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Linguagista

Léxico: «instalação»

Não me convence

 

      Há minutos, Paulo Portas, na rubrica «Global», na TVI, falou sobre a instalação, na AR.CO Madrid, que representa o rei Filipe VI (um ninot, como se diz em Espanha) com cerca de 4,5 metros. A questão é: trata-se mesmo de uma instalação? Tem elementos da instalação, sim. O dicionário da Porto Editora define bem instalação? Diz assim: «ARTES PLÁSTICAS obra de arte, geralmente uma construção ou um conjunto de materiais empilhados, em que o observador pode participar, manipulando-a, ou mesmo entrando nela». A meu ver, omite um elemento definidor da instalação, que é o tempo. Não só: a definição não é suficientemente abrangente, ou genérica, que englobe, por exemplo, uma instalação que consista na projecção de um vídeo.

 

[Texto 10 922]

Léxico: «lipoenxertia»

Sem objecções

 

      Disse-me que queria ir fazer uma lipoenxertia nos glúteos, porque traz resultados extremamente satisfatórios de imediato. «Como médica ou como paciente?», perguntei-lhe. A pergunta certa, porém, era esta: «Quanto custa?» Só agora, demasiado tarde, me lembrei do argumento decisivo: «Eh, pá, isso nem sequer está no dicionário da Porto Editora!»

 

[Texto 10 921]

Léxico: «caimita/cainita»

Nem rasto

 

      Está bem, relativo a ou próprio de Caim, filho primogénito de Adão, ou seus descendentes, também é cainita, mas, quanto a mim, é demasiado próximo do inglês. Prefiro caimita. Ora, nenhum deles está no dicionário da Porto Editora. E, assim, também não há rasto dos cainitas, uma seita gnóstica do século II que considerava o deus dos judeus o demiurgo do sistema gnóstico, um ente mau, e venerava todos aqueles que se lhe opuseram, como Caim, Coré, Esaú, Judas e os sodomitas. Enfim, cada um procura os da sua igualha. Como família numerosa que era, hoje em dia Adão e Eva viveriam dos abonos de família.

 

[Texto 10 920]

Léxico: «rato-cantor-de-alston»

E uma electromiografia

 

      «O estudo publicado na revista Science concluiu que é no córtex motor que se cruzam vários circuitos e que são estes juntos que formulam o ritmo das conversas. Para isto, os investigadores analisaram a interação entre ratos cantores machos de Alston (Scotinomys teguina), encontrados nas florestas tropicais da América Central e que são capazes de entoar quase cem notas audíveis para atrair as fêmeas. [...] Os ratos cantores foram escolhidos pela equipa de investigadores por terem um padrão de conversa muito similar ao dos humanos. Os animais foram expostos a um exame chamado eletromiografia, que analisou os sinais elétricos emitidos no cérebro dos ratos à medida que os músculos das cordas vocais se contraíam» («Ratos cantores ajudam a estudar o autismo», Diário de Notícias, 1.03.2019, 17h24).

      Este rato-cantor-de-alston (Scotinomys teguina) é um animal muito interessante, não há dúvida, só é pena não estar nos nossos dicionários. Mais comum é electromiografia, e também não a encontramos no dicionário da Porto Editora sem o Acordo Ortográfico de 1990.

 

[Texto 10 919]

Léxico: «ponta»

Anda de ponta

 

      E por falar em Conan Osíris. Ontem, depois da sua vitória no Festival da Canção, uma comentadora na Antena 1 exclamou, extasiada: «O João fez pontas!...» Bem, é verdade, o bailarino fez pontas — e o dicionário da Porto Editora nem tem palavras para o exprimir. Ficamos então a aguardar a 10.ª acepção. E lá se usou de novo a palavra televoto e aquele dicionário continua insensível, até parece que anda de ponta com a verdadeira língua.

 

[Texto 10 918]

«Quanto mais»

Nova tentativa

 

      Agora vou pôr Conan Osíris a ensinar umas coisinhas de português ao tal leitor com dificuldades de aprendizagem, coitado: «Desde 2014 que Conan coloca os seus álbuns na internet, mas o entusiasmo de alguns amigos durava já há anos, ainda no tempo do MSN era através do chat que partilhava canções com eles, “e depois iam-me pedindo para fazer coisas novas: há sempre aquele amigo que começa a ligar mais quando sais em todos os jornais de Portugal, e não é por mal. É uma coisa de contaminação subliminar que uma pessoa precisa de receber. Mas a minha mãe ficou chocada. Ela mal sabia que eu fazia música, quanto mais que já ia no terceiro álbum”» («Conan Osiris | Para dançar a melancolia», Tiago Manaia, Vogue, 17.05.2018).

 

[Texto 10 917]

Léxico: «bragançano»

Acabam com tudo

 

      «Ao longo dos últimos anos foi-se valorizando como uma das principais iguarias da gastronomia regional, normalmente servido com as ditas casulas ou cascas. “As cascas são os feijões-verdes que se colhem no verão e depois se poem a secar. Nós só trabalhamos com a variedade ‘feijão bragançano’ que tem menos fios”» («Caldo de cascas e butelo com cuscus», Afonso de Sousa, TSF, 1.03.2019, 18h25).

      Também conhecido por feijão-fartura, que é um feijão de trepar — está na boca dos falantes, na mesa, nos campos, mas não nos dicionários.

 

[Texto 10 916]

Pseudoterapias e dicionários

Só aquém-Badajoz

 

      O Governo espanhol identificou 73 pseudoterapias que se publicitam como produtos ou técnicas com efeito terapêutico, mas que não têm nenhum ensaio clínico, revisões ou meta-análises, como, por exemplo, a hidroterapia do cólon, e está a investigar outras 66, entre as quais a homeopatia e a acupunctura. Aguardo com grande expectativa. Esta classificação terá várias consequências, como se adivinha, como a sua proibição como técnicas terapêuticas, a erradicação dos hospitais, etc. Uma dessa lista é a iridologia, que o dicionário da Porto Editora define assim: «MEDICINA método de diagnóstico utilizado em medicinas alternativas que se baseia no exame da íris». Também está na lista a metaloterapia, que ainda me parece mais abstrusa e aquele dicionário acolhe: «sistema curativo pela aplicação de lâminas metálicas sobre a pele». Felizmente, muitas aquele dicionário nem sequer acolhe, pelo que vou, prudentemente, estar caladinho. Portanto, isto só é ciência aquém-Badajoz.

 

[Texto 10 915]