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Linguagista

Léxico: «macroeconomista»

Não temos

 

      «Lino Fernandes, que foi durante 13 anos presidente da Agência de Inovação, uma entidade estatal que promove a troca de conhecimento entre a academia e a indústria, considera a automação “preocupante” para o número crescente de pessoas que poderá vir a ser afectado. “Os macroeconomistas e “tecnólogos”, baseados no conhecimento do passado, tendem a subestimar o problema, recomendando a actualização da formação. Mas é natural que a maioria das pessoas esteja assustada, até porque ouvem analistas e divulgadores afirmarem que agora ainda vai ter um impacto mais forte e mais rápido, devido à inteligência artificial”, refere Fernandes» («A revolução 4.0 traz promessas e perigos», João Pedro Pereira, Público, 2.04.2019, p. 32).

 

[Texto 11 100]

Léxico: «reprotóxico»

Nova e explicada

 

      «Outro exemplo incluído nesta lista de avaliações concluídas é o do N-ciclohexil-2-benzotiazol sulfenamida, um aditivo usado, segundo a ECHA [Agência Europeia para as Substâncias Químicas], nas indústrias de polímeros e plásticos, de pneus, de automóveis e de materiais de construção, no tratamento de madeiras, em têxteis, móveis, brinquedos, cortinas, calçado, produtos de couro, papel e cartão, nas tintas de equipamentos electrónicos e outros revestimentos. Trata-se de um “todo-o-terreno”, quase ubíquo, segundo a descrição, mas também está já identificado pelo seu potencial como cancerígeno, mutagénico e reprotóxico (com impacto no desenvolvimento fetal)» («Há dezenas de substâncias com riscos para a saúde à venda na UE», Abel Coentrão, Público, 2.04.2019, pp. 16-17).

 

[Texto 11 099]

Léxico: «foguetório»

Distraídos ou ocupados

 

      «Com Rui Rio metido na sua atalaia, António Costa vê-se obrigado a correr o país em defesa do seu mandato. Duvida-se de que a sua estratégia de estar em tanto lado em tão pouco tempo funcione. Os portugueses hão-de ver em tanto cerimonial um perfume de propaganda. Tanta inauguração e promoção hão-de causar mais saturação e desgaste do que envolvimento e apoio. Porque, para o senso comum, governar dispensa semelhante foguetório» («Um primeiro-ministro sem tempo para governar», Manuel Carvalho, Público, 2.04.2019, p. 6).

      Este sentido figurado de foguetório ainda não foi arrecadado pelos nossos lexicógrafos. Andam distraídos ou demasiado ocupados.

 

[Texto 11 098]

Léxico: «bebedouro»

Não percebo isto

 

      «A francesa Déthié Gueye tem a mesma opinião, mas menos tempo para conhecer a capital portuguesa. Veio de Marselha e tem apenas três dias para visitar Lisboa. É a sexta na fila do bebedouro público do jardim da Praça do Império, que fica em frente ao mosteiro. Parou para voltar a encher a garrafa de água, ajeitou o boné, repôs o protetor solar e está pronta para continuar. Próxima paragem: Castelo de São Jorge» («Calor. “É impossível fazer a vida normal do turista”», Rita Rato Nunes, Diário de Notícias, 3.08.2018, 21h53).

      E não está certo? Porque é que o dicionário da Porto Editora define então bebedouro como o «vaso ou lugar onde os animais bebem água»? Não lançou a Direcção-Geral da Saúde, ainda recentemente, uma campanha que pretende incentivar os cidadãos a fazer, nas redes sociais, um levantamento dos bebedouros do País?

 

[Texto 11 097]

Léxico: «nanofotónica»

Demasiado avançado

 

      «Em declarações à Lusa, Jana Nieder, que lidera o Departamento de Nanofotónica do INL [Laboratório Ibérico Internacional de Nanotecnologia, em Braga], referiu que as vesículas esféricas permitiram que o medicamento chegasse “em grandes quantidades” às células cancerígenas, com a droga a ficar “confinada nas vesículas durante um período prolongado”» («Novos compostos ‘made in Portugal’ transportam medicamentos contra o cancro», Rádio Renascença, 2.04.2019, 7h40).

      Isto é tão avançado, na verdade, que os nossos dicionários ainda nem sequer registam o termo nanofotónica.

 

[Texto 11 096]

Léxico: «lipossoma»

Definições amputadas

 

    «Os cientistas geraram em laboratório, a partir da síntese de moléculas derivadas de um composto orgânico, o aminoácido serina, lipossomas – pequenas vesículas esféricas que existem no organismo e que ‘transportam’ por exemplo moléculas que propagam o sinal nervoso nas células nervosas, sendo apontadas como um excelente veículo para a libertação controlada de medicamentos. Na sua constituição natural, os lipossomas são formados por camadas de lípidos (que são igualmente compostos orgânicos)» («Novos compostos ‘made in Portugal’ transportam medicamentos contra o cancro», Rádio Renascença, 2.04.2019, 7h40).

      Os nossos dicionários registam lipossoma, sim, mas na sua definição nem uma palavra têm para as funções. Uma definição amputada, de alguma maneira imprestável.

 

[Texto 11 095]

Léxico: «sapato de pala»

Uma pequena dificuldade

 

      Pala, lê-se no dicionário da Porto Editora, é a «parte do sapato que cobre o peito do pé». Sim, e a definição até é melhor do que a de outros dicionários, mas logo nos lembramos: e os sapatos de pala, como os definiriam? «É um modelo de sapato que é só mesmo enfiar o pé com a maior facilidade. Neste estilo também se encontram os mocassins, que são um género de sapato de pala» (O Diabo também Veste Zara, João Pedro Wanzeller. Lisboa: Guerra & Paz, 2008, p. 152).

 

[Texto 11 094]

Léxico: «bursa/bursite»

Custava assim tanto?

 

      Ontem critiquei de uma forma demasiado velada a definição de bursite no dicionário da Porto Editora: «inflamação (crónica ou aguda) de uma bolsa do organismo». O que eu devia ter dito é que o falante sem conhecimentos em medicina não saberá logo do que se trata. «Bolsa do organismo?», perguntará a si mesmo. Ora, a resposta está, evidentemente, no próprio dicionário, mas isso obrigaria a um retoque ínfimo: «inflamação (crónica ou aguda) de uma bursa, ou bolsa, do organismo». Estava lançada a pista para o falante. Ainda tem de se esforçar um pouco, sim, mas o caminho está aplanado.

 

[Texto 11 093]