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Linguagista

Léxico: «quinoa»

O básico

 

    A quinoa, lê-se no Dicionário da Língua Portuguesa da Porto Editora, é a «planta quenopodiácea, originária da região dos Andes (América do Sul), com folhas triangulares e sementes comestíveis». Podia dizer-se muito mais (rica em fibras, boa fonte de ferro, com baixo teor de gordura, é um pseudocereal, 2013 foi o Ano Internacional da Quinoa, não tem glúten, etc.), mas nem tudo pode ir para um dicionário geral da língua. Podia, isso sim, indicar que o nome científico é Chenopodium quinoa Willd.

 

[Texto 11 312]

Léxico: «piscar»

Das maiúsculas ao pisca-pisca

 

      «Quase metade dos condutores (46%) não assinala a mudança de direção. No dia mundial cortesia ao volante, o presidente da Prevenção Rodoviária Portuguesa garante à TSF que muitos portugueses ainda ignoram passadeiras e sinais vermelhos» («Quase metade dos condutores não faz "pisca" quando muda de direção», Dora Pires e Sara Beatriz Monteiro, TSF, 5.05.2019, 10h29).

      Em rigor, assinala-se hoje o Dia Mundial do Trânsito e da Cortesia ao Volante — com maiúsculas, convenção ortográfica de que Dora Pires e Sara Beatriz Monteiro já devem ter ouvido falar, ou não? Ah, a cortesia na estrada... Bastava que fossem competentes, e eu já me daria por satisfeito. Ouvido pela TSF, o presidente da Prevenção Rodoviária Portuguesa diz que apenas 51 % dos homens assinalam a mudança de direcção. Para os lexicógrafos: acolham esta acepção de piscar e fazer pisca. Afinal, é assim que se fala, e não está incorrecto.

 

[Texto 11 311]

Léxico: «alimado»

Vamos para os corriqueiros

 

    Então, se acham que hurdício e matacão são conceitos mais rebuscados, muito específicos, vamos para o dia-a-dia: «Depois dos peixes do rio, surgem os do mar, e propostas como os carapaus alimados, os rissóis de pescada ou o fígado de tamboril com moscatel e maçã caramelizada» («A arte dos petiscos à volta do rio e do mar», Alexandra Prado Coelho, «Fugas»/Público, 27.04.2019, p. 20).

      Alimado ou limado no Dicionário da Língua Portuguesa da Porto Editora, viste-los. Apenas regista o verbo limar, «temperar com azeite e limão». Portanto, nem os adjectivos nem o verbo mais usual, alimar.

 

[Texto 11 310]

Léxico: «hurdício / matacão»

Isto não tem fim

 

      «O fascínio [do Castelo e Convento de Tomar] começa na bem conservada estrutura militar, desenhada segundo planta que Gualdim Pais importou do Próximo Oriente e que começou a edificar em 1160, introduzindo inovações como a torre de menagem,  o alambor (espessamento da base da muralha) e o hurdício (grade de madeira com que se resguardavam muralhas)» («Templários. Os monges-guerreiros andaram por aqui», Luís Maio, «Fugas»/Público, 27.04.2019, p. 6).

      Parece estar quase tudo dito, mas não é bem assim. Para alguns dicionários (o da Porto Editora não regista o termo, fugindo assim à dificuldade), o hurdício, que provém de um termo do baixo-latim, é o nome que tinha a grade de madeira com que se protegiam as muralhas para não serem muito danificadas por aríetes e projécteis. Contudo, os historiadores também dizem que na Torre de Menagem de Longroiva, erguida pelo mesmo D. Gualdim Pais em 1174, se construiu o primeiro hurdício em território nacional, e descrevem-no como uma galeria de madeira, antepassado dos balcões com matacães e dos balestreiros, que coroava torres e panos de muralha e se destinava à prática de tiro vertical. São claramente dois conceitos diferentes.

      E vejo agora que o dicionário da Porto Editora também não regista a referida acepção de matacão, e em textos de apoio da Infopédia ora usam «matacão» ora «mata-cão». Enfim, mais uma editora que julga poder passar sem revisores. Vê-se.

 

[Texto 11 309]