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Linguagista

Léxico: «4.0»

Quarta revolução industrial

 

      «Há uma mudança na paisagem do Alentejo. A reboque do olival intensivo e superintensivo a planície dourada está a dar lugar a um manto verde. Associações ambientalistas e investigadores (Universidade de Évora) alertam para os perigos dos pesticidas e pedem boa gestão da água. Agricultores (Olivum) e Câmara Municipal de Beja defendem que promove investimento, dinamiza a economia, cria emprego e fixa populações. O Ministério da Agricultura e entidades públicas (EDIA e INIAV) reforçam que não provoca danos ao ambiente. O SAPO 24 foi ver esta revolução agrária 4.0 à volta do Alqueva» («Olival no Alentejo: a revolução agrária 4.0 à volta do Alqueva», Miguel Morgado, Sapo, 24.02.2019, 13h31).

      Acho que sim, acho que estes termos deviam estar todos nos dicionários. Mas qual quê, nem sequer Cia., G3, 3G, 4G, etc., vemos dicionarizados. A locução é indústria 4.0, que, ao que parece, foi usada pela primeira vez em 2011 numa feira de Hanôver, na Alemanha, e se refere à quarta revolução industrial.

 

[Texto 10 873]

Léxico: «híbrido/hibridização»

E, contudo, são os mais falados

 

      «Não é por acaso que todos os construtores estão a trabalhar em versões híbridas dos seus modelos. Dentro de poucos anos, duvido que esteja à venda um carro novo que não tenha um qualquer grau de hibridização» («Esqueça os elétricos, o futuro são os híbridos», Francisco Mota, Targa 67, 22.02.2019).

      No Dicionário da Língua Portuguesa da Porto Editora, híbrido e hibridização ainda não têm uma acepção específica referente aos automóveis. Já vai atrasado.

 

[Texto 10 872]

Léxico: «cuca(s)»

Quase empatados

 

     «Pelo planalto [da serra da Freita] atravessado pela rota PR15, flores também há, algumas até raras e bem delicadas, como as “cucas” ou “martelinhos” (Narcissus cyclamineus), cujos bolbos “os antigos apanhavam para vender a dez escudos em molhos de 100”. Foi tal o excesso de colheita que a espécie está agora classificada como em perigo de extinção e gera autêntico entusiasmo quando um dos seus exemplares desponta mínimo entre ramos com cicatrizes dos incêndios dos últimos anos» («Se a neve não cai leve, levemente, pinta-se a serra de quartzo, certamente», Alexandra Couto, «Fugas»/Público, 16.02.2019, p. 17).

     Martelinho(s), nesta acepção, ainda o Dicionário da Língua Portuguesa da Porto Editora regista, para cuca(s) é que já não houve espaço. Outros dicionários seguem o mau exemplo. Agora que penso nisso, nem lelé da cuca está nos dicionários. Enfim, estão quase tantos dentro como fora dos dicionários.

 

[Texto 10 871]

Léxico: «Óscar»

Só se for no Brasil

 

      Talvez no Brasil se tenham de contentar (será mesmo assim?) com Oscar/Oscars, mas cá, pelo menos quem tem os pés assentes na terra e preza a língua escreve Óscar/Óscares: «Do ponto de vista do cinema, o melhor dos Óscares são alguns prodigiosos exercícios de montagem, geralmente retrospectivos do ano. Tudo o mais é espectáculo, e por vezes temos excelentes monólogos cómicos de Billy Crystal ou outros» (Fora do Mundo: Textos da Blogosfera, Pedro Mexia. Lisboa: Cotovia, 2004, p. 229). É certo que depois há — não há sempre em todas as áreas? — os que querem dar-se ares, e optam pelo inglês.

 

[Texto 10 870]

Léxico: «fundão»

Também é no mar, sim

 

      «Autoridade Marítima alerta ainda para a “morfologia alterada” pelo efeito da ondulação forte que se verifica normalmente neste período do ano, encontrando-se nelas fundões, declives acentuados, remoinhos e agueiros» («Tempo está a aquecer, mas “não vá a banhos” em “mar de inverno”», Rádio Renascença, 24.02.2019, 10h08).

      É óbvio que esta acepção de fundão não está nos nossos dicionários. Estamos a falar da orla marítima, não do alto-mar, atenção.

 

[Texto 10 869]

Léxico: «televoto»

Il voto così espresso

 

      «“Igual a Ti”, de NBC, foi o tema mais votado na segunda semifinal, com um total de 22 pontos — 10 pontos júri e 12 pontos do televoto. Em segundo lugar ficou Surma, com “Pugna” (18 pontos), seguida pelos Madrepaz, com a canção “Mundo a Mudar” (16 pontos)» («A caminho da Eurovisão: já estão escolhidos todos os finalistas do Festival da Canção», T. D., Sapo MAG, 23.02.2019, 23h20).

      Não está no dicionário da Porto Editora! Isto é grave. Está num bilingue, o italiano. Sendo assim, consultemos o dicionário do La Repubblica: «Nel corso di particolari trasmisssioni e concorsi televisivi, possibilità per il pubblico di esprimere il proprio voto da casa, per mezzo del telefono || Il voto così espresso».

 

[Texto 10 868]