da Porto Editora merece um 6: «QUÍMICA classe de polissacáridos complexos que se encontram nas plantas e, em particular, nos frutos». O Aulete (que até tem duas acepções) merece 7 ou 8, e o 10 vai para o italiano Treccani: «pectina s. f. [der. del gr. πηκτός «condensato»; v. pecto-]. – Nome generico di polimeri naturali ad alto peso molecolare relativo (fino a 400.000 almeno), solubili in acqua, contenuti in frutti, semi, radici carnose, ecc. dei vegetali superiori, e di alcuni in particolare (agrumi, mele cotogne, barbabietole, carote); chimicamente le pectine sono costituite di catene lineari di acido poligalatturonico esterificato in grado più o meno alto con alcol metilico o con acido acetico, munite di catene laterali formate da varî zuccheri; hanno grande tendenza a gelificare, specialmente se si trovano in ambiente leggermente acido e in presenza di zuccheri. Si ottengono industrialmente dalle polpe residuate dall’estrazione di succhi di frutta o dalla preparazione dello zucchero di barbabietole; ben depurate, si presentano come polveri quasi bianche. Vengono usate come gelificanti e addensanti in prodotti alimentari (marmellate e gelatine di frutta, gelati, budini, creme), cosmetici e farmaceutici (gelatine, creme); nell’industria tessile come adesivi, bozzime e appretti; in medicina come emostatici e antidiarroici e come veicoli ritardanti l’assorbimento di farmaci.»

 

[Texto 10 863]

Léxico: «toninha-comum/focenídeo»

Puxar o fio da meada

 

      «Uma toninha-comum, um mamífero aquático um tanto semelhante ao golfinho, foi resgatada de um mercado chinês, onde se encontrava à venda para fins alimentares. Cheng Mingyue e Cheng Jianzhuang estavam a passar no local quando se depararam com o animal, que de acordo com os mesmos, se encontrava em lágrimas. Comovidos com a situação, os clientes pagaram cerca de 190 euros pelo animal, para mais tarde o devolverem ao mar» («Amigos salvam toninha ao verem-na chorar em mercado», Correio da Manhã, 22.02.2019, 9h55).

      Quando consultamos o dicionário da Porto Editora, concluímos que não regista toninha-comum nem, no verbete toninha, o nome científico. Vejamos o que regista: «ZOOLOGIA mamífero cetáceo da família dos Delfinídeos, de corpo pequeno, comprido e estreito». Será mesmo assim? O que vejo aqui e ali é que as toninhas ou marsuínos são pequenos cetáceos da família dos focenídeos (Phocoenidae), palavra esta que o dicionário da Porto Editora não acolhe. Também sabemos que os marsuínos se dividem em seis espécies. Entre as espécies mais conhecidas estão a Phocoenoides dalli e a Phocoena phocoena, que podem ser encontradas no hemisfério norte. Temos então aqui nova pista: marsuíno. Ora, este está no dicionário da Porto Editora: «ZOOLOGIA (Phocoena phocoena) mamífero cetáceo encontrado em águas costeiras subárcticas e temperadas do hemisfério norte, pode atingir perto de dois metros de comprimento e apresenta focinho pouco pronunciado e coloração escura na região dorsal e branca nas partes inferiores; boto, toninha».

      Parece-me evidente que se tem de puxar o fio à meada. Tal como está, pouca utilidade tem para o falante. Confunde mais do que esclarece, e um dicionário não existe para isso.

 

[Texto 10 862]

Léxico: «dressage/paradressage»

Como se não existissem

 

      «Depois de verem anulados os concursos internacionais de paradressage, os atletas da única equipa portuguesa estão a tentar reunir 18 mil euros para conseguirem participar nos para[o]límpicos em 2020» («Cavalgar até Tóquio. Há uma campanha para levar os atletas de paradressage aos para[o]límpicos», Joana Carvalho Reis, TSF, 22.02.2019, 8h06).

     Nos dicionários de francês-português, lê-se que dressage é o «adestramento de animais», só que ninguém usa a palavra portuguesa em vez da francesa para se referir à disciplina da equitação. Se nem dressage está nos nossos dicionários como estrangeirismo, imaginem se paradressage estará. Entretanto, no Treccani: «dressagedresàaˇ∫› s. m., fr. [propr. «raddrizzamento; addestramento», der. di dresser «drizzare»]. – Nello sport dell’ippica, gara di addestramento in cui il cavaliere fa eseguire al cavallo da lui montato gli esercizî detti arie, su un terreno delimitato di 40 m × 20 m.»

 

[Texto 10 861]