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Linguagista

Léxico: «ecofascista»

Com décadas

 

      «Assim, no passado, recuamos, naturalmente, ao século XIV, com a intriga na alta esfera do reino e uma certa crueldade instituída. No presente, descobrimos o drama no seio de uma conceituadíssima família de arquitetos. E o futuro leva-nos para um cenário fantasioso, de uma comunidade “ecofascista”, com regras e preceitos rígidos, bem como uma forte intolerância para quem ousa subvertê-los. António Ferreira soube adaptar cada um dos tempos com segurança, de forma a manter as situações credíveis, nunca se desviando do espírito original do episódio» («“Pedro e Inês”, no cinema: O Romeu e Julieta a que temos direito», Manuel Halpern, Visão, 21.10.2018, 7h10).

      Agora não surpreende que seja usado, mas, na verdade, já o podemos encontrar no início (!) da década de 1970. Não deparei com ele em nenhum dicionário.

 

[Texto 11 131]

Léxico: «parolim»

Il doppio della posta

 

      «Uma noite destas, assistindo eu numa partida um jogo de banca, houve um parceiro que, apontando, pôs um bilhete dobrado sobre uma carta, dizendo que era de cinco mil réis. E ganhando com ele alguns parolins, no fim da noite, o banqueiro, desconfiando já do tal bilhete lançou de repente mão dele e, desdobrando-o, achou-se com um registo» (O Almocreve de Petas e Outras Prosas, José Daniel Rodrigues da Costa. Prefácio, leitura de texto e notas de João Palma-Ferreira. Lisboa: Estúdios Cor, 1974, p. 127).

      Parolim. Na Infopédia, está apenas em dois bilingues, como se não precisássemos de saber o significado.

 

[Texto 11 130]

Léxico: «sobre-remuneração»

Abundam, agora

 

      «“A sobre-remuneração constituída na atribuição dos contratos de aquisição de energia (CAE) à EDP e mantida pelos CMEC deve ser revista para o período remanescente deste regime [em vigor até 2027]”, sugere o relatório preliminar da comissão, cujo relator é o deputado do Bloco de Esquerda Jorge Costa» («Sobre-remuneração dos contratos com a EDP deve ser revista», Rádio Renascença, 6.04.2019, 22h01).

      Temos visto, nos últimos tempos, várias palavras com este elemento de formação, que, a meu ver, podia estar mais bem definido no dicionário da Porto Editora: «elemento de formação de palavras, de origem latina, que exprime a ideia de posição superior, por cima, e se liga por hífen ao elemento seguinte quando este começa por h».

 

[Texto 11 129]

Léxico: «lucioperca»

Como este

                  

      «E agora, já podemos comer o peixe e a lampreia do Tejo? “Eu como”, afirma, convicto, o pescador. “E digo-lhe que estive 11 meses sem ir à pesca, apesar de nunca ter havido proibições. Eu é que via que a água não estava em condições. Foram 11 meses sem deitar uma rede ao rio e sem se ganhar nenhum dinheiro. Foi complicado”, relembra. E como diz Francisco, “para se estragar tudo, bastam dois ou três dias, para recuperar leva anos. Há espécies de peixes que praticamente desapareceram do rio, como as bogas, o peixe-rei ou os góbios. Só cá estão os mais resistentes, como o barbo e a carpa e pouco mais. Agora há as espécies novas como o siluro, o lucioperca e o alburno”» («Ortiga/Mação: “Só temos esta maneira de fazer lampreia e não queremos outra”», Patrícia Seixas, Antena Livre, 14.02.2019).

      Esta é uma das grandes falhas dos nossos dicionários, nomes comuns da fauna e da flora. O alburno vimo-lo anteontem. Ei-lo hoje aqui de novo. Até um simples pescador sabe! O lucioperca ou sandre (Sander lucioperca), por exemplo, nem rasto dele no dicionário da Porto Editora. Sandre, contudo, vamos encontrá-lo num bilingue, o de alemão-português, mas, não estando registado no dicionário geral da língua, é em parte inservível.

 

[Texto 11 128]