Deve estar a brincar
«Dos migrantes que estão a caminho dos Estados Unidos, cerca de 85% são das Honduras. Com 9,1 milhões de pessoas, a pobreza atinge 60% da população e 23% das crianças são subnutridas, atingido os 40% em alguns períodos, segundo dados das Nações Unidas» («À procura de uma vida melhor. Quem são os migrantes da caravana a caminho dos EUA?», Joana Bourgard, Rádio Renascença, 19.11.2018, 11h00).
Algum erro ali? (Bem, é verdade que tive de escolher bem o trecho, e mesmo assim...) Luiz Antonio Sacconi vê logo um, enorme: «Honduras é nome masculino, como bem se pode ver no Grande Dicionário Sacconi e em tantas outras obras enciclopédias sérias. Os jornalistas brasileiros, no entanto, quando da crise que abalou esse país da América Central, usaram mais de uma vez tal nome como feminino. Um exemplo disso ocorreu com o jornal O Globo, que trouxe este título: Honduras só não terá eleição se for “invadida”, diz Micheletti. Essa frase foi criada na redação, já que o ex-presidente hondurenho teria dito de outra forma, correta: “Haverá eleições presidenciais em novembro, a menos que nos invadam”. O jornalista, no entanto, ao tentar reproduzir a declaração, acabou se enlambuzando todo» (Não Erre mais!, Luiz Antonio Sacconi. São Paulo: Matrix Editora, 2018, pp. 36-37).
Não é coincidência: o Sacconi do livro é o mesmíssimo Sacconi do dicionário. Portanto, não há mais autores sérios. E que inaudita trapalhada é aquela de misturar a discussão do género com o número, singular ou plural? Livra! Confirmado: na página 1107 daquele dicionário (e persigno-me aqui), Honduras é masculino singular, «Honduras foi governado da Guatemala». Três Xanaxes, já. Por todos, Rebelo Gonçalves na página 538 do seu Vocabulário da Língua Portuguesa: «Honduras, top. f. pl. Loc. top. f. pl.: Honduras Britânicas.» Ia lamentar o Brasil, mas, vendo bem, também nós temos cá gente igualmente abstrusa e que vende livros. Uns a condenarem tudo, outros a desculparem tudo. Deixá-los.
[Texto 10 911]