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Linguagista

Léxico: «barjoleta»

Palavra do dia

 

      A palavra do dia, na Infopédia, é barjuleta. É bom lembrar estes termos mais esquecidos, mais desconhecidos, mas convém nunca deixar de registar as variantes, quando as há, como é o caso. Barjoleta: «Não tenho aqui que te dar: e não toques na barjoleta que vai matar a fome a pobrezinhos tolhidos, que não podem ganhar a vida. É sagrado o que aqui vai: não lhe toques!» (Lapinhas do Natal, Manuel de Boaventura. Braga: Editora Pax, 1964, p. 14).

 

[Texto 10 991]

Tradução: «bycatch»

Também temos

 

      «Portugal compromete-se ainda a reduzir a poluição marítima através do desenvolvimento de plataformas tecnológicas e ferramentas que promovam a economia circular do mar, a trabalhar a nível regional com a Convenção para a Proteção do Meio Marinho do Atlântico Nordeste para reduzir o lixo no Atlântico, a garantir a criação do Fundo Azul, e a reduzir as capturas acessórias até 17% do total do pescado até 2023» («Portugal vai entregar na ONU dez compromissos voluntários para conservação dos oceanos», Diário de Notícias, 7.06.2017, 7h23).

      Qual a melhor definição de captura acessória? Esta: bycatch — «the portion of a commercial fishing catch that consists of marine animals caught unintentionally» (in Merriam-Webster). Os nossos dicionários não se ralam com estas miudezas.

 

[Texto 10 990]

Léxico: «saraquité»

Não perguntem

 

      «Se, no primeiro álbum [dos Uxu Kalhus], as já muito conhecidas músicas tradicionais como ‘Malhão’, ‘Erva Cidreira’, ‘Mata Aranha’, ‘Saraquité’ ou ‘Regadinho’ adquirem uma dinâmica nova, com ritmos de bateria, baixos jazzísticos e arranjos com influências afro, ska, rock, drum and bass e hip-hop, no segundo trabalho, é aprofundado o folk nacional com originais do grupo para danças como ‘Vira’, ‘Corridinho’ e ‘Saias’» («Uxu Kalhus ao vivo na Praça da República», Correio da Manhã, 20.08.2011).

      A palavra é usada diariamente, de norte a sul do País, pelo menos nas escolas, pois, agora que a dança (!) faz parte do programa da disciplina de Educação Física, o saraquité é conhecido e usado por professores daquela disciplina e pelos alunos. E pelos Uxu Kalhus. Ainda ontem a minha filha me falou nela. Têm uma pergunta? Deve ser igual à minha: não se tratará do que sempre se conheceu por saricoté? Ah, pois, isso é que não sei.

 

[Texto 10 989]

Léxico: «snack-bar»

Puxem pela cabeça (só um pouco)

 

      O Dicionário da Língua Portuguesa da Porto Editora regista como estrangeirismo a palavra inglesa snack-bar, e grafa-a como tal, em itálico. Imprudentemente, não indica o plural. O plural é, como qualquer súbdito, ainda que bêbedo e semianalfabeto, de Sua Majestade sabe, snack bars. Ah, sim, isso é lá, não é? Cá é snack-bares. Estamos de acordo até este ponto? Então, não desfitem agora os olhos daqui: sendo assim, o que os nossos dicionários registam não é um anglicismo, mas um aportuguesamento, híbrido, está bem, como outros. Logo, tem de ser grafado como tal, sem itálico nem aspas: snack-bar/snack-bares.

      «Pedro nunca gostou de comer em snack-bares, a limpeza nunca é muita e nunca se sabe por onde passou aquilo que nos põem à frente, na mesa empenada que não pára de abanar» (Surdo, José Pinto Carneiro. Lisboa: Publicações Dom Quixote, 1999, p. 56).

 

[Texto 10 988]

Léxico: «papiamento»

Curaçau, aguenta

 

      «– Papiamento, uma língua crioula. Agora a minha avó, vítima de um derrame cerebral, fala papiamento na sua cadeira de rodas. Diz: Mi ta bai bon, danki. Sempre que a visito, pergunta-me: Kon boy ama? Kon ta bo nomber? Pergunta-me por um filho que não tenho. A primeira língua impõe-se sempre. Tenho uma prima que tem uma falha no lóbulo direito do cérebro e fala uma língua que ninguém entende» (Amar Numa Língua Estrangeira, Andrea Jeftanovic. Tradução de Maria do Carmo Abreu. Alfragide: Teorema, 2014, p. 55).

      O Dicionário da Língua Portuguesa da Porto Editora é que não sabe nada disto, não regista papiamento. (Os bilingues, atarantados, hesitam entre «papiamento» e «papeamento»...)

 

[Texto 10 987]

«Chegar a vias de facto»

Por via do AO90

 

      «Durante o embate entre o Inter e o Milan, que terminou com a vitória nerazzurri por 3-2, as câmaras captaram um desentendimento entre Kessie e Lucas Bligia, que estiverem perto de chegar a vias de fato não fossem os restantes colegas impedirem o ambiente de aquecer ainda mais» («Kessie e Biglia em discussão acesa no banco do Milan», A Bola, 18.03.2019, 00h02).

      Não se dizia dantes que se escrevia bem no jornal A Bola? Dizia, pois, mas isso foi já no século passado. Agora, por via do Acordo Ortográfico de 1990, é o que se vê.

 

[Texto 10 986]

Léxico: «sublongilíneo/mediolíneo»

Não apenas na medicina

 

      O serra-da-estrela, dizem os canicultores, é moderadamente longo (sublongilíneo), com tendência a mediolíneo. O molossóide do primo Jorge ainda é cachorro e por isso só quer brincadeira, sobretudo implicar sem descanso com a galguinha-italiana, a Cara, que, leve, o toureia agilmente. Entretanto, nos dicionários, nem sublongilíneo nem mediolíneo.

 

[Texto 10 985]

Léxico: «metropolitano»

É a oportunidade

 

      «O passe único terminará com as centenas de títulos combinados que existem atualmente para a utilização dos transportes coletivos e vai ter apenas duas configurações: o Navegante Municipal custará 30 euros, permitindo viagens dentro de cada concelho, e o Navegante Metropolitano custará 40 euros, permitindo deslocações nos meios de transporte públicos em toda a área metropolitana» («Está a chegar o passe único na Área Metropolitana de Lisboa. Governo assina hoje contratos», TSF, 18.03.2019, 7h33).

      Não é impressão, tenho mesmo a certeza de que os nossos lexicógrafos ainda não viram todos sentidos que a palavra metropolitano toma na nossa língua.

 

[Texto 10 984]