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Linguagista

Léxico: «buraco negro»

A sombra de um buraco negro

 

      Há dois dias que estou a pensar nisto (com intervalos para comer, dormir, passear, conversar, descansar, etc.): como definir buraco negro? O dicionário da Porto Editora define-o como a «região do Universo, compacta e maciça, cujo campo de gravitação é tão intenso que nem a luz nem qualquer outra forma de radiação pode escapar-se do seu interior». Eu sempre o vi como uma coisa — um objecto. Ter agora visto a sombra de um buraco negro não veio mudar em nada a minha percepção. Ora, é justamente como objecto cósmico extremamente comprimido e com uma grande massa num espaço muito reduzido que está a ser definido em artigos que se debruçam sobre a matéria. Gostava de conhecer a vossa opinião.

 

[Texto 11 162]

Léxico: «Cia.»

Não compreendo

 

      Texto de apoio da Infopédia sobre Gottlieb Wilhelm Daimler: «Engenheiro alemão, nasceu em 1834 e faleceu em 1900. Ganhou experiência com motores trabalhando em diversas firmas. Em 1882, fundou com Maybach uma firma própria. Dedicou-se à conceção de um motor de combustão leve e eficiente, cujo modelo inicial, construído em 1883, foi seguido por outros, aplicados em barcos (1886), veículos sobre carris (1887), dirigíveis (1888), aviões (1901), etc. Desta forma, o seu esforço acabou por culminar num veículo de quatro rodas desenhado desde o início como um automóvel, construído em 1899. Após a morte de Daimler, a sua empresa continuou a fabricar veículos automóveis com a marca Mercedes, até à sua fusão com a Benz & Cia. em 1926, dando origem à Daimler-Benz.»

      The best or nothing — devia ser o lema de todos, sem excluir os lexicógrafos. Então se até usam a abreviatura Cia., há alguma razão para se recusarem a dicionarizá-la? Essa é boa! Não compreendo, por mais que queira.

 

[Texto 11 161]

Léxico: «preconceito/pré-conceito»

Não deixa de ser anómalo

 

      «Vamos lá ver, vou dividir a resposta em três partes. A primeira parte é reconhecer que toda a gente tem preconceitos, toda a gente. Isto parece uma verdade de La Palice mas, às vezes, as pessoas esquecem-se. Quando estão a falar dos preconceitos dos outros, esquecem-se que também os têm. Toda a gente tem preconceitos ou tem pré-conceitos, o seu modo de ver a vida, o seu círculo de linguagem... [afirma o advogado Rui Patrício]» («“Não sinto que os juízes sejam especialmente machistas. Acho que a sociedade é mais”», Marina Pimentel, Rádio Renascença, 11.04.2019, 9h15).

      Não sou o primeiro a estranhar que nenhum dicionário, daquém e dalém-mar, registe o vocábulo pré-conceito — que, afinal, se usa e é passível de clara distinção do vocábulo preconceito.

 

[Texto 11 160]

Léxico: «estadiómetro»

Rápido

 

      «A NOP [norma de orientação profissional] estabelece que a consulta se deve realizar num gabinete que garanta a necessária privacidade e confidencialidade do doente. Do mesmo modo que deve ser assegurada a disponibilização de equipamentos como a balança, o estadiómetro ou a fita de antropometria. O atendimento será baseado no modelo do “Nutrition Care Process”, com quatro fases» («Definidas regras para consultas de nutrição», João Moniz, Destak, 11.04.2019, p. 4).

      Porto Editora, vai, corre a comprar um estadiómetro para as consultas desta tarde. Pode ser um Seca 264.

 

[Texto 11 159]

Léxico: «galeota»

São larvas, senhores

 

      «Não se sabe como chega a galeota – nem importa saber –, até porque, não sendo proibida a apanha, não se pode já dizer o mesmo em relação às artes tradicionais usadas pelos pescadores para a poderem recolher em quantidade. E são divinas estas larvas do lingueirão que a partir de meados de Março povoam o fundo da ria [de Aveiro]. Um petisco único, de sabor no, intenso e delicado» («As coisas divinais que a ria de Aveiro nos dá», José Augusto Moreira, «Fugas»/Público, 30.03.2019, p. 26).

      Não é, evidentemente, a galeota do dicionário da Porto Editora, um peixe teleósteo.

 

[Texto 11 158]

Léxico: «glauca/carrondo»

Destinadas ao esquecimento

 

      «“A escassez”, repete, “determinava os pratos. Assim como o nossa vida”. “Pouca cama, pouco prato e muita sola de sapato”, sublinha Josefina, sempre sorridente. Diz que em Penha Garcia não havia guloseimas. “Não as havia a vender”, lembra. Comia-se as pétalas da flor de marmeleiro, a chamada glauca, assim como as pétalas das estevas e das xaras com pintas vermelhas (dizia-se que eram as chagas de Cristo; que as outras estavam amaldiçoadas), os carrondos e as “patinhas de égua”, as amoras das silvas e os pêros [sic] dos pereiros bravos que cresciam espontaneamente nos campos» («A vida de Josefina dentro de um livro de receitas», Luís Octávio Costa, «Fugas»/Público, 30.03.2019, p. 17).

 

[Texto 11 157]