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Linguagista

Léxico: «cocho / corcho»

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      Atentemos agora nos vocábulos corcho e cocho no Dicionário da Língua Portuguesa da Porto Editora. Corcho: «regionalismo vaso de cortiça por onde os camponeses da província portuguesa do Alentejo bebem água»; cocho: «Alentejo recipiente côncavo de cortiça, semelhante a uma colher grande, usado para beber água de fontes, bilhas, etc.».

 

[Texto 11 340]

Léxico: «maranata»

Discriminação, disse ele

 

      Fui dar uma pequena volta de 5 quilómetros e agora estou em condições de falar da Igreja Evangélica Maranata. (Não é maluquice: ando em passo rápido 5 quilómetros antes das 9 da manhã e outros 5 quilómetros antes das 9 da noite.) Passei ali por uma filial (se fosse do PCP, seria «centro de trabalho»...), enfim, uma igreja evangélica maranata, e pensei: «Caramba, como é que a palavra “maranata” não está no Dicionário da Língua Portuguesa da Porto Editora, quando está noutros? Acolhe magnificat, sabat, xibolete, etc., não percebo. É verdade que também devia registar Sebaot, Adonai, éfode, cinor, e não o faz.»

 

[Texto 11 339]

Léxico: «Alvaladenses/alvaladense»

Pobre gente

 

      Penso sobretudo nos desgraçados dos Alvaladenses do Alentejo, não os do bairro lisboeta homónimo. Sim, os da vila de Alvalade, mas que se devia chamar, para acabar com equívocos, Alvalade-Sado ou Alvalade do Sado ou Alvalade do Alentejo: então o Dicionário da Língua Portuguesa da Porto Editora não sabe que existem?! Vamos agora ver se no dia 10 de Maio de 2019 esse triste fado tem fim.

 

[Texto 11 338]

Léxico: «armadilhagem | ágrafo»

Interesses gregais

 

      «A presença foi confirmada através de pegadas e imagens recolhidas por armadilhagem fotográfica dos serviços homólogos do ICNF em Espanha. Questionado pela TSF sobre a forma como tem sido feita a monitorização do animal deste lado da fronteira, o ICNF revela que o acompanhamento está a ser feito também por armadilhagem fotográfica e por indícios de presença, como pegadas e dejetos» («Pegadas, dejetos e fotografias: as provas de que há um urso pardo em Portugal», Maria Miguel Cabo, TSF, 9.05.2019, 17h51).

     Ao que parece, na Porto Editora consideram que o vocábulo armadilhagem só interessa aos Gregos, não é assim? E na TSF desconhecem que a grafia correcta é «urso-pardo». É sempre assim, há sempre alguém que não faz o que devia ou como devia. São restos das rádios ágrafas; agora têm de escrever, bem ou mal. (Atenção, Porto Editora, também não registas a mais comum das acepções de ágrafo.)

 

[Texto 11 337]

Léxico: «laranjoeiro»

Amálgamas

 

      Depois há aquelas palavras que só algumas pessoas usam, mas que se revelam sabiamente necessárias. Na tal colectânea, diz um miúdo: «Sinto os pés molhados, como se estivesse a regar o laranjoeiro da minha horta!» Com o tempo que está hoje em Lisboa, não precisava de regar nada: olho para Monsanto, e desde manhã só se vê uma parede cinzenta de nevoeiro. Quem se pode dedicar agora a tempo inteiro a observações meteorológicas é o parvo de Danny Baker.

 

[Texto 11 336]

Léxico: «brasio»

Outro ausente

 

    Apareceu-me agora mesmo numa colectânea de contos de autores alentejanos contemporâneos: brasio. O mesmo que brasido, e quase sempre referido ao calor abrasador do Alentejo. Creio, aliás, que é alentejanismo, mas foi outrora levado para o Brasil, onde não sei se vingou. Por aqui, não o vejo em nenhum dicionário. É assim que alguns se transformam, com o rolar dos tempos, em «brasileirismos». Se não saíssem dos nossos dicionários, nunca se diriam tais disparates.

 

[Texto 11 335]

Léxico: «Aragonês»

Que pobreza

 

      Um exemplo extremo de pobreza lexicográfica (por greve de zelo?): a descrição da casta Aragonês no Dicionário da Língua Portuguesa da Porto Editora: «casta de videira de uva tinta». Comparemo-la com o verbete de outra designação da mesma casta, Tinta-Roriz: «BOTÂNICA diz-se de ou casta de videira de uva tinta que apresenta folha grande e pentagonal e cacho aberto com bago pequeno e arredondado de polpa rija e pouco suculenta, sendo também conhecida por aragonês». (Já agora, registe-se a locução greve de zelo. Aliás, ainda há mais formas de greve em que não ocorre abstenção de trabalho, como a greve de rendimento.)

 

[Texto 11 334]

Léxico: «murciana»

Falemos de cabras

 

      Fui dar uma pequena volta de 5 quilómetros e agora estou em condições de falar da cabra murciana. «Só regressou em 2012, já com o curso em engenharia zootécnica tirado no Instituto Superior de Agronomia (ISA). O primeiro passo, em conjunto com a companheira, Ana Martins, formada em engenharia alimentar, foi a aquisição de 60 cabras murcianas, logo em Agosto. Hoje, o rebanho que Pumba, um cão arraçado de Serra da Estrela [sic] de porte respeitável, vigia diligentemente chega já a 280 animais.» («O rebanho de Fábio e Ana já produz queijo premiado com sabor a Bruxelas», Camilo Soldado, Público, 8.05.2019, p. 12).

      No Dicionário da Língua Portuguesa da Porto Editora, murciana só uma couve oriunda de Múrcia. A raça tem a designação de murciana e de murciano-granadina. Em cabra, o dicionário da Porto Editora nem sequer indica o nome científico (trinominal, neste caso, porque se trata de uma subespécie), Capra aegagrus hircus.

 

[Texto 11 333]