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Linguagista

Léxico: «folar de folhas»

De Olhão ou do Algarve

 

      «O folar de Olhão, também conhecido como folar de folhas ou folar do Algarve, é um bolo tradicional daquela região algarvia. O seu aspecto delicioso deve-se à composição em camadas cobertas por açúcar, manteiga e canela. Um folar de comer e chorar por mais» («Aprenda a fazer o delicioso folar de Olhão», Cristina Mendonça, Postal, 27.03.2019, 15h09).

      Nos dicionários, nada de nada. Não preservamos nada. Por falar noutra coisa: o Apple Pay vai chegar a Portugal graças ao N26, um banco 100 % digital, no qual acabei de abrir conta em escassos minutos. Vamos ver se a chularia bancária diminui um pouco.

 

[Texto 11 058]

Léxico: «certinho»

Betinho sem certinho

 

     «E pelo que ouvi dizer», confidenciava hoje de manhã a Saias à Boneca Velha, «ele sempre foi mais para o aventureiro que para o certinho, o que não deixa muito lugar para a esperança.» Não sei a quem se referiam. Vou estar atento, prometo, aos próximos episódios. Entretanto, o dicionário da Porto Editora, se regista — e bem, e bem — betinho, não acolhe certinho. Está mal.

 

[Texto 11 057]

Léxico: «chapadão»

Duas perdas

 

      «Irmã de triatleta revela que Rosa Grilo agrediu filho na prisão: “Deu-lhe um chapadão”» (Sol, 27.03.2019).

      A tiro, ao chapadão — mulher meiga, amorosa, mesmo quiducha. A Porto Editora, toda peace and love, escondeu o vocábulo chapadão num bilingue: slap; smack. Sendo assim, também não acolhe o brasileirismo homónimo. Duas perdas. Ah, esperem: regista bofetão. Mau, afinal, é violento.

 

[Texto 11 056]

Léxico: «farsi»

Um pouco estranho

 

      Já tenho perguntado a mim mesmo porque não acolhem os nossos dicionários a variante farsi, a língua do Irão moderno, e também falada no Afeganistão e Turquestão, leio na Grande Enciclopédia Portuguesa e Brasileira (que ontem vi à venda, nova, a 5 euros o tomo!). «E, com ajuda de mão amiga, preparei umas palavras em farsi: “Agradeço ao Irão a sua hospitalidade e espero que mantenha a sua fé.”» (Na Rua Árabe – Causas e Consequências das Revoltas no Médio Oriente, Nuno Rogeiro. Alfragide: Publicações Dom Quixote, 2011, p. 67).

 

[Texto 11 055]

Léxico: «toman»

Uma realidade diferente

 

      «“Recebo 2,5 milhões de tomans [pouco mais de 180 euros por mês; os preços no Irão não estão expressos em riais mas em tomans — 1 toman é igual a 10 riais], mas poderia ganhar muito mais se encontrasse um bom emprego relacionado com o meu curso”, explica ela» («Os meninos ricos da República Islâmica», Rohollah Faghihi. Tradução de Maria Alves, Courrier Internacional, Abril de 2019, p. 57).

      Isto é caricato: temos o nome da unidade monetária nos nossos dicionários, mas chegamos lá e, afinal, a realidade é um pouco diferente. Tanto nos podem pedir 4000 como 40 000 e tratar-se do mesmo valor! Moeda que, relembre-se, no início de 2018 perdeu dois terços do seu valor — nada que arrelie o típico aghazadeh. («O termo aghazadeh apareceu, pela primeira vez, no Irão nos anos 1990, para descrever os filhos de vários dirigentes corruptos, à medida que cresciam os rumores sobre o seu comportamento revoltante», lê-se no artigo supracitado.)

 

[Texto 11 054]

Léxico: «cabeçalho»

Não são títulos

 

      «Os cerca de 100 sinos do Palácio de Mafra, que nos últimos meses foram apeados pela primeira vez ao fim de 200 anos, começaram hoje a voltar aos seus lugares de origem da torre norte, depois de restaurados. O diretor da obra, Filipe Ferreira, afirmou hoje à agência Lusa que “os sinos da torre norte do monumento estão agora reparados, vão ter cabeçalhos novos em madeira e estão a ser de novo instalados para ficarem musealizados, já que apenas os da torre sul vão [voltar] tocar”» («Sinos do Palácio de Mafra voltam à torre norte», Rádio Renascença, 27.03.2019, 16h03).

      Desconhecido dos nossos dicionários. Acontece. É o cabeçalho ou cepo, peça de madeira ou de ferro que, ligada à asa ou cabeça do sino, serve para compensar o peso do sino quando a este é aplicado o movimento de vaivém.

 

[Texto 11 053]

Léxico: «biodiverso»

Faltava este, pois claro

 

      «“Tal como no Parque da Bela Vista, no Parque Urbano do Vale da Montanha as soluções adotadas passam pelo recurso ao prado biodiverso de sequeiro e a espécies arbóreas adaptadas às características do solo e clima desta zona, aumentando a sua resistência e reduzindo as necessidades de manutenção, nomeadamente de rega”, é explicado [numa nota enviada às redacções]» («Câmara de Lisboa inaugura Parque Urbano do Vale da Montanha na quarta-feira», Diário de Notícias, 20.03.2018, 19h47).

      Ai estas cabeças!... Então se temos agro-biodiversidade e agro-biodiverso, não havíamos de ter igualmente biodiverso, a par de biodiversidade? Creio que foi ainda na semana passada que li no Público a palavra, falava-se sobre «semear pastagens biodiversas».

 

[Texto 11 052]

Léxico: «chá de bebé»

Cor-de-rosa e não só

 

      «Depois de as amigas lhe terem organizado um luxuoso chá de bebé em Nova Iorque, Meghan Markle vai fazer uma festa semelhante em Londres» («Mais um chá de bebé em Londres», Correio da Manhã, 27.03.2019, p. 45).

      A imprensa cor-de-rosa delira com estas coisas, e usa com frequência esta expressão, talvez proveniente do Brasil. Ainda não chegou aos dicionários. No futuro, não haverá quem não tenha tomado chá em criança, não é?

 

[Texto 11 051]