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Linguagista

Léxico: «tera»

Agradecemos o certo

 

      «Recentemente, foi revelado que o filho de Cluny, o advogado João Lima, trabalha para a Morais Leitão, a sociedade que representa uma série de personalidades de futebol envolvidas no escândalo, entre elas Cristiano Ronaldo, José Mourinho e outros representados pelo ‘super-agente’ Jorge Mendes e a sua agência, a Gestifute» («França negoceia com Portugal imunidade para Rui Pinto»,  Joana Azevedo Viana, Rádio Renascença, 13.04.2019, 17h07).

      Joana Azevedo Viana, problemas com a escrita de superagente? Pelos vistos, ou, como diz o outro, pelo visto... E terabyte também é um mistério: «Neste momento, as autoridades francesas já têm em sua posse 26 terabites de dados cedidos pelo denunciante português, bem acima dos 3,4 teras de informação que Rui Pinto tinha enviado ao EIC em 2016, e que incluíam emails privados de algumas das figuras mais influentes do mundo do futebol.» Mas tem razão numa coisa, sim, porque ninguém erra em tudo: tera é, de facto, a redução vocabular de terabyte, e o dicionário da Porto Editora ainda não viu isso. Este só regista, em tera-, isto: «[uso indevido mas generalizado] INFORMÁTICA este mesmo prefixo usado para multiplicar uma unidade por 240».

 

[Texto 11 177]

Léxico: «lesa-sociedade»

Falta a mais comum

 

      «Uma inteligência mal aproveitada, que se esgota em discussões sobre o sexo dos anjos, é, em definitivo, um crime de lesa-sociedade. Um país como este não se devia dar excessivamente a esse luxo» (O Dito e o Feito: Cadernos 1984-1987, João Martins Pereira. Lisboa: Edições Salamandra, 1989, p. 226). O dicionário da Porto Editora fica satisfeito, como muitos outros, com lesa-majestade e lesa-pátria, mas nós não. Nem nós, nem os falantes, nem alguns dicionários e vocabulários. E lesa-razão? Também esquecida, como era de esperar. Entretanto, como se portaram bem e não me interromperam, esse detestável vezo, dou-lhes todas as obras de Martins Pereira, aqui.

 

[Texto 11 176]

Léxico: «reservista/reservador»

Arrombar portas abertas

 

      «De acordo com o que muitos reservistas do Model 3 indicaram nas redes sociais, é muito provável que uma parte considerável destes clientes optem por cancelar a compra do 3 e esperar pelo Y devido às vantagens do espaço (os preços anunciados são pouco superiores aos preços do Model 3)» («Tesla baixa preço e anuncia novo SUV», Sérgio Magno, Exame Informática, Abril de 2019, p. 9).

      Isto não é torturar a língua, mas é esticá-la desnecessariamente. Sérgio Magno, àquele que reserva seja o que for dá-se o nome de reservador. Não tem de quê. Para a próxima. Curiosamente, o dicionário da Porto Editora acolhe um sentido de reservista que, ao que me parece, mais nenhum dicionário acolhe. Vão ver, façam qualquer coisa, mexam-me esse c..., essas polpas dos dedos. (Eu?! Acabei de regressar de uma volta de 12 317 passos, não é assim tão mau.)

 

[Texto 11 175]

Léxico: «talibanismo»

Anda por aí

 

      «Endesa acusa Bloco de Esquerda de “operação de talibanismo”» (Vítor Rodrigues Oliveira, TSF, 13.04.2019, 00h00). A frase é esta, de uma entrevista a Nuno Ribeiro da Silva, director-geral da Endesa Portugal e antigo secretário de Estado da Energia: «Lamento, mas a base do setor elétrico é feita por razões económicas e técnicas em grandes empresas, como são outros setores das telecomunicações, do petróleo, etc., e não é por isso que têm de ser apedrejadas na praça pública numa operação de “talibanismo”.»

 

[Texto 11 174]

Léxico: «neuroquímica/neuroquímico»

Coisa para anos

 

      «Tales de Mileto, um dos primeiros filósofos da História e um dos denominados Sete Sábios da Grécia, considerava que para ser feliz é necessário “um corpo forte e são, boa sorte e uma alma bem formada”. Mas para as atuais neurociências, a felicidade é um conjunto de fatores biológicos, ligados à genética e à neuroquímica cerebral, que são essenciais para garantir o nosso bem-estar» («O que é que a ciência nos pode ensinar sobre a felicidade», Vanessa Fidalgo, «Domingo»/Correio da Manhã, 24.02.2019, p. 29).

      Também não está noutros, mas, como se lê numa parede aqui perto da minha casa, o que importa é o que interessa, e interessa que o Dicionário da Língua Portuguesa da Porto Editora não acolhe nem neuroquímico nem neuroquímica. Mas, já se sabe: Roma e Pavia, etc.

 

[Texto 11 173]

Léxico: «baniano»

Essa é boa

 

      «Esta carta chegar-te-á por um baniano», escreve Shastasid a Amabed. E eu escrevo à Porto Editora: a definição de baniano que têm está errada. Em baniano, aliás, limitam-se a remeter para baneane, e neste — que classificam como moçambicanismo — aparece a definição: «indivíduo de ascendência indiana que se dedica ao comércio». Errado, já disse, e incompleto, acrescento agora. Baniano também designa uma árvore, a Ficus bengalensis.

 

[Texto 11 172]

Léxico: «transeixo»

Uma boa amálgama

 

      «Os dois motores elétricos surgem num transeixo híbrido de nova geração que é mais compacto, mais leve e com menor fricção interna do que nos anteriores sistemas híbridos da Lexus» («Lexus UX 250h: Explorador urbano ‘aterra’ em Portugal», Pedro Junceiro, Motor 24, 12.04.2019).

      Sim, transeixo, ou preferem que se escreva e diga transaxle, o termo inglês? Até parece um carro bom, mas a caixa e-CVT dá-nos a sensação de estarmos ao volante de um carrinho telecomandado. Passo. Já se falarmos do Lexus LC 500, a conversa é outra.

 

[Texto 11 171]