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Linguagista

Léxico: «Triângulo dos Corais»

Não é menos conhecido

 

      Está bem, agora a Infopédia já grafa correctamente Anel de Fogo do Pacífico, em tudo igual a Grande Barreira de Coral, que já acolhia, mas falta-lhe outro igualmente famigerado: o Triângulo dos Corais, uma rede de recifes que se estende pelas águas de seis países do Sudoeste Asiático e da Oceânia: Filipinas, Indonésia, Timor-Leste, Malásia, ilhas Salomão e Papua-Nova Guiné. Este ecossistema subaquático reúne um terço dos corais do mundo e uma ingente variedade de criaturas marinhas e não o registam?

 

[Texto 10 941]

Léxico: «terras raras»

Melhor e pior

 

      «Muitas vezes difíceis de extrair, as terras-raras são um grupo de 17 elementos químicos usados em smartphones, computadores, baterias de telemóveis ou turbinas eólicas. O mercado mundial de terras-raras é dominado pela China, que produz mais de 90% desses elementos. [...] A equipa irá testar ainda esta mistura de bioácidos em fosfogesso industrial (que é mais complexo) e noutros desperdícios gerados durante a produção de ácido fosfórico» («Há uma potencial nova fonte de terras-raras», Público, 6.03.2019, p. 31).

      É verdade que o dicionário da Porto Editora grafa — e bem — terras raras, sem hífen, mas o certo é que podia colher neste artigo elementos para melhorar, enriquecer a definição. E, naturalmente, registar os vocábulos bioácido e fosfogesso.

 

[Texto 10 940]

Cartuxos e cartuchos

Poucas leituras

 

      «São cotonetes, garrafas de água, restos de redes de pesca, bóias. Trinchas, escovas de cabelo, bonecas, escovas de dentes, lâmpadas, aplicadores de tampões. Cartuxos de caça, velas, coisas mais estranhas como dildos ou garrafas de soro — carga perdida de um contentor que tem aparecido desde a Galiza à costa Vicentina» («Este plástico que Ricardo tira do mar nunca mais voltará a ser lixo», Cristiana Faria Moreira, Público, 6.03.2019, p. 20).

      Cristiana Faria Moreira, mais estranho que dildos é aparecerem ali cartuxos. Poucas (ou más) leituras. É a segunda vez numa semana (!) que vejo o desconchavo na imprensa.

 

[Texto 10 939]

Léxico: «justicialismo»

Não é o que se vê

 

     Vejamos: «O ódio irracional está a sobrepor-se à argumentação. A despersonalização do juiz e a sua transformação num ser despido de direitos consagrados na lei estão a fomentar o justicialismo populista. A tolerância, ou o espírito e a substância do Estado de direito não existem neste comportamento de manada que reclama uma fogueira para fazer justiça» («Deixemos Neto de Moura desaparecer», Manuel Carvalho, Público, 6.03.2019, p. 6).

      Bem pode o dicionário da Porto Editora registar que justicialismo diz respeito apenas a Juan Perón.

 

[Texto 10 938]

Léxico: «escetamina/cetamina»

Sendo assim...

 

      «As autoridades de saúde norte-americanas aprovaram esta semana o lançamento de um novo antidepressivo, apresentado como revolucionário no tratamento da depressão grave, e que será comercializado sob a forma de spray nasal. Na terça-feira, a agência reguladora do medicamento dos Estados Unidos, a Food and Drug Administration (FDA), deu luz verde à venda de escetamina, “prima química” da cetamina, há muito estudada para o tratamento da depressão» («EUA aprovam spray nasal para tratar depressão grave», Rádio Renascença, 6.03.2019, 13h43, itálicos meus).

      Esta prima química da cetamina não está ainda nos dicionários, tanto quanto vi, e a própria cetamina não está no Dicionário da Língua Portuguesa da Porto Editora. Só o Dicionário de Termos Médicos acolhe uma irmã gémea — a quetamina. Ora, eu já aqui tinha chamado a atenção para esta falha.

 

[Texto 10 937]

Léxico: «multimorbilidade»

Muitas doenças, poucas palavras

 

      «Quase 40% dos portugueses com idades entre os 25 e 74 anos têm duas ou mais doenças crónicas, uma situação mais comum entre as mulheres e entre quem tem menos escolaridade. [...] Os chamados “doentes com multimorbilidade têm necessidades de saúde acrescidas, o que representa um ónus elevado para os cuidados de saúde”» («Quase 40% dos portugueses tem duas ou mais doenças crónicas», Nuno Guedes, TSF, 5.03.2019, 6h34).

 

[Texto 10 936]

Léxico: «siro-»

Fraco contributo

 

      O que escreveram aqui foi «sírio-egípcio», mas não — é siro-egípcio. Os lexicógrafos não saem daqui inocentados, pois no dicionário da Porto Editora, por exemplo, se acolhem «sino-, adjectivo elemento de formação de palavras que exprime a ideia de China ou chinês», não registam «siro-, adjectivo elemento de formação de palavras que exprime a ideia de Síria ou sírio», mas sim esta coisa assaz equívoca: «siro, adjectivo, nome masculino ver sírio». Não contribui muito, reconheçam, para que os falantes saibam como deve ser.

 

[Texto 10 935]

Léxico: «mucopolissacaridose»

Assim é que não

 

      «Com 1 ano, a pequena ‘Mél’, como é conhecida, sofreu uma convulsão de 45 minutos em que lhe detetaram amucopolissacaridose» («Mélanie precisa de dador», C. M. C., Correio da Manhã, 27.02.2019, p. 20).

      C. M. C., Casa Sonotone, já: é mucopolissacaridose. Se já é mau sofrer de uma doença destas, vê-la fora dos dicionários e mal grafada nos jornais também não é bom. Está no Dicionário de Termos Médicos, mas é quase uma monografia. Tem de se resumir a definição e pô-la onde sempre devia ter estado, no dicionário geral. Já agora, que estão com os dedos nas teclas (que espero limpem regularmente com jactos de ar comprimido e álcool isopropílico), dicionarizam o adjectivo lisossomal, pois aquela é uma doença do armazenamento lisossomal.

 

[Texto 10 934]

Léxico: «cura funcional»

Agora, só a explicação

 

      «O homem não identificado é conhecido apenas como o “paciente de Londres”, em parte devido às semelhanças entre o seu caso e o de um outro no qual foi observada uma cura funcional do VIH num homem americano, Timothy Brown, que ficou conhecido como o paciente de Berlim — o homem tinha sido submetido a um tratamento semelhante em 2007, na Alemanha, com resultados semelhantes» («Não é a cura, mas é um bom sinal. Registado segundo caso de “cura funcional” do VIH», Gonçalo Teles com Reuters, TSF, 5.03.2019, 00h38).

      Ouvi a expressão várias vezes na rádio, li-a em vários sítios — explicá-la é que ninguém acha que seja necessário, nem os dicionários. Estão todos enganados: já não precisamos de a ouvir mais, agora precisamos é que seja explicada.

 

[Texto 10 933]