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Linguagista

Léxico: «esquerdização»

Assim como este

 

      «Miguel Morgado. O porta-voz do Movimento 5.7 defende uma união das direitas contra a “esquerdização” do país e acusa o primeiro-ministro de confundir “radicalismo” com “moderação”. Manifesto é divulgado no sábado» («“António Costa tem a posição típica do radical e extremista”», Helena Pereira e Eunice Lourenço (Renascença), Público, 21.03.2019, p. 10).

 

[Texto 11 008]

Léxico: «etnonacionalista»

Todo teu, Porto Editora

 

      «Desta vez, o assassino tem mesmo razão: o australiano que matou a tiro 50 pessoas numa mesquita neozelandesa — eu farei como Jacinda Arden [sic], a PM da Nova Zelândia: se é notoriedade que ele quer, nem o nome dele aqui inscreverei! — apresentou-se como “simplesmente um tipo branco, normal, de uma família normal”, “etnonacionalista” e “fascista”. É o que ele é» («“Um tipo branco, normal”», Manuel Loff, Público, 21.03.2019, p. 9).

 

[Texto 11 007]

Léxico: «judaica»

É judaica, como é camiliana

 

      «A mansão da família dela na Elizabeth Avenue, onde o casal vivera, mesmo defronte do parque, desde o casamento, em 1907, abrigava um acervo de Judaica que, dizia-se, se contava entre as mais valiosas colecções particulares do mundo» (A Conspiração contra a América, Philip Roth. Tradução de Fernanda Pinto Rodrigues. Revisão de F. Baptista Coelho, Lisboa: Publicações Dom Quixote, 2005, p. 47).

      Vejamos: no original — inglês, recorde-se —, está «Judaica». Está explicado porque aparece grafado com maiúscula na tradução. Talvez tenham mais desculpa de o grafar em itálico. E ainda assim... Judaica, lê-se no Collins, significa «books or artefacts of Jewish interest, esp as a collection». É, em tudo, semelhante a militaria: «items of military interest, such as weapons, uniforms, medals, etc, esp from the past». Contudo, nenhum deles difere muito dos nossos camiliana e camoniana, por exemplo. Logo, é eminentemente apropriável por nós — e não haja dúvida que nos faz falta e já por aí circula.

 

[Texto 11 006]

Léxico: «ferrarense»

Carrara, Ferrara

 

      «Contém muitas passagens que os ferrarenses suprimiram por motivos que suspeitamos: abreviar ou intensificar uma expressão, aguçar um conceito» (As Saudades da «Menina e Moça», Izabel Margato. Lisboa: Imprensa Nacional-Casa da Moeda, 1988, p. 28). ‎

      Nas obras de Umberto Eco também há ferrarenses. No dicionário da Porto Editora, e noutros, evidentemente, só ferreirense (relativo, pelo menos, a Ferreira do Alentejo ou a Ferreira do Zêzere). E, contudo, acolhe carrarense, com que jamais deparei. Diz-se, por exemplo, «mármore de Carrara» e não «mármore carrarense».

 

[Texto 11 005]

«Por que motivo», de novo

Os refolhos do espírito

 

      «— Um basilisco, senhora? E por que motivo, faz favor de me explicar, procuram um basilisco?» (A Princesa da Babilónia, Voltaire. Tradução de José Carlos Marinho. Lisboa: Editorial Inquérito, 1946, p. 230).

      Já tenho falado com incultos da área da edição (ponha aqui o leitor os pontos de exclamação que entender — pontos de exclamação que são autênticas bandarilhas que se vão cravar necessariamente em algum cachaço) que suspeitam que este «por que» é invencionice dos revisores dos nossos dias. Valha-nos Deus. Abram-me bem os refolhos do espírito.

 

[Texto 11 004]

Léxico: «chapa cinco»

Impressionante!

 

      «Não estou nada interessada numa dessas conversas de separação chapa cinco num lugar público. É o tipo de coisa que os homens imaturos fazem para se protegerem da histeria das mulheres imaturas. Jack, eu espero que nenhum de nós se encaixe nessa categoria» (A Mulher dos Cabelos Loiros e o Homem do Chapéu, Deborah McKinlay. Tradução de Helena Ruão. Alfragide: Edições ASA II, 2014, p. 193).

      Uma expressão que se usa diariamente de norte a sul do País, em vários contextos, e nem sequer um dicionário a regista. Impressionante.

 

[Texto 11 003]

Léxico: «caralho»

Então é isso

 

      «Na semana a seguir ao anúncio, Óscar Gonçalves, 42 anos, nem conseguia entrar na cozinha. “Uma pessoa fica assustada com o peso da responsabilidade”, diz o chef do G Pousada, restaurante de Bragança que ganhou em novembro de 2018 a primeira estrela Michelin para Trás-os-Montes. “Fartei-me de trabalhar para chegar aqui, sim, não vou mentir e dizer que não era isto que queria. Mas depois, quando aconteceu, fiquei paralisado. Ganhar é muito fixe”, diz com o sotaque e a convicção do Nordeste, “manter é que é o caralho”» («“Ganhar uma estrela Michelin é muito fixe. Mantê-la é que é o caralho”», Ricardo J. Rodrigues, Diário de Notícias, 9.03.2019, 6h20).

      Este caralho, que anda aí gostosamente na boca de toda a gente, está arredio dos dicionários. Vá agora um caralho um pouco diferente, e, o que é mais, literário: «“Este cabrão partiu-me o caralho do braço!”, exclamava o homem de nome Mike» (O Gerente da Noite, John Le Carré. Tradução de Sara Seruya. Alfragide: Edições Dom Quixote, 2016, p. 196).

 

[Texto 11 002]

Léxico: «zimbo»

Não é bem como o descrevem

 

      «Zimbo. Pequenos búzios cinzentos que eram [usados] como moeda de troca em quase toda a costa ocidental africana até ao início do século XX» («Uma visita guiada a Angola através do abecedário», Celso Filipe, Negócios, 4.03.2019, p. 14). No Dicionário da Língua Portuguesa da Porto Editora, «concha univalve que serve de moeda no Congo».

      Serviam ou ainda servem? Parece que ainda é assim na actualidade, ou até muito recentemente. Em quase toda a costa ocidental africana ou apenas no Congo? Em quase toda a costa ocidental africana. E o tamanho? É um búzio do tamanho de um bago de café. Uma coisinha assim.

 

[Texto 11 001]