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Linguagista

Léxico: «obreiro»

Discretos

 

      «A carta da Loja Abade Correia da Serra faz uma crítica ao actual grão-mestre que vai muito além do jantar do IAC. Como se lê na carta, a que o Público teve acesso, os “obreiros verificam, com algum desconforto, que existem alguns pontos de sombra na actuação interna e externa dos órgão de soberania do GOL que gostariam de ver esclarecidos”» («Como Manuela Eanes está a dividir a maçonaria», Ana Sá Lopes, Público, 9.04.2019, p. 12).

      No caso, deduz-se perfeitamente o que significa obreiro — que os nossos dicionários, numa espécie de cartelização da ignorância, não acolhem —, mas poucas vezes os jornalistas descem à insignificância de explicar ao leitor uma palavra ou expressão mais invulgares. O que acataram prontamente foi o recado de que não devem afirmar que a maçonaria é uma sociedade secreta. Não, é uma sociedade discreta. Discreto sou eu.

 

[Texto 11 147]

Léxico: «folar»

Capital do Folar

 

      «Por altura da Páscoa não há casa transmontana que não o tenha à mesa. O folar da Páscoa, uma espécie de bolo, é feito com ovos, farinha, azeite e várias carnes como presunto, salpicão, linguiça e carnes de porco. Não leva açúcar e é atualmente um produto muito procurado e apreciado. [...] Trata-se de um produto “barato”, diz Amílcar Almeida [presidente da Câmara Municipal de Valpaços], realçando que é o “único que dá para alimentar uma família por apenas 10 euros”» («Não há Páscoa sem folar. E o de Valpaços é único», Olímpia Mairos, Rádio Renascença, 9.04.2019, 9h46).

      Não quero ser desmancha-prazeres, mas tenho de avisar que este tipo de folar não cabe em nenhuma das acepções do dicionário da Porto Editora. Noutros dicionários, optaram por definições tão genéricas, que passam, embora sem distinção.

 

[Texto 11 146]

Léxico: «talha/talhamento»

Outro esquecido

 

      «Nela Estêvão da Guarda, que diz ter sido alertado por um certo “D. Foan”, acusa D. Josep de favoritismo na aplicação da talha (imposto proporcional sobre os bens) a um outro judeu» (A Sátira nos Cancioneiros Medievais Galego-Portugueses, Maria da Graça Videira Lopes. Lisboa: Editorial Estampa, 1994, p. 284).

      É um dos mais importantes impostos do Antigo Regime, que sucedeu à capitação do Império Romano. No dicionário da Porto Editora, nem vestígios.  Noutros, pessimamente definido. Quando lemos Rousseau, Voltaire, etc., deparamos sempre com ele. Se os dicionários não socorrerem os falantes, e não somente com o registo dos termos, mas com a sua definição precisa, estaremos mal.

 

[Texto 11 145]

Léxico: «actinobactéria»

Mas devia estar em todos

 

      «A investigação incidiu numa espécie de alga comum na costa portuguesa, a ‘Laminaria ochroleuca’ (algas castanhas de grandes dimensões), e num tipo de bactéria específico, a actinobactéria. “Focámo-nos na comunidade de bactérias ligadas a estas algas, as actinobactérias, que estão muito ligadas à produção de compostos conhecidos para antibióticos”, explicou a investigadora [Maria de Fátima Carvalho], do Centro Interdisciplinar de Investigação Marinha e Ambiental (CIIMAR), que funciona em Matosinhos» («Estudo português conclui: Algas podem gerar poderosos antibióticos e combater cancro», Rádio Renascença, 9.04.2019, 7h24).

     «A palavra pesquisada não foi encontrada neste dicionário.» Foi encontrada noutros.

 

[Texto 11 144]

Léxico: «transcraniano»

Quase dois anos volvidos

 

      «Com recurso à eletroencefalografia (EEG), que teve como fim monitorizar a atividade cerebral, e à estimulação transcraniana por corrente alternada (tACS), os cientistas estimularam os cérebros de ambos os grupos e conseguiram modular as interações das ondas cerebrais ligadas ao funcionamento da memória de trabalho» («Recuperar a memória perdida pode estar ao alcance de um pequeno estímulo elétrico», Dora Pires e Gonçalo Teles, TSF, 8.04.2019, 23h04).

      De quando em quando, lá nos aparece. Há já 621 dias que eu aqui o tinha sugerido para dicionarização. Em vão.

 

[Texto 11 143]

Léxico: «plânula»

Ciência mutilada

 

      «Essa relação é conhecida como “recrutamento de larvas”. Simplificando, neste processo, os corais reproduzem-se através da produção de larvas designadas plânulas. Depois, essas larvas dispersam-se no plâncton até colonizarem o recife. No final, darão origem a novos corais» («Alterações climáticas impedem recuperação da Grande Barreira», Teresa Sofia Serafim, Público, 8.04.2019, p. 37).

 

[Texto 11 141]

Léxico: «subfilo/apicomplexa»

Apetites e faltas

 

      «“Descrevemos o corallicolid como uma linhagem distinta que abrange várias espécies e géneros de organismos como o gemmocystis”, explica Waldan Kwong, da Universidade da Colúmbia Britânica (Canadá) e primeiro autor do artigo. A sua equipa usou diferentes métodos genómicos e microscópicos para perceber melhor que organismo é este. E o que é? É tão minúsculo que não se vê a olho nu, está nos tecidos dos corais e pertence a um vasto grupo de parasitas chamado “apicomplexa”: o seu elemento mais famoso é o parasita responsável pela malária» («O organismo que produz clorofila sem fazer a fotossíntese», Teresa Sofia Serafim, Público, 8.04.2019, p. 37).

      Até pode não vos apetecer dicionarizar apicomplexa, para pormos assim a coisa no plano dos apetites, como se falássemos de uma crepioca, mas não compreendo a ausência de subfilo.

 

[Texto 11 140]