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Linguagista

Léxico: «minicarro»

Aumenta a variedade

 

      «Este minicarro pensado para as cidades transporta uma pessoa (o condutor), custando cerca 15.500 dólares, cerca de 13.800 euros» («Citadino elétrico Solo [da Electra Meccanica] recebe aval de autoridades», Motor 24, 13.05.2019, itálico meu).

      Não microcarro, mas minicarro. Na Infopédia, só o encontramos num bilingue, minicar. Um erro demasiado repetido, não por malícia do Diabo, antes por incúria demasiado humana: nem nos outros bilingues nem no dicionário geral.

 

[Texto 11 355]

Uma gramática de alto-valiriano...

Alguma dúvida sobre isto?

 

      «Pode soar estranho, mas, sim, há mesmo pessoas pagas especificamente para criar as línguas fictícias faladas nos filmes e séries de televisão. Linguista de formação, há anos que David J. Peterson ganha a vida a inventar novos idiomas. [...] Ao longo da carreira, Peterson já criou mais de 50 línguas fictícias para projetos televisivos e cinematográficos. É ele o responsável pela existência do ‘Valyrian’ e do ‘Dothraki’, duas línguas faladas na aclamada série “A Guerra dos Tronos”. [...] Com o advento da internet, a aprendizagem de línguas ficcionais tornou-se uma possibilidade real para muitos fãs de filme e séries de culto. Algumas das mais conhecidas são o Klingon, a língua falada em “Star Trek” — que tem reunido um grupo impressionante de falantes desde a década de 1990, com o criador da língua, Mark Okrand, ainda a lançar regularmente novas palavras — e o Na’vi, falado em “Avatar”, o sucesso de bilheteiras de James Cameron» («Estudava ‘Valyrian’ 18 horas por dia. Uma das línguas da Guerra dos Tronos já tem gramática», Rita Carvalho Pereira, TSF, 13.05.2019, 13h25).

      Se Rita Carvalho Pereira também disser English em vez de inglês, é coerente; se não disser (como, apesar de tudo, supomos), então está errado. Ficcional, sim, mas traduzível, adaptável. «Valiriano», «dotraqui» e «clíngon», por exemplo. Na obra A Glória dos Traidores, de George R. R. Martin, publicada pela Saída de Emergência, com tradução de Jorge Candeias, o erro é outro (e repetido noutras obras da saga): escrevem «alto valiriano». Ora, se se escreve alto-alemão, tem de se escrever alto-valiriano. Pormenores da língua que escapam aos apressados.

 

[Texto 11 354]

Léxico: «portabilidade»

Equívoca

 

      «Em comunicado, o regulador adianta que “essa maior simplificação decorre do facto de o pedido eletrónico de portabilidade [mudar de operador mas manter o mesmo número] entre prestadores passar a processar-se através de um código de validação de portabilidade (CVP) que está em vigor desde sábado”» («Portabilidade de número de telefone vai ser mais fácil com código de validação», TSF, 13.05.2019, 17h46).

      O que me parece é que a definição de portabilidade no Dicionário da Língua Portuguesa da Porto Editora é um tudo-nada equívoca, e tudo porque fala em «facilidade»: «(telecomunicações) facilidade disponibilizada pelas redes fixas e móveis que permite ao cliente mudar de operador, mantendo o mesmo número de telefone/telemóvel». A lei fala em «processo» e em «funcionalidade».

 

[Texto 11 353]

Léxico: «ludita»

Nesse não

 

      «No século XIX, no início da revolução industrial, um grupo secreto de trabalhadores ingleses da indústria têxtil, conhecido por “ludistas”, destruíam as novas máquinas que ameaçavam os seus postos de trabalho. No século XXI, o carvão foi substituído por robots e inteligência artificial: segundo os dados do Eurobarómetro, nove em cada dez portugueses consideram que o novo carvão rouba — é mesmo este o verbo utilizado — os empregos existentes» («O novo carvão», Ana Fontoura Gouveia, economista, Nova School of Business and Economics, Público, 13.05.2019, p. 22).

      Há dicionários que registam «ludita» e «ludista» — felizmente, o Dicionário da Língua Portuguesa da Porto Editora não caiu nesse erro. Sim, para mim, erro. Ludismo, mas ludita. Já quanto à definição, muito ganharia o dicionário da Porto Editora se dissesse que é o «movimento surgido, no seio da indústria têxtil inglesa, no início do século XIX que se opunha à mecanização do trabalho e que considerava a industrialização a causa do desemprego e da miséria social».

 

[Texto 11 352]