É o que se diz, mas...
«A catedral sobreviveria, ainda que descristianizada, e as paredes ganhavam buracos e as janelas perdiam vidros. Depois da reconstrução-chave de 1844, já de novo consagrada à Santa Sé, em 1977 haveria uma surpresa: 21 das cabeças de pedra decapitadas foram encontradas numa parede de uma velha mansão parisiense, juntamente com outras cabeças de estátuas de Notre-Dame que faziam parte do entulho» («Momentos em que a catedral sobreviveu à História», Joana Amaral Cardoso, Público, 17.04.2019, p. 7).
Pois não, não foi inventado pela jornalista, fala-se muitas vezes em «templos descristianizados». Será a melhor palavra para expressar o que se pretende? Trata-se de edifícios que, deixando de ser igrejas, não passaram a ser mesquitas, por exemplo (o que já aconteceu). Não: são edifícios que, tendo sido construídos para acolherem o culto de uma religião, deixaram, em determinada altura, de ter esse fim. Assim, não seria mais adequado usar-se o verbo laicizar, por exemplo? (Entretanto, porque não há mal que não traga um bem, as vendas do vítor-huguesco Notre-Dame de Paris, o romance histórico, dispararam.)
[Texto 11 208]