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Linguagista

Léxico: «torácico | toráxico»

Pois, mas é assim que se ouve

 

      Entrevistado no local por um repórter da SIC Notícias, o comandante dos Bombeiros Voluntários de Pombal, Paulo Albano, falou do acidente. O «motorista» era o encarcerado mecânico. («O motorista desta viatura era o antigo primeiro-ministro Pedro Santana Lopes?» «Afirmativo.») Paulo Sande já reconheceu que «felizmente, felizmente que o automóvel ia devagar, porque, senão, enfim... não iria a muito mais de 120 km/h». Claro que é só uma impressão, porque, com os carros de hoje em dia, 120 km/h é quase como estar parado, não é? Uns segundos antes, porém, dissera: «Íamos depressa também para chegar a Cascais, onde tínhamos uma outra acção de campanha, um seminário sobre o mar.» Vamos, porém, ao que interessa: o comandante disse que o ex-PM se queixava de «alguma dor toráxica». Basta não ser surdo: toráxica. Não disse «torácica». Isto não pode ser considerado erro: formou-se dentro da língua, é usado, tem de ser admitido.

 

[Texto 11 370]

Léxico: «biopolítico»

E, contudo, usa-se

 

      «E o Brasil que vemos naqueles corpos que dançam extravasa o continente americano e é também África, devolvendo-nos um espelho implacável que exige a urgente reescrita a várias vozes da história de séculos de colonialismo português e de escravatura, perpetuada nas formas de poder biopolítico que continuam a traçar a fractura abissal entre vidas, classes e raças no Brasil contemporâneo» («Da dança que grita a vida à dança que nos volta as costas», Alexandra Balona, Público, 15.05.2019, p. 34).

      O substantivo biopolítica já quase todos os nossos dicionários acolhem; o adjectivo nem sequer num o encontramos. E, contudo, usa-se.

 

[Texto 11 369]

Léxico: «metapolítica»

Já o usamos

 

      «Ao Público, [José Gusmão] salienta ainda que o que os bloquistas andam a fazer, na estrada e pelo país fora, é mostrar a centralidade do que se discute em Bruxelas: “O aspecto mais importante desta campanha eleitoral é mostrar que aquilo que se debate em Bruxelas não são apenas abstracções e coisas do domínio da metapolítica, mas instrumentos e constrangimentos que fazem a diferença naquilo que são os aspectos mais concretos da vida das pessoas, o Estado social, o trabalho, o combate às alterações climáticas”» («BE mostra que em Bruxelas não há só “metapolítica”», Maria João Lopes, Público, 15.05.2019, p. 15).

      É neologismo que já encontramos em alguns dicionários, mas não no Dicionário da Língua Portuguesa da Porto Editora.

 

[Texto 11 368]

Léxico: «gatilho»

Nada bélico

 

      «E qual é o seu gatilho para um livro? Cria as personagens primeiro ou a história?», pergunta a jornalista Maria João Costa, da Rádio Renascença, ao escritor Michael Cunningham, que está em Cascais para uma residência literária («Escritor de “As Horas” vai acabar o seu novo livro em Cascais», 15.05.2019, 9h57). Claro que nos vem à mente, de imediato, o trigger inglês: «An event that is the cause of a particular action, process, or situation» (in English Oxford Living Dictionaries). No dicionário da Porto Editora, não passa da conhecida «peça de uma arma de fogo que se puxa para a fazer disparar». Agora espreitem no Aulete. Pois é.

 

[Texto 11 367]

Léxico: «entretempo»

Entretanto, nos Países Baixos

 

      «No entretempo, o pessoal do integrismo apoderara-se de todo o aparelho político e cultural do Estado e impusera, através de uma repressão metódica e de uma doutrinação intensa, os signos mentais reformulados no Concílio de Trento» (Camões no Portugal de Quinhentos, José Sebastião da Silva Dias. Lisboa: Instituto de Cultura e Língua Portuguesa, Ministério da Educação, 1988, p. 41). Segundo a Infopédia, diz-se tussentijd — em neerlandês. Em português é isso mesmo, entretempo, mas não se dicionariza.

 

[Texto 11 366]

Léxico: «Quinta-Feira de Ascensão | Quinta-Feira de Espiga»

É só para lembrar

 

      «A Quinta-Feira de Ascensão, que marca o final do ciclo dos Quarenta Dias inaugurado com a Páscoa, compreende, em Portugal, além das cerimónias religiosas da liturgia cristã — e por vezes com elas relacionadas por determinados elementos —, certas práticas específicas e tradicionais, que parecem constituir fragmentos de complexos mágico-religiosos, cuja textura completa e significado preciso aparecem apenas em alguns casos raros» (Festividades Cíclicas em Portugal, Ernesto Veiga de Oliveira. Lisboa: Publicações Dom Quixote, 1984, p. 113).

 

[Texto 11 365]