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Linguagista

Léxico: «maricultura»

Basta estar atento

 

   «Durante a tarde está programada uma visita ao Centro de Maricultura da Calheta e uma audiência com o secretário regional de Agricultura e Pescas, Humberto Vasconcelos. O programa termina com encontros com as associações de agricultores e jovens agricultores da Madeira» («Deputados da Assembleia da República foram conhecer adegas do Vinho Madeira», Diário de Notícias da Madeira, 9.02.2019, 12h19).

      Maricultura. Nos nossos dicionários, nem rasto. E ainda hoje a ouvi no Portugal em Directo, na Antena 1.

 

[Texto 11 108]

Léxico: «lignito»

Podem fazer melhor

 

      «É oficial, já não há carvão na Alemanha. [...] O custo baixo de importação não compensa a produção própria e o país é rico em reservas de lignito, o chamado “cartão castanho”» («Alemanha fecha todas as minas de carvão, mas não a pensar no ambiente», Carolina Rico, TSF, 3.04.2019, 12h17).

      Apesar de ser de cor castanha ou preta, este carvão lenho-celulósico é designado carvão castanho, o que a definição dos dicionários devia mencionar, assim como os sinónimos/variantes. O dicionário da Porto Editora não apenas não faz isto, como nem sequer regista todas as designações usadas.

 

[Texto 11 107]

Léxico: «cardiotorácico»

Cinquenta anos depois

 

      «Foi em 4 de abril de 1969 que o cirurgião cardiotorácico norte-americano Denton Cooley colocou o primeiro coração artificial num doente — Haskell Karp, de 47 anos — como uma medida temporária até receber um coração de um dador» («Coração artificial começou ‘a bater’ há 50 anos numa intervenção com requintes novelescos», TSF, 3.04.2019, 11h45).

      Cinquenta anos depois, há por aí dicionários e vocabulários que não registam o adjectivo cardiotorácico, não é verdade? De «cardiotónico» saltam logo, precipitados, para «cardiotóxico».

 

[Texto 11 106]

Léxico: «pescada-prateada»

Assuntos domésticos

 

      O leitor não tem nada com isso, mas sempre lhe digo que para o jantar vou ter pescada-prateada (Merluccius bilinearis) com salada de feijão-frade. Talvez a Porto Editora se interesse por estes factos da minha vida privada, não? (Se se interessar mais pelos seus assuntos domésticos, digo-lhe apenas isto: Saarbrucken, 2; Saarbrücken, 1; Saarbrüken, 1.)

 

[Texto 11 105]

Léxico: «arritmogénico»

Que provoca arritmia

 

      «O cantor acabou por contar só muito mais tarde o episódio aos pais, uma vez que encontrava a dever ao dinheiro ao hospital. Foi aí que fez exames e chegou o diagnóstico em que confirmava que sofria de displasia arritmogénica do ventrículo direito» («Salvador Sobral faz revelações inéditas sobre a sua doença e casamento», Vanessa Jesus, A Televisão, 2.04.2019).

      Está, e bem, porque, afinal, se usa no dia-a-dia, em vários dicionários, mas a Porto Editora ainda não o dicionarizou.

 

[Texto 11 104]

Léxico: «conserveira»

Ainda não têm licença

 

      «Uma conserveira. Eis algo que Elend desejava ter na cidade. A tecnologia era recente — teria talvez uns cinquenta anos — mas ele lera sobre ela. Os eruditos consideravam que a sua utilidade principal era fornecer provisões facilmente transportáveis a soldados que combatiam nos limites do império» (O Poço da Ascensão, Brandon Sanderson. Tradução de Jorge Candeias. S. Pedro do Estoril: Saída de Emergência, 2015, p. 212).

      Ora, ora, também nós queríamos que se instalasse uma conserveira, uma fábrica de conservas (cannery, em inglês), no dicionário da Porto Editora, mas o processo é moroso, burocrático.

 

[Texto 11 103]

Léxico: «satanista»

A demoníaca ignorância

 

      Little Bear Schwarz, cantora operática nova-iorquina que padece de síndrome do ovário policístico desde os 14 anos, e por isso tem barba, pensava — com alguma razão, diga-se — que nunca iria casar. Depois de uma publicação no Facebook, porém, apareceu a sua cara-metade. Isto, que pode ser mentira, vinha anteontem no Correio da Manhã. A barba é real, o casamento é que não se sabe. «Rapidamente os dois se apaixonaram e no dia 24 de fevereiro ‘deram o nó’ numa cerimónia em que celebraram as religiões de ambos: a cristã e a satã. “O Tobias é um satanista, enquanto eu sou cristã, o que pode parecer que estamos num conflito um com o outro. Mas, na verdade, temos os mesmos códigos éticos — apenas os expressamos por meios diferentes”, explica Little Bear» («Mulher barbuda casa com homem que conheceu no Facebook», Correio da Manhã, 1.04.2019). «Satã» há-de ser para rimar com «cristã». Não temos tal adjectivo. Diz-se «religião satanista». A própria Little Bear Schwarz o escreve logo a seguir: «O Tobias é satanista». Satã é o mesmo que Satanás, o próprio Diabo, um nome próprio. E depois temos satânico, satanista e satanismo. Se dissessem que Mark Zuckerberg foi o padrinho, eu também acreditaria.

 

[Texto 11 102]

Léxico: «subconcessionar/doca seca»

Em seco

 

      «Ana Paula Vitorino, que falava nos estaleiros subconcessionados à empresa WestSea, do grupo Martifer, durante o lançamento do concurso para o aprofundamento do anteporto e do canal de acesso aos estaleiros navais e ao cais do Bugio, estimou ainda em 400 o número de postos de trabalho que serão criados “durante os 15 anos de vida útil da intervenção”. [...] Segundo a governante, a doca atual vai ser transformada em doca seca, permitindo receber navios com 200 metros de cumprimento [sic], maior boca (largura) e calado (profundidade)» («Dragagem de acessos a estaleiros de Viana gera 90 ME e mais de 400 empregos», Diário de Notícias, 27.02.2019, 16h21).

      Sabes o que é um anteporto, lá isso é verdade, Porto Editora, mas desconheces subconcessionar e doca seca.

 

[Texto 11 101]