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Linguagista

Léxico: «alburno/ablete/ictiofauna»

Não há desculpa

 

      «Composto por 16 tanques com 20 espécies autóctones dos rios Tejo e Zêzere, o Fluviário & Centro Interativo Foz do Zêzere abriu sábado ao público. Instalado no Centro Náutico de Constância, as espécies autóctones estão representadas pelo barbo, boga ou escalos. Quanto a espécies invasoras há carpas, alburnos ou pimpões» («Desfrutar dos rios», Paulo Fonte et al., «Sexta»/Correio da Manhã, 29.03-4.04.2019, p. 31).

      Confessa, Porto Editora, quanto à ictiofauna dulçaquícola, estás um pouco desactualizada, não é? Não conheces, por exemplo, o alburno ou ablete (Alburnus alburnus), espécie originária da Europa que foi introduzida em Espanha na década de 1990. Aliás, tu nem sequer conheces o termo ictiofauna, tarrenego!

 

[Texto 11 122]

Léxico: «Aromenos/Arromenos»

Escorraçados

 

      Por decreto do acaso, só pode ser, voltaram a cair-me no colo os Aromenos/Arromenos. Sim, numa apostila ao Ciberdúvidas, afirmei que nunca vira antes esta última grafia. Passaram uns anos e, se a não encontrei em dicionários, pelo menos numa edição do boletim A Bem da Língua Portuguesa tropecei nela. Isso torna-a mais legítima ou aconselhável? Menos não torna, mas o que esperava mesmo, passado tanto tempo, era que os nossos dicionários a registassem. Que diacho, é o nome de um povo da Europa! Disperso por aqui e por ali — Albânia, Bulgária, Grécia, República da Macedónia do Norte e Sérvia, e em comunidades emigrantes na Roménia, Alemanha, Austrália e nos Estados Unidos da América ­—, mas são um povo, sem Estado, mas um povo. Escorraçados dos dicionários...

 

[Texto 11 121]

Léxico: «Eoceno»

Num beco

 

      «Estas baleias de quatro patas, do período Eoceno (compreendido entre há cerca de 54 milhões e 34 milhões de anos), terão atravessado a nado o Atlântico Sul — na época a distância entre a costa africana a e a América do Sul era cerca de metade da atual — mas fizeram por terra, a caminhar, parte do percurso que as levou até às costas do Pacífico» («Baleias de quatro patas. Cetáceos chegaram ao Pacífico a nado... e a andar», Diário de Notícias, 4.04.2019, 18h42).

      Procurar saber no dicionário da Porto Editora quando ocorreu o Eoceno é tarefa destinada ao fracasso: de remissão em remissão, esbarramos no nada, Eoceno → Eocénico → Paleogénico → Numulítico, etc. ↓↓↓↓↓↓

 

[Texto 11 120]

Léxico: «sobremordida»

Eh, brutos

 

      Por coincidência, no mesmo dia... Vai ter de usar, talvez durante dois anos, aparelho ortodôntico para corrigir a sobremordida, uma maloclusão. (Duas horas para darem um orçamento que ninguém pediu...) Sim, Porto Editora, tens sobremordida e maloclusão, mas quanto à primeira exageras largamente: «situação em que os dentes anteriores superiores recobrem a quase totalidade dos dentes inferiores». Aponta aí: um trespasse vertical acima do normal (superior a 2 mm), e já estamos perante sobremordida.

 

[Texto 11 119]

Léxico: «duociclo»

Duas, mas paralelas

 

      «Um dos pontos que os responsáveis da Airwheels mais destacaram foi o da possibilidade de retirar a bateria dos duociclos (duas rodas paralelas) e trotinetes para os utilizar como power banks ou para os carregar em casa ou no escritório. Regra geral, a grande maioria dos dispositivos tem um tempo de carga de três horas, sendo que a mais demorada no carregamento é a bateria de 680 Wh do duociclo S5, um dispositivo de carácter ‘off-road’ que leva quatro horas a carregar e que tem uma autonomia de 55 quilómetros. Esta S5 tem um preço de 2099€» («Airwheel: Reinventar a mobilidade sobre rodas (sentado ou em pé)», Pedro Junceiro, Motor 24, 4.04.2019).

      Não vejo a palavra em mais lado nenhum, mas faz sentido. Se o uniciclo é o veículo de uma só roda, o duociclo — em tudo o mais igual — é o veículo com duas rodas, mas dispostas em paralelo, como o jornalista assinala, ou alguém lembraria que já temos «bicicleta». Muito bem.

 

[Texto 11 117]