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Linguagista

O AOLP90 no dia-a-dia

Já não voam tanto

 

      «Eurocépticos, nalguns casos populistas e xenófobos, antissistema. Nas eleições europeias de há 5 anos, vimos aumentar algumas destas forças políticas… E agora, como será em 2019?» («Eleições numa Europa cada vez mais fragmentada», Rádio Renascença, 4.05.2019).

      Se nos jornais é a pouca-vergonha que sabemos, quanto mais nas rádios, onde se habituaram durante décadas ao verba volant. Agora, com o scripta manent, é o que se vê. Ainda há dias, na Rádio Renascença, como vimos, escreveram «espanho-luso», que, mesmo depois de uma mensagem que lhes enviei, esteve 24 horas visível. Nem se envergonham nem aprendem. Lá se avenham.

 

[Texto 11 308]

Léxico: «vendibilidade»

Salability

 

      «Com o mercado de massa, a vendibilidade de um texto torna-se um elemento fundamental de julgamento e selecção» (O Livro, José Afonso Furtado. Lisboa: Difusão Cultural, 1995, p. 84).

      No Dicionário da Língua Portuguesa da Porto Editora não o vão encontrar. E este leva-nos logo a um semelhante: rendibilidade. A Porto Editora, neste caso, até acolhe o par rendibilidade/rentabilidade, mas sem remissões mútuas e também sem dar uma indicação aos falantes de qual o preferível.

 

[Texto 11 307]

Léxico: «fitado»

In nomine solenissimae praxis

 

      «O mesmo jornal regional explica que depois de ter sido tornada pública esta intenção, a direção da FLUC interveio e fez com que os estudantes — que publicamente apresentam-se apenas como “Novos Fitados de História 2018/2019”, nunca revelando nomes dos participantes — garantissem que o carro que desfilará no domingo não terá esse nome» («“Alcoholocausto”: Carro alusivo ao holocausto [sic] lança polémica na Queima das Fitas», Diogo Lopes, Observador, 3.05.2019, 14h13).

      Cá está, da gíria académica, um termo ainda não acolhido pelos nossos dicionários. (E que dizer destes universitários — como os da Faculdade de Direito da Universidade de Lisboa —, prestes a entrarem no mercado de trabalho, com estes comportamentos desviantes? São eles que vão ser os próximos juristas, os próximos professores, historiadores. Estamos bem servidos, estamos. Safa!)

 

[Texto 11 306]

Léxico: «neoprofesso»

Estranhas ausências

 

      Uma palavra que vejo com alguma frequência é neoprofesso, que os nossos queridos dicionários nunca viram mais gorda. E, num país católico, também estranho outras ausências, como os conselhos evangélicos (consilia evangelica, em latim), que, por tradição, são fundamentalmente três: castidade, pobreza e obediência.

 

[Texto 11 305]

Léxico: «legística»

É mais do que isso

 

      «Será ainda necessário fazer um trabalho de “legística”, ou seja[,] de sistematização da lei e de verificação da sua articulação com outras leis» («Papel, qual papel? Ainda não há versão final do que o Parlamento aprovou sobre os professores», Eunice Lourenço e Paula Caeiro Varela, Rádio Renascença, 3.05.2019, 16h33).

      Esta é uma boa oportunidade para dizer que o conceito de legística é mais abrangente do que faz crer a definição no dicionário da Porto Editora: «conjunto de regras que deverão ser respeitadas na elaboração de textos legislativos». Essa é só uma das acepções, e nem sequer, para que nos entendamos, a principal. De facto, a legística constitui, por si só, um campo do saber que se ocupa do estudo da concepção e da produção da lei, de forma sistemática e metódica, e subdivide-se em legística material e legística formal. Acho mais provável vir do francês legístique do que, como se vê na nota etimológica daquele dicionário, do inglês legistics. Uma verdadeira ciência exige um manual, e entre nós o mais conhecido será o Manual de Legística – Critérios Científicos e Técnicos para Legislar melhor, Carlos Blanco de Morais (Lisboa: Editorial Verbo, 2007). Mais modesto (e no sentido da única acepção da Porto Editora), temos este guia da própria Assembleia da República.

 

[Texto 11 304]