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Linguagista

Léxico: «decano»

Desenvolvam

 

      E aqui tenho um professor catedrático que andou mais de uma década a fugir às chatices burocráticas do decanato, o que me leva a dizer que a definição de decano no dicionário da Porto Editora (e, pelo que vi, noutros) é muito sucinta, pouco abrangente: «o mais velho (ou o mais antigo em anos de serviço) dos membros de uma corporação ou classe; deão». Vai deixar muitos falantes com dúvidas por resolver. Por isso, pontuo-a assim: ■■■□□. E, com esta, já é a segunda vez que hoje nos cruzamos com corporações aqui no blogue.

 

[Texto 11 273]

Léxico: «selante»

A entrada e a saída de ar

 

      Ora bem, que tenho eu aqui à minha frente? O novo selante Elite Racer, que, com uma fórmula de micropartículas superadesivas de secagem rápida, veda instantaneamente furos que tenham até 6 mm. Uma embalagem de 125 ml só custa 5,54 euros? Queria duas. Também queria que o dicionário da Porto Editora acrescentasse esta acepção ao seu verbete selante, que diz isto: «1. que ou material que é utilizado para vedar pequenas aberturas, evitando a entrada de ar, gás, ruído, pó, etc.; 2. designativo da substância que é aplicada na superfície rugosa de dentes molares e pré-molares, agindo como uma barreira e evitando a cárie; 3. diz-se de produto que é aplicado no cabelo com o objectivo de o hidratar, fechando as pontas espigadas».

 

[Texto 11 272]

Léxico: «eigenvalor»

Assim não se divulga ciência

 

      Se eu fosse matemático ou físico, ficaria agora muito aborrecido ao ver que o dicionário da Porto Editora não regista eigenvalor nem autovalor. Omeletes sem ovos? No Merriam-Webster, eigenvalue é assim definido: «a scalar associated with a given linear transformation of a vector space and having the property that there is some nonzero vector which when multiplied by the scalar is equal to the vector obtained by letting the transformation operate on the vector».

 

[Texto 11 271]

Léxico: «informar/ enformar»

Falhar a missão

 

      «Essa experiência informou e simultaneamente transformou este livro» (Liberdade de Expressão – Dez Princípios para Um Mundo Interligado, Timothy Garton Ash. Tradução de Jorge Pereirinha Pires e revisão de Pedro Ernesto Ferreira. Lisboa: Temas e Debates, 2017, p. 14).

   Em oito anos, a minha opinião pouco mudou a respeito desta questão. Continuo a dizer, como se faz a respeito de experiências perigosas: «Não faça isto aí em casa.» Até ao início do século XIX, informar e enformar eram usados quase indiferentemente. Tanto significavam «dar informações a ou a respeito de», como «dar forma a; servir de base ou fundamento a». Podia haver ali uns matizes, umas preferências pessoais a ditar alguns usos, mas em geral era assim. Tanto assim é que ainda no século XX havia dicionários que o registavam. Século XX? E até XXI, hoje em dia. O erro da Porto Editora é não o acolher como acepção em desuso (quando não como arcaísmo, como me parece), falhando neste ponto (como também, aduzindo um exemplo em tudo igual, em relação a crena, na expressão de Camilo «crena de limpeza») a sua missão de informar/formar.

 

[Texto 11 269]

Tradução: «corporation»

E é só o início

 

      Ainda estamos na primeira página, que tem mais erros: «No que respeita a permitir ou restringir a liberdade de expressã global, algumas corporações têm mais poder do que a maioria dos Estados. Se cada utilizador do Facebook fosse contabilizado como um habitante, o Facebook teria uma população maior que a da China» (Liberdade de Expressão – Dez Princípios para Um Mundo Interligado, Timothy Garton Ash. Tradução de Jorge Pereirinha Pires e revisão de Pedro Ernesto Ferreira. Lisboa: Temas e Debates, 2017, p. 13). Basta repetir o que já escrevi aqui um dia: empresa, firma, companhia, por exemplo, traduzem muito melhor o termo corporation. Sugiro a leitura da entrada na página 196 do Guia Prático de Tradução Inglesa, de Agenor Soares dos Santos (Rio de Janeiro: Elsevier, 2007). Quanto a «contabilizado», apenas sugiro o uso da cabeça.

 

[Texto 11 268]