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Linguagista

Léxico: «Hino Nacional»

Só a premissa está errada

 

      Está evidentemente errado afirmar que Hino Nacional é nome próprio e por isso se escreve com iniciais maiúsculas. Deve escrever-se com maiúsculas iniciais em certas circunstâncias, sim, mas não é nome próprio. A letra inicial maiúscula é utilizada nos substantivos que exprimem conceitos políticos ou religiosos de particular elevação, e daí Bandeira Nacional, Hino Nacional, República, Administração Pública, Igreja (a Igreja Católica, por exemplo, que, vá-se lá saber porquê, vemos demasiadas vezes no próprio dicionário da Porto Editora grafada «Igreja católica»), Deus, etc. No verbete hino, devia chamar-se a atenção para esta particularidade de uso.

 

[Texto 10 889]

Léxico: «meninada»

É lá possível

 

      Fôlego e paciência: «Fora Simão Noronha-Pereira o primeiro membro da família a ostentar sem pudor alguns dos costumes hebraicos da família, Simão, em missa de rogo para que a Virgem auxiliasse do Céu a comitiva macaense do jesuíta Joaquim Caetano a Pequim, teria gracejado para Diogo Vaz Bávaro, de pai alemão, convertido por oportunidade de negócio ao catolicismo, instalando-se em Macau como mercador de pergaminhos, carneiras e peles da China para a Índia portuguesa, que ter sido virgem Nossa Senhora parecia impossível, ele desconfiava, excessiva credulidade, só a meninada da doutrina na catequese podia acreditar em semelhante lhaneza, Diogo Vaz Bávaro, neófito na aprendizagem dos dogmas católicos, sentiu-se chocado, teve uma longa conversa com o padre Joaquim Caetano, que, recebedor dos óbolos dos Pereira [sic], sensato na interpretação da doutrina, se calou, falando em fanfarronadas de juventude, mas não esqueceu» (A Cidade do Fim, Miguel Real. Alfragide: Publicações Dom Quixote, 2013, pp. 125-26).

    Está bem, é muito, mas muito mais usado no Brasil — mas cá também é usado, caramba, e, contudo, o dicionário da Porto Editora só regista «meninência»! Apre!

 

[Texto 10 888]

Léxico: «porta-a-porta»

Dúvidas?

 

      «Ao encerrar o mês de janeiro, o município de Alvito, que no passado mês iniciou um projeto de recolha seletiva de lixo porta-a-porta, registou um acréscimo bastante significativo em todos os fluxos de resíduos recicláveis do concelho» («Lixo indiferenciado diminui 17% em Alvito com recolha seletiva porta-a-porta», Rádio Campanário, 25.02.2019).

      Porta-a-porta. Por qualquer estranho motivo, o dicionário da Porto Editora não o regista — ou será que a regista erradamente? É o que me parece: «porta a porta ao domicílio». A locução é porta a porta, sim: «Foi distribuindo os jornais porta a porta.» O substantivo/adjectivo é porta-a-porta: «Alguns municípios têm transporte porta-a-porta para apoiar a população idosa.» Dúvidas?

 

[Texto 10 887]

Léxico: «pendência»

Olha que não

 

      «Há umas semanas, durante uma audição no Parlamento, o ministro do Trabalho, Vieira da Silva, dava conta de algumas medidas que têm sido tomadas, nomeadamente o concurso externo que está a decorrer, o reforço do número de trabalhadores através de concurso interno e de prestação de serviços para o tratamento das pendências, ou criação de dois pólos do CNP em Aveiro e Braga (a que se juntará um novo em Leiria). Mas também avisou que os efeitos destas medidas na redução das pendências “não é imediato” e leva tempo» («Queixas sobre pedidos de pensões denunciam atrasos de dez meses», Raquel Martins, Público, 26.02.2019, p. 3).

      Não é, evidentemente, a acepção jurídica, por isso, Dicionário da Língua Portuguesa da Porto Editora, não a tens.

 

[Texto 10 886]

Léxico: «base»

Nas traduções, inúmeras vezes

 

      «O base Chris Paul tornou-se anteontem o oitavo jogador a atingir a marca das 9000 assistências na Liga Norte-Americana de Basquetebol profissional (NBA), no triunfo dos Houston Rockets sobre o Golden State Warriors (118-112). O jogador dos Rockets fez 17 assistências — melhor marca do ano — na partida em Oakland, na Califórnia, sendo o basquetebolista em actividade com mais passes decisivos» («Chris Paul é o oitavo jogador a chegar às 9000 assistências», Público, 25.02.2019, p. 47).

      Li pacientemente as tuas vinte e seis acepções de base, dicionário da Porto Editora, e não tens lá esta.

 

[Texto 10 885]

Léxico: «roboética»

Lê com mais atenção

 

      «O Papa Francisco recebeu esta segunda-feira em audiência os membros da Pontifícia Academia para a Vida, reunidos em assembleia plenária em Roma dedicada ao tema ‘Roboética: Pessoas, máquinas e saúde’» («Cimeira sobre roboética. Papa apela a “aliança ética a favor da vida humana”», Rádio Renascença, 25.02.2019, 14h13).

 

[Texto 10 884]

Léxico: «Padre da Igreja»

Só se for para confundir

 

      A patrística, diz o dicionário da Porto Editora, é a «parte da teologia que estuda a doutrina dos Santos Padres quanto à fé, à moral e à disciplina eclesiástica». É certo que o dicionário também acolhe a locução santo padre: «antigos escritores eclesiásticos que explicaram e defenderam a doutrina cristã». Contudo, como se dá o nome Santo Padre ao papa, não me parece nada boa ideia. Leio na Aleteia: «Chamamos de “Padres da Igreja” (Patrística) aqueles grandes homens da Igreja, aproximadamente do século II ao século VII, que foram no Oriente e no Ocidente como que “Pais” da Igreja, no sentido de que foram eles que firmaram os conceitos da nossa fé, enfrentaram muitas heresias e, de certa forma foram responsáveis pelo que chamamos hoje de Tradição da Igreja; sem dúvida, são a sua fonte mais rica. Padre ou Pai da Igreja se refere a um escritor leigo, sacerdote ou bispo, da Igreja antiga, considerado pela Tradição como uma testemunha da fé.» Se conseguirem explicar melhor, avisem-me.

 

[Texto 10 883]

Léxico: «ciborgue»

Deixou de ser hipotético

 

      «Edgar Pons aceitou submeter-se a uma intervenção e tornar-se um dos primeiros “ciborgues” do mundo. O jovem espanhol voluntariou-se para receber um implante de um chip na própria mão, em direto no palco de um congresso de start-ups, em Barcelona. O microchip permite concretizar tarefas básicas como abrir a porta de casa ou efectuar pagamentos, através do telemóvel» («Jovem “ciborgue” implanta microchip na mão e em direto», Rádio Renascença, 25.02.2019, 21h03, itálicos meus).

      O dicionário da Porto Editora acha que ciborgue é o «ser humano fictício cujas funções fisiológicas vitais são comandadas por meio de dispositivos mecânicos». Não é Edgar Pons que vem mudar as coisas — a definição de qualquer dicionário de inglês é diferente: «A fictional or hypothetical person whose physical abilities are extended beyond normal human limitations by mechanical elements built into the body.» Já deixou de ser hipotético.

 

[Texto 10 882]