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Linguagista

Léxico: «onocrótalo»

Só metade?

 

      O onocrótalo, ave aquática e palmípede, está na Bíblia, mas não no Dicionário da Língua Portuguesa da Porto Editora, que, mais próximo, só regista onocentauro — animal fabuloso, metade homem e metade asno. (Só metade porque é da fábula; alguns dos que todos conhecemos são completamente asnos e chamam-se homens.)

 

[Texto 11 022]

Léxico: «adusto»

Já o avô

 

      Na primeira reunião dos AA a que foi, disse logo que já o avô paterno, que não conhecera, mas cuja fama lhe chegara pela crónica familiar, tinha temperamento adusto. Foi isto mesmo que disse. Não vejo aquele sentido figurado — impetuoso, ardente — no verbete de adusto no Dicionário da Língua Portuguesa da Porto Editora, e seria útil. À noite, um ou outro AA poderia querer saber e consultar o dicionário.

 

[Texto 11 021]

Léxico: «copywriter/copyrighter»

All about Liane

 

      Aquela autora que acabei de citar, Liane Moriarty, nascida na Austrália, a Wook diz-nos que «antes de dar início à sua carreira de romancista, desempenhou funções de diretora de marketing numa editora de livros jurídicos e foi copyrighter numa agência de publicidade». Será verdade? Deixemos a autora dizer de sua justiça: «She eventually left her position as marketing manager of a legal publishing company to run her own (not especially successful) business called The Little Ad Agency. After that she worked as (a more successful, thankfully) freelance advertising copywriter, writing everything from websites and TV commercials to the back of the Sultana Bran box.» Então, que acham?

 

[Texto 11 020]

Léxico: «pavlova»

Universal — e nossa

 

      «— Se não der trabalho, seria ótimo — agradeceu Rachel. — Vou fazer uma pavlova para levar para o almoço em casa da minha nora no domingo de Páscoa, então um desses coisos para bolos vinha mesmo a calhar» (O Segredo do Meu Marido, Liane Moriarty. Tradução de Helena Ruão. Alfragide: Edições ASA II, 2014, p. 224).

      Há várias pavlovas nesta obra; no Dicionário da Língua Portuguesa da Porto Editora, nem uma. Não precisa de itálico, evidentemente. Já provei pavlova, pois claro. E até já tive uma vizinha de apelido Ivanova, uma ganda maluca, que só trago à colação pela rima e por ser verdade.

 

[Texto 11 019]

Léxico: «fasces»

Menos respeitinho

 

      «Os homens reunidos em Milão escolheram para os identificar um símbolo de origem etrusca, usado pelo Império Romano, associado ao poder e à autoridade. O nome latino deste símbolo é Fasces. O manifesto que aprovaram nesse dia tinha apenas 54 nomes, e nas eleições realizadas no outono passaram praticamente despercebidos[,] mas, foram só precisos dois ou três anos para que o movimento fascista crescesse e escolhesse Mussolini como líder» («Os homens que prometeram a Mussolini matar ou morrer pela Itália. Nascia assim o Fascismo», Margarida Serra, TSF, 23.03.2019, 13h16).

      Menos respeitinho, Margarida Serra: é simplesmente fasces (e fascismo), nome comum. E alguém me consegue explicar seriamente porque é que os nossos dicionários não referem, como o fazem o de outras línguas, que os fasces, na moderna Itália, foram usados como símbolo do fascismo? Até porque seria uma forma fácil de incutir alguma ideia etimológica em cabeças mais aéreas ou inexperientes.

 

[Texto 11 018]

Segundo-comandante/segunda-comandante

Tem dias

 

      Sabiam que Eva foi a primeira bacharela, visto que provou da árvore da ciência antes do marido? Atento o sexo e o estado do mundo naquelas recuadas eras, se tivesse o segundo lugar numa hierarquia de comando, seria o quê, primeiro-comandante ou primeira-comandante? «Patrícia Gaspar, segundo comandante nacional, em conferência de imprensa esta quinta-feira disse que os números definidos são apenas de “referência” e não justifica porque não se alterou o comando das operações no sábado, quando estavam reunidos os critérios, mas apenas na terça-feira» («Proteção Civil viola regra que criou após incêndio de Pedrógão», TVI 24, 9.08.2018, 12h03). Não queriam mais nada: então diz-se segunda-secretária, segunda-escriturária, segunda-oficial e depois dizia-se «segundo-comandante»? Entretanto, porém, parece que aprenderam qualquer coisa. E digo parece porque pode ter sido por acaso, como tantas, demasiadas, vezes. No Jornal das 8 da TVI, ontem, referiram-se a Patrícia Gaspar como segunda-comandante da Protecção Civil.

      Espera lá, há por aí dicionários que preconizam o contrário do que eu acabei de defender e me parece de uma clareza meridiana... Infelizmente, não nos permitem estabelecer nenhuma analogia mais evidente nem apanhá-los em contradição, pois não registam «segundo-secretário», «segundo-escriturário», «segundo-oficial», etc. Não têm razão. 

 

[Texto 11 017]

Léxico: «portão»

Sem comentários

 

      «De acordo com a legislação publicada em agosto do ano passado, todos os veículos de transporte com motorista alugados através de aplicativos de telemóvel das marcas Bolt, Cabify, Kapten, Uber e It’s My Ride devem ter o dístico TVDE. Este dístico deve estar colado no vidro ou portão traseiro, e deve ter as dimensões de 145 por 68 milímetros. O autocolante TVDE indica que o condutor do veículo foi certificado por uma entidade responsável pela formação dos novos condutores de transportes pessoais» («Sabe o que significa o dístico TVDE?», Motor 24, 22.03.2019).

 

[Texto 11 016]

Léxico: «policialização»

Está aí à vista

 

      «Bancada comunista recusa criação de uma entidade para a “policialização” da actividade política» («PCP está contra lei da fiscalização dos políticos», Sofia Rodrigues, Público, 22.03.2019, p 16).

      Policialização. Não é nada de novo, anda por aí há décadas, está em dicionários — mas à Porto Editora tem escapado sempre.

 

[Texto 11 015]