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Linguagista

Léxico: «contravontade»

Isto é estranho

 

      «Falava pouco e contravontade, como cumprindo com grande esforço uma obrigação, e os seus movimentos revelavam, às vezes, alguma inquietação» (Crime e Castigo, Fiódor Dostoiévski. Tradução de Nina Guerra e Filipe Guerra. Queluz de Baixo: Editorial Presença, 2011, p. 250). Aqui, usado três vezes na obra, é advérbio, mas não nos falam os psicólogos da contravontade (substantivo) das crianças, que devemos respeitar? Ora, tudo isto é ignorado pelos nossos dicionários. O desiderato parece ser o depauperamento total.

 

[Texto 11 419]

Léxico: «etnoturismo»

Mas é necessária

 

      «Nike forçada a parar produção de ténis por plágio étnico» (TSF, 24.05.2019, 18h39). Esta notícia trouxe-me à memória outra palavra que os nossos dicionários ignoram, também por ser, é verdade, uma realidade mais distante de nós: etnoturismo. Já no Brasil, porém, tem toda a importância.

 

[Texto 11 418]

Léxico: «pez-louro | pesgar»

Vamos afinar isto

 

      «Para ser uma verdadeira talha que respeite as práticas antigas há que revestir o interior com resina (pez-louro) porque a porosidade do barro faria com que muito vinho se perdesse. O “pesgar” da talha pode seguir várias receitas e não há fórmula única» («A vitória do barro», João Paulo Martins, «Revista E»/Expresso, 19.04.2019, p. 97).

      João Paulo Martins ainda não sabe que não deve usar as aspas nestes casos. Pode ser que um dia aqui chegue. Peguemos em pesgar. Está no Dicionário da Língua Portuguesa da Porto Editora, mas a definição não me convence inteiramente: «no processo de fabricação de vinho, barrar com pez, para impermeabilizar e, assim, impedir a evaporação, as barricas ou as talhas em que se deita a uva para fermentar». Na realidade, é pez-louro, que aquele dicionário, ao contrário de outros, não acolhe. Por outro lado, as perdas de líquido por porosidade da talha devem-se mesmo à evaporação?

 

[Texto 11 417]

Léxico: «asilante»

Mais um pedaço de mundo

 

      No compacto do programa de José Candeias, na Antena 1, hoje, falou um indivíduo que em tempos esteve na Marinha e que usou um termo da gíria da nossa Marinha para designar o marinheiro que pernoita regularmente no navio, quando atracado na base e ainda que não esteja de serviço, ou o marinheiro que pernoita na unidade em que está colocado em terra: asilante. Até em diplomas legais se encontra a palavra e, contudo, o Dicionário da Língua Portuguesa da Porto Editora ainda não a topou por aí. Diga-se, aliás, que o vocábulo tem outras acepções que não são da gíria.

 

[Texto 11 416