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Linguagista

Léxico: «frijoca»

Falta pouco

 

      «“Vai ser frijoca”, ri-se. “É a carne do porco da matança que se frita com alhinhos e mais não posso dizer para não revelar todos [os] segredos”. O prato típico do Couço havia de ser servido com batata cozida, arroz de cenoura e salada, antecedido de um caldo verde com um sabor acentuado a enchidos, entretanto interrompido com a chegada de João Ferreira» («CDU passou pelo Couço, bastião comunista e da “frijoca”», Rosário Silva, Rádio Renascença, 20.05.2019, 19h41).

      A cada ano que passa, vamos sabendo mais da frijoca, já quase temos toda a receita. Quem não quer saber disso são os lexicógrafos. (Rosário Silva, além de couva-galega, o caldo-verde leva hífen.)

 

[Texto 11 390]

Léxico: «fajã»

Só a maioria

 

      «É a ilha das fajãs — 46 ao todo —, pedaços de terra plana, que beijam o mar aos pés das arribas, de onde escorregaram pedras e terra, amassadas pela lava junto ao oceano. É a ilha onde a natureza também foi caprichosa. É a ilha dos contrastes da paisagem e do famoso queijo. De gente afável, que alegra as ruas da vila das Velas, o mais importante centro urbano» («Fornos de Lava com pitéus açorianos», António Catarino, TSF, 20.05.2019, 13h07).

      Já não digo que o Dicionário da Língua Portuguesa da Porto Editora devia indicar o número de fajãs, mas a definição não está inteiramente correcta: «terreno plano, cultivável, de pequena extensão, situado à beira-mar, formado de materiais desprendidos da encosta». A maioria é assim, decerto, mas também há fajãs formadas pela acumulação dos materiais arrastados pelas torrentes para junto da sua foz.

 

[Texto 11 389]

Léxico: «clamídia»

Quase in albis

 

      «O jornal i refere que “estão a aumentar os diagnósticos de DST”, tendo em 2018 sido diagnosticados “976 casos de gonorreia, 996 de sífilis e 600 de clamídia”, sendo a maioria dos casos relativos “às áreas metropolitanas de Lisboa e Porto”» («Doenças sexualmente transmissíveis. “Portugal precisa de apostar muito na prevenção”», Rádio Renascença, 20.05.2019, 13h54).

      A primeira coisa que o clamidoso faz é arrepender-se, aposto. A segunda é ir a um dicionário. Se consultar o Dicionário da Língua Portuguesa da Porto Editora, fica quase em branco: «BIOLOGIA género de microrganismos patogénicos para diversos animais incluindo o homem». Nem se diz que a clamídia é uma bactéria que causa uma infecção sexualmente transmissível, nem que é causada pela bactéria Chlamydia trachomatis, nem que, atingindo na maioria das vezes os órgãos genitais, também pode afectar a garganta e os olhos. Nada. Como se fosse tabu. (Está bem, «clamidoso» é invenção minha; mas já tenho lido «gonorrento».)

 

[Texto 11 388]

Xeque | cheque | entenebrado

Para já, o pior do dia

 

      «É uma consequência da decisão de Donald Trump que decretou estado de emergência informática e proibiu as empresas dos Estados Unidos de estabelecerem contactos com companhias estrangeiras de telecomunicações que figurem na Lista de Segurança Nacional. Uma lista na qual a chinesa Huawei é um dos nomes mais famosos» («Cheque à Huawei. Google corta relações com a fabricante chinesa», Rui Tukayana, TSF, 20.05.2019, 10h04).

      Para já, é o pior título do dia, mas se houver novidade eu aviso. Como é que ainda há jornalistas que confundem cheque com xeque, não me dizem? Foi publicado há mais de uma hora, e ainda nenhuma alminha menos entenebrada reparou. (Porto Editora, entenebrado.)

 

[Texto 11 387]

Quilograma e constante de Planck

Por um ponto

 

      Hoje, Dia Mundial da Metrologia, entra em vigor a nova forma de calcular o quilograma. No Dicionário da Língua Portuguesa da Porto Editora, está tudo pronto — tirando um erro menor, mas erro: em vez de vírgula, como deve ser, usam ponto: «FÍSICA unidade de medida de massa do Sistema Internacional, de símbolo kg, previamente definida como a massa do protótipo internacional do quilograma-padrão e actualmente definida de acordo com a constante de Planck (em que h equivale a 6.62607015x10-34 joules por segundo)». Num texto da apoio da Infopédia, contudo, está correcto: 6,626176x10-34 J.s.

 

[Texto 11 386]

Léxico: «extragaláctico»

O habitual

 

      «David Sobral é Astrofísico [sic] e Professor de Astrofísica Extra-galáctica na Universidade de Lancaster no Reino Unido. Doutorado pela Universidade de Edimburgo, tem realizado várias contribuições para o avanço do conhecimento sobre as galáxias e como estas se formam e evoluíram até aos dias de hoje («1919: quando um eclipse revelou o génio de Einstein», Rádio Renascença, 18.05.2019).

      É assim que se vê um pouco por todo o lado. Para ajudar à festa, o Dicionário da Língua Portuguesa da Porto Editora nem sequer o regista, embora o encontremos em quatro dicionários bilingues da Infopédia. Quanto aos jornalistas, não devemos esperar muito melhor do que isto, que é o habitual.

 

[Texto 11 385]