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Linguagista

Léxico: «descofragem»

Agora a construção civil

 

      Já que perguntam: sim, acho que têm mesmo de dicionarizar descofragem. Não interessa apenas aos Gregos. Já que estamos no capítulo da construção civil, também não estaria mal ver nos dicionários as locuções alvenaria de meia vez e alvenaria de uma vez. São coisas mais do que assentes (como os próprios tijolos), não deviam estar ausentes de um bom dicionário.

 

[Texto 11 415]

Léxico: «hortícola»

Essa é boa

 

      Antes de ires descansado para o fim-de-semana: «Os legumes e as hortícolas são os alimentos que têm como principal função fornecer ao organismo boas quantidades de água, vitaminas, minerais e fibra solúvel» (Papinhas da Xica: Guia de Alimentação para o Primeiro Ano do Bebé, Sandra Santos. Lisboa: Arena, 2018, p. 45).

      Sempre o vi também como substantivo, e não meramente, como registam todos os dicionários, como adjectivo. (Aqui num texto, escreveram «hortículas» — erro que alguém com umas tinturas de latim nunca daria.) Estão todos enganados.

 

[Texto 11 414]

Léxico: «engra»

É como se não existisse

 

      Já no que respeita ao curso de ladrilhador, o formando tem de saber, no final da formação, aplicar revestimento em paredes com engras superiores a 90º. Sim, engras, Dicionário da Língua Portuguesa da Porto Editora. Pergunta a um certo dicionário bilingue, acho que vais ter sorte.

 

[Texto 11 413]

Léxico: «corta-sebes»

Há por aí muitos

 

      No caso dos formandos de jardinagem, têm de aprender a conduzir, operar e regular máquinas e equipamentos de jardinagem e agrícolas adequados às actividades a realizar, tais como motocultivador, charrua, grade, escarificador, fresa, corta-relva, motosserras, corta­sebes, semeadores, roçadoras, etc. No Dicionário da Língua Portuguesa da Porto Editora, não há corta-sebes. Ainda vem algum ingénuo ou doido afirmar que se tem de usar o inglês hedge trimmers. Há por aí muitos (corta-sebes e doidos).

 

[Texto 11 412]

Pobre ortografia, pobres leitores

Trágico

 

     A pressa do jornal i em dar a notícia (puf!) do dia até o levou a esquecer as basezinhas da primária: «May afirmou que fez tudo ao seu alcançe para chegar a um acordo para o Brexit» («É oficial: Theresa May apresenta demissão», 9h58). Para esta gente, questões como seguir ou não o Acordo Ortográfico de 1990 é pura bizantinice. O problema não é a ortografia — são eles. Imaginem agora o impacto destes dislates constantes — e em todos os meios de comunicação — nos falantes, eles próprios já analfabetos funcionais, ou perto disso. (Regista analfabetismo funcional, Porto Editora.)

 

[Texto 11 410]

Léxico: «mestre»

Esquece o velame

 

      «Os mestres da Soflusa, empresa responsável pelas ligações fluviais entre Barreiro e Lisboa, iniciaram ontem uma greve parcial, de três horas por turno, em nome da contratação de novos profissionais. Greve na transportadora fluvial prolonga-se até ao dia de hoje e implicará perturbações no serviço» («Mestres da Soflusa estão ainda em greve», Destak, 24.05.2019, p. 2).

      No Dicionário da Língua Portuguesa da Porto Editora, só há mestres de antigamente: «NÁUTICA aquele que, nos navios, tem a seu cargo o aparelho e o velame». Actualiza-te!

 

[Texto 11 409]

Léxico: «estado vegetativo»

Apesar de comum

 

      «Vicent Lambert está em Estado Vegetativo Persistente (EVP). Neste caso específico, o EVP surgiu em consequência de um traumatismo craniano após um acidente de carro em 2008 tendo deixado o doente com profundas sequelas a nível neurológico» («O quem tem o caso de Vicent Lambert a ver com a eutanásia? Nada!!!», Ana Sofia Carvalho, Rádio Renascença, 24.05.2019).

    Ana Sofia Carvalho, directora do Instituto de Bioética da Universidade Católica Portuguesa, ignora — mas pode acontecer que lho digam hoje — que não tem de o escrever com maiúsculas: estado vegetativo persistente. Isso, porém, é secundário. O que importa assinalar é que, ouvindo-se tantas vezes a locução estado vegetativo, o Dicionário da Língua Portuguesa da Porto Editora não a registe, quando acolhe outras totalmente arredadas do dia-a-dia. Está muito mal.

 

[Texto 11 408]

Léxico: «joanete»

Assim, por exemplo

 

      «“Patologias que muitas vezes não são encaradas como tal e devem ser desde o início tratadas e orientadas de forma a prevenir problemas futuros. Falamos em alterações do foro osteoarticular e ligamentar, os chamados joanetes, por exemplo, os dedos em garra, os esporões do calcâneo, as artroses do pé e alterações do ponto de vista da pele, como as calosidades, infeções fúngicas, bacterianas ou víricas”, enumera Manuel Portela [presidente da Associação Portuguesa de Podologia]» («Oito em cada dez portugueses com mais de 35 anos tem problemas nos pés», Cláudia Arsénio, TSF, 24.05.2019, 6h45).

      O Dicionário da Língua Portuguesa da Porto Editora diz-nos que joanete é a «deformação saliente na base do dedo grande do pé». Podia dizer-se mais e melhor, e também com poucas palavras: «deformação osteoarticular na base do dedo grande do pé; hálux valgo».

 

[Texto 11 407]

Léxico: «petanca»

Deixa-me ver se percebi

 

      José Candeias, na Antena 1, estava há pouco a falar com um jogador de petanca que vai participar num torneio deste jogo neste fim-de-semana. Vejamos como o Dicionário da Língua Portuguesa da Porto Editora define petanca: «DESPORTO jogo praticado em zonas planas e arenosas por equipas cujo número de jogadores pode variar, e que consiste no lançamento de um conjunto de bolas metálicas que deverão ficar o mais perto possível de uma pequena bola de madeira, lançada previamente». Quanto ao número de jogadores, a definição é simplesmente equívoca. Proponho a seguinte: «DESPORTO jogo praticado em zonas planas e arenosas por equipas cujo número de jogadores pode variar (triplete, três jogadores; duplete, dois jogadores; individual, um jogador), e que consiste no lançamento de um conjunto de bolas metálicas que deverão ficar o mais perto possível de uma pequena bola de madeira (cochonnet), lançada previamente». Palpita-me que a bola de referência já terá um nome português, mas não consegui apurar nada. Os lexicógrafos que contactem com a Federação Portuguesa de Petanca.

 

[Texto 11 406]