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Linguagista

Mais «fatos» ortográficos

A língua vai nua

 

      Doravante, é possível apresentar queixas contra polícias no sítio do IGAI. Maravilha. Vejamos o que se diz ali: «Deve preencher (tendo em atenção os campos de preenchimento obrigatório assinalados com asterisco) o formulário da sua queixa/denúncia de forma completa e fundamentada indicando, sempre que possível, informação detalhada sobre os fatos e a entidade denunciada, o local onde ocorreram os fatos (morada e/ou outros pontos de referência), justificação do motivo de denúncia e outras questões relevantes.»

      Se não tivermos um curso de Corte e Costura, ou mesmo de Modelação, vai ser mais difícil. Não digo que a Administração Pública esteja cheia de semianalfabetos — mas os que, na Função Pública, escrevem são semianalfabetos, isso está fora de dúvida. Azar o nosso.

 

[Texto 10 892]

Léxico: «mandeu»

Surpresa nenhuma

 

      Ora, que grande surpresa que a tradutora não conseguisse verter Mandaean, se não está em quase nenhum dos nossos dicionários. É mandeu/mandeia (registem o feminino, ou dá bronca). Como também é mandeísmo, igualmente ignorado. E, contudo, todos estão no VOLP da Academia Brasileira de Letras. «A member of a Gnostic sect of Iraq and south-western Iran, who regard John the Baptist as the Messiah and stress salvation through knowledge of the divine origin of the soul» (in English Oxford Living Dictionaries). Vem do aramaico, a língua semita que Jesus — mera hipótese, julgo — falava. Naquele território e naquela época, século I, falavam-se quatro línguas: aramaico, hebraico, grego e latim.

 

[Texto 10 891]

Léxico: «sofia»

A solução não está no inglês

 

      É muito triste, mas é mesmo assim: porque não está em todos os dicionários (não a viu no dicionário da Porto Editora, mas não é, nem pouco mais ou menos, o único), a tradutora achou que a melhor opção era deixar no original inglês, Sophia. Enfim, uma profissional das letras, imagine-se agora o zé-povinho. Não, senhores lexicógrafos, senhores dicionaristas, sofia não é apenas o elemento de formação pospositivo, de origem grega, que exprime a ideia de sabedoria, ciência — é a própria ciência. Com maiúscula, a personificação da sabedoria. No VOLP da Academia Brasileira de Letras: ✓.

      Mas estou a ir demasiado depressa, muita coisa está a ficar para trás... Fica decretado um período irrevogável de acalmia de oito dias.

 

[Texto 10 890]