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Linguagista

A botânica ignorada

Mau balanço

 

      «O estudo agora publicado vai mais além, ao analisar em culturas bacterianas, em laboratório, os efeitos de estractos [sic] de três das plantas. São elas o carvalho-branco (Quercus alba), que existe em abundância em todo o leste dos Estados Unidos, a árvore-das-tulipas (Liriodendron tulipifera), muito comum no estado da Virgínia, e a arália (Aralia spinosa), um arbusto nativo do leste dos Estados Unidos» («Da guerra civil americana para o laboratório. Em busca de novos antibióticos», Filomena Naves, Diário de Notícias, 22.05.2019, 13h01).

      Ah, a botânica nos dicionários... No Dicionário da Língua Portuguesa da Porto Editora, nem sequer uma das três palavras mencionadas, embora arália ande perdido nos bilingues. (Filomena Naves, cuidado com a aplicação das regras do AO90; se já é uma mexerufada sem erros, quanto mais escrito com displicência. Não é nada — logo dois erros numa só palavra!  Apre!)

 

[Texto 11 425]

Léxico: «etnobiólogo»

Metade da tarefa

 

      «A investigadora [Cassandra Quave], que é etnobióloga e estuda o uso das plantas nas medicinas tradicionais, fez há anos a tese final do curso sobre o guia que o cirurgião-geral dos confederados, Samuel Moore, elaborou a partir de um livro de plantas medicinais locais, que tinha sido compilado pouco antes pelo botânico Frascis Porcher, a pedido da Confederação» («Da guerra civil americana para o laboratório. Em busca de novos antibióticos», Filomena Naves, Diário de Notícias, 22.05.2019, 13h01).

      A etnobiologia ainda o Dicionário da Língua Portuguesa da Porto Editora chegou, depois não teve alento para mais.

 

[Texto 11 424]

Léxico: «metalite»

Em nenhum

 

      O que ele disse (eu ouço muito bem) foi que para a drenagem das águas pluviais ia utilizar tubos de queda de metalite e canalização de PVC de 0,4 MPa. (Vê-se logo que é engenheiro.) Em que dicionário da língua portuguesa, do mundo inteiro, podemos ver o vocábulo metalite, não me sabem dizer?

 

[Texto 11 423]

Léxico: «securitarismo»

À solta, fora dos dicionários

 

    «Pensar que podemos construir uma sociedade mais justa não nos protegendo disto ou até premiando este comportamento é preparar uma espécie de securitarismo selvagem, onde um exército de mercenários ou de supostos freedom fighters devassam a vida de todos» («Privatizar a justiça», Daniel Oliveira, Expresso, 6.04.2019, 0h01, itálico meu).

 

[Texto 11 422]

Confusões: «à | há»

Para isto não há remédio

 

      É imprescindível termos bons dicionários, com indicações úteis e chamadas de atenção para as confusões mais habituais — mas, na aplicação, na escrita, o falante tem de se esforçar, em especial se o seu instrumento de trabalho for a língua. «Há frente, o Camry tem diversas regulações nos bancos, o que oferece a mais correta posição de condução» («Toyota Camry de volta ao mercado português com versão híbrida», José Carlos Silva, Rádio Renascença, 24.05.2019, 15h51). Como é que um redactor, repórter e editor, jornalista desde 1991, escreve assim? E por que raio não revê o que escreve? Passaram dois dias, como é que ninguém vê e corrige?

 

[Texto 11 421]

Léxico: «oxicorte | oxicombustível»

Mais duas esquecidas

 

      Outras duas estranhas ausências em todos os nossos dicionários: oxicorte e oxicombustível. Oxicorte, por exemplo, já estava na Grande Enciclopédia Portuguesa e Brasileira, e era definido, entre outros pormenores, como um processo de corte de metais ferrosos, particularmente aplicável aos aços de baixo teor em carbono. Como é que palavras assim, com largas décadas de uso, escapam à atenção dos lexicógrafos? Na mesma situação estarão milhares de outras.

 

[Texto 11 420]