Lengalenga/lengalengas
Em terra de cegos
Ontem de manhã, José Carlos Trindade estava a divulgar um disco Antena 1, Canções de Roda, Lenga Lengas e Outras que Tais, um álbum que junta Ana Bacalhau, Vitorino, Sérgio Godinho e Jorge Benvinda para relembrar as canções da nossa infância. Escrevo-o tal como está na capa — errado. Ora, por duas vezes, e em momentos diferentes, José Carlos Trindade disse «lengas-lengas». Isto, que é lamentável, fez-me lembrar que, no Brasil, está agora a tomar força — incluindo em muitos dicionários — o uso do hífen nestes casos: «tim-tim» («contar tim-tim por tim-tim» — deixem-me enxaguar a boca com uísque velho), «cri-cri», «glu-glu», etc. Até os gurus (ou que o queriam ser) brasileiros da língua afiançam e ensinam que é assim: «Expressões onamotopaicas escrevem-se com o hífen, eis a razão.» Quem o estabeleceu, onde está escrito?
O que custava os nossos dicionários indicarem de forma explícita o plural de «lengalenga»? Nada, e contribuiriam para que se evitasse mais um erro, e não dos menores nem dos menos frequentes.
[Texto 10 924]