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Linguagista

Léxico: «disruptor endócrino»

A pedido de várias famílias

 

      «A investigadora Inês Paciência [do Instituto de Saúde Pública da Universidade do Porto (ISPUP)] explicou que o estudo, iniciado em janeiro de 2016, teve como objetivo “analisar o efeito dos disruptores endócrinos” (substâncias que provocam alterações hormonais no organismo e que estão presentes em alguns produtos de limpeza, mobiliário e construção de edifícios) em crianças entre os 7 e 12 anos» («Substâncias no ar das escolas podem potenciar asma e obesidade», Rádio Renascença, 28.02.2019, 9h47).

 

[Texto 10 906]

Léxico: «zero negativo»

Semelhante, mas não igual

 

      «As reservas de sangue do tipo zero negativo (conhecido por O negativo) estão em baixa. Em declarações à Renascença, a diretora do Centro de Lisboa do Instituto do Sangue e Transplantação revela que, neste tipo de sangue, o país só tem reservas para quatro dias. Este tipo de sangue – zero negativo – é um dador universal. Esta responsável apela aos cidadãos para “continuarem a colaborar no processo de dádiva de sangue”» («É dador universal? ​Instituto do Sangue precisa de O negativo», Rádio Renascença, 28.02.2019, 9h47).

      A razão do equívoco há-de encontrar-se na semelhança do 0 com o O. Daí a afirmar-se que são equivalentes, ambos legítimos, parece-me completamente desaconselhável. Se estivesse nos dicionários, que para isso servem, aconteceria muito menos.

 

[Texto 10 904]

Tradução: «bumper stop»

Se pode ser específico, prefiro

 

      «Uma discussão entre dois maquinistas esteve na origem da colisão de uma locomotiva contra uma barreira e subsequente explosão no Cairo. As autoridades registaram a morte de, pelo menos, 25 pessoas» («Egito. Discussão entre maquinistas na origem da colisão no Cairo», Rádio Renascença, 28.02.2019, 7h47).

      Alguma imprensa anglo-saxónica usa a palavra barrier; outra, porém, recorre ao termo bumper stop. Já aqui vimos que, tecnicamente, em português se diz cabeçote. Não deixa de ser uma barreira, sim, mas tem um nome específico.

 

[Texto 10 903]

Léxico: «complicómetro»

Desliguem-no

 

      «Deixe-se disso, homem!... Esta vida tem aspectos curiosos. Há coisas que deviam ser simples desde o princípio do mundo, como as ligações entre homem e mulher. De repente, não se percebe porquê, entra o complicómetro no circuito e aí está tudo ao invés, com reacções que fogem ao nosso entendimento...» (As Árvores Reverentes do Congo, Amadeu Ferreira. Braga: Editora Pax, 1967, p. 215).

      Usa-se todos os dias, e sabe Deus desde quando, mas lá ir para os dicionários é que já é outra conversa.

 

[Texto 10 902]

Léxico: «baquet»

Sièges baquet

 

      «Esta separação no campo do design não é tão evidente no habitáculo, onde é clara a aposta num caráter desportivo e moderno, marcado pelo desenho dos bancos tipo baquet e pelo grande ecrã central tátil de 10 polegadas, próximo da linguagem de design da SEAT» («O primeiro Cupra de raiz: o novo SUV Formentor», Rui Faria, Destak, 27.02.2019, p. 13, itálicos meus).

      Estão na moda, os carros mais ou menos desportivos são equipados com este tipo de assentos e, por isso, a palavra encontra-se cada vez mais. Nada que rale os nossos dicionaristas: nos dicionários bilingues, nem rasto. Valha, por todos (que são poucos), o Dicionário de Francês-Português da Porto Editora: «selha de madeira; baquet à vendanges selha de vindimas». E nada mais. No Trèsor, sem favor: «Siège bas et enveloppant, ressemblant à un fauteuil, employé dans les voitures de course ou de sport.» É que, como é habitual, vê-se muitas vezes mal grafado, com mais um c, «bacquet». Enfim, o desmazelo de sempre. Quanto aos dicionários, até parece que também neles há capelinhas.

 

[Texto 10 901]

O que por aí se inventa

Sem resposta

 

      «O sargento está desde então colocado no Laboratório de Análises Fármaco-Toxicológicas, situado nas instalações navais de Alcântara onde, na passada quinta-feira, ocorreu o caso de alegada “importunação sexual” sobre um candidato (maior de idade) que ali estava a pernoitar durante a fase de testes» («Sargento acusado de importúnio sexual foi punido há 19 anos por caso parecido», Manuel Carlos Freire, Diário de Notícias, 26.02.2019, 19h32).

      Nem encomendado! Na semana passada, uma brasileira mandou-me uma mensagem de correio electrónico em que me fazia uma pergunta sobre a tradução de uma frase em inglês. Na realidade, já era uma relação sólida: fizera-me dias antes outra pergunta também sobre tradução. Na segunda mensagem, uma das primeiras palavras que usou foi «importúnio». Perguntei-lhe onde desencantara ela a palavra. Epa! (interjeição brasileira que só encontramos no Dicionário de Neerlandês-Português da Porto Editora...), não me respondeu. E anda esta gente a escarafunchar em línguas alheias...

 

[Texto 10 899]