Léxico: «diesel/ gasóleo»
Sempre envolto em névoas dúbias
«Apesar de o ministro do Ambiente ter anunciado a morte a prazo dos diesel, a realidade é que esta (até) pode ser uma boa altura para comprar um carro a gasóleo. Confuso? Explicamos porquê em 6 pontos» («6 razões para comprar um diesel agora», Alfredo Lavrador, Observador, 31.01.2019, 1h58).
Nada de confuso, mas há por aí confusões nos dicionários. Assim, porque é que no dicionário da Porto Editora — e noutros, já o comprovei — no verbete diesel não se refere o gasóleo? Naquele dicionário, como nome masculino, diesel é «1. motor de combustão interna que funciona por auto-inflamação do combustível que é injectado no ar muito comprimido dentro dos cilindros; 2. combustível usado nesse motor; 3. bebida composta por uma mistura de cerveja com refrigerante de cola». Como adjectivo invariável, «1. diz-se do motor com aquelas características; 2. diz-se de uma viatura provida de motor deste tipo». A Real Academia Espanhola é mais respeitadora do idioma que representa e defende (grafa-a com acento, diésel, como grave terminada em l) e mais económica: «1. m. motor diésel; 2. m. Automóvil provisto de motor diésel; 3. m. gasóleo.» Para nós, seria então «dísel». Só no verbete gasóleo a Porto Editora o dá como sinónimo, mas de forma indirecta: «QUÍMICA produto carburante, derivado da destilação de petróleo e constituído por uma mistura de hidrocarbonetos, usado como combustível em motores diesel». Com semelhante tratamento lexicográfico, das duas uma: ou julgam que são estas as preferências dos falantes ou, o que não é melhor, querem que os falantes se exprimam assim. Mas sempre tudo envolto em névoas dúbias.
[Texto 11 247]