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Linguagista

Léxico: «acabou-se a papa doce»

Trapalhões

 

      «Transferências por MB Way: acabou-se a pera doce», titula a edição de Março/Abril da Dinheiro & Direitos, uma das revistas da DECO. Também lá têm confusionistas, está visto. Misturam duas expressões, rapaziada: ser pêra doce e acabou-se a papa doce. Logo por azar (mas o motivo há-de ser outro qualquer), o dicionário da Porto Editora só regista a primeira, contribuindo assim, por omissão, para mais um erro.

 

[Texto 11 139]

Léxico: «intrincância»

Era escusado

 

      «[Jan] Six dirigiu a sua atenção ao rendilhado no colarinho. A renda era um sinal de estatuto no século XVII, e Six acredita que Rembrandt tinha uma forma característica de mostrar aquele género de renda, tipo renda de bilros. Outros artistas do período executavam laboriosamente as suas intrincâncias pintando a branco por cima do casaco» («Rembrandt no sangue», Russell Shorto/The New York Times. Tradução de Luís M. Faria, «Revista E»/Expresso, 6.04.2019, p. 47).

      No original, está intricacies, qualquer coisa como «pormenores», mas o tradutor achou melhor complicar. Qual é o problema? Só um: nas minhas leituras ao longo dos anos, pouquíssimas vezes deparei com a palavra e só num dicionário — que em Portugal pouca gente conhece ou possui — a encontrei registada.

[Texto 11 138]

Léxico: «subministro»

Muito a tempo

 

      «Os ministros, os subministros e os conselheiros de Estado incumbidos de desenvolver ou sustentar alguma proposta do Governo poderão tomar parte nos debates, mas não na votação» (Projecto de Código Político para a Nação Portuguesa, Silvestre Pinheiro Ferreira. Paris: Rey & Gravier, 1838, p. 211, actualização ortográfica minha).

      Os nossos lexicógrafos já não vão a tempo de se mostrarem teimosos com Silvestre Pinheiro Ferreira; este, porém, ou o seu legado, ainda está muito a tempo de lhes ensinar que subministro não é somente forma do verbo «subministrar».

 

[Texto 11 137]

Léxico: «ciberincidente»

Há mais

 

      «O facto de existir hoje “um Centro Nacional de Cibersegurança (CNCS) vocacionado para a reação a ciberincidentes”, um “Centro de Ciberdefesa operacional desde 2015” e “uma unidade na Polícia Judiciária dedicada a combater o cibercrime e o crime tecnológico”, que trabalham com “as respetivas redes internacionais”, tem concorrido para a diminuição desta ameaça, argumenta a mesma fonte» («Governo desdramatiza críticas sobre alegada fragilidade dos sistemas informáticos do Estado», Miguel Santos Carrapatoso, Expresso Diário, 2.04.2019).

 

[Texto 11 136]

Léxico: «biologizante»

Pode correr mal

 

   «Tenho alguns receios, claro — de apropriação para uso discriminatório e racista, recuperando velhas justificações biologizantes, sem fundamento, para situações de desigualdade [afirma Jorge Malheiros, do Instituto de Geografia e Ordenamento do Território (IGOT), Universidade de Lisboa, a propósito do trabalho Censos 2021 — Questões Étnico-Raciais]» («As cores do rosto de Portugal vão começar a surgir no próximo Censos [sic]», Christiana Martins, Expresso Diário, 4.04.2019).

 

[Texto 11 135]

Léxico: «microassunto»

Para seguir

 

      Vamos mantê-lo debaixo de olho: «Ontem morreu um homem sábio. E num mundo em que os académicos só sabem cada vez mais de microassuntos e nada sabem sobre o resto da vida e da sociedade, Jorge de Sá, que foi meu professor há 30 anos, era um caso raro de sabedoria» («Um sábio», Armando Esteves Pereira, Correio da Manhã, 5.04.2019, p. 29).

 

[Texto 11 134]

Léxico: «crepioca»

Em forma

 

      É uma amálgama que se vai vendo com alguma frequência: «Se é guloso, fanático por doces, e quer perder peso, o truque passa por começar o dia a ingerir ovos. As ‘crepiocas’ (crepes com farinha de tapioca) são a proposta da especialista [nutricionista Mafalda Rodrigues de Almeida]» («Chegue à praia em forma», Miguel Balança, Correio da Manhã, 5.04.2019, p. 24).

 

[Texto 11 133]

Léxico: «pisão»

Agora uma do dia-a-dia

 

      Então, se ecofascista é demasiado rebuscado, vejamos outra, e esta do dia-a-dia, que não está no dicionário da Porto Editora: «Socos, pontapés e pisões em várias partes do corpo» («Sovado por 100 mil € e deixado à morte», Sérgio A. Vitorino, Correio da Manhã, 5.04.2019, p. 12).

 

[Texto 11 132]