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Linguagista

Léxico: «periimplantar | periimplantite»

É ao contrário

 

      Uma vez que há ignorantes que estranham que existam vocábulos na língua portuguesa com duas vogais iguais seguidas, e até escrevem livros em que afirmam que isso é produto do Acordo Ortográfico de 1990, convém que rapidamente a Porto Editora dicionarize dois vocábulos destes: periimplantite, que é a infecção crónica ou aguda que circunda os implantes odontológicos, e periimplantar. Na verdade, é no âmbito do Acordo Ortográfico de 1945 que o prefixo peri-, a par de muitos outros, não é, em caso algum, seguido de hífen. Logo, periimplantar, periimplantite. Segundo as regras do Acordo Ortográfico de 1990, é ao contrário, o hífen é obrigatório. Logo, peri-implantar, peri-implantite. Como é que esta gente confunde tudo é que eu não percebo.

 

[Texto 11 462]

Léxico: «semiasa»

Ninguém ajuda

 

      «Gabinete de Prevenção e Investigação de Acidentes com Aeronaves e de Acidentes Ferroviários conclui que houve falhas na manutenção do avião da Air Astana que em novembro voou descontrolado sobre os céus de Lisboa até aterrar de emergência em Beja. [...] Entre as falhas encontradas foi possível confirmar que nos controlos do avião houve uma “incorreta instalação do sistema de cabos de comando dos ailerons, em ambas as semi-asas”» («Avião que voou descontrolado sobre Lisboa teve falhas e erros na manutenção», Nuno Guedes, TSF, 31.05.2019, 18h25).

    No Gabinete de Prevenção e Investigação de Acidentes com Aeronaves e de Acidentes Ferroviários (GPIAA) não sabem escrever, e o jornalista está a borrifar-se. É semiasa, a distância entre a linha de centro e a ponta da asa. Por qualquer motivo inescrutável, os lexicógrafos também não colaboram.

 

[Texto 11 461

Léxico: «desintermediar»

Mudaram os tempos

 

      Sim, o Dicionário da Língua Portuguesa da Porto Editora até regista desintermediação, mas não apenas a definição não está correcta, como não acolhe o verbo desintermediar. Define-o assim: «ECONOMIA redução da participação do sistema bancário no processo de intermediação, traduzido pela intensificação do financiamento directo das empresas no mercado de capitais». Ora, há desintermediação em vários sectores da economia, não apenas no sector bancário, e tudo aconteceu com o advento da Internet. E também temos a reintermediação, mas fiquemos agora por aqui.

 

[Texto 11 460]

Léxico: «batucu»

Mas não em crioulo

 

      Na última edição da revista do Montepio, fala-se do mais recente trabalho de Dino D’Santiago, cuja música «junta vários ritmos numa só batida, do funaná ao afro-house, passando pelo batuku e pela morna». Isto escreve Sara Batista, mas apenas porque não conhece bem a nossa língua. Tanto funaná como morna são — aponte aí — palavras portuguesas. Em vários livros, e até dicionários, vejo batucu ou batuco, e era assim que o Dicionário da Língua Portuguesa da Porto Editora o devia registar. E, contudo, acolhe batucadeira (e batucador, pá?), se bem que a definição não seja muito esclarecedora.

 

[Texto 11 459]

Léxico: «vitimologia | vitimologista»

Para começar bem

 

   Vou frequentar brevemente (nos dois sentidos) um curso de vitimologia, mas não o queria fazer sem que o Dicionário da Língua Portuguesa da Porto Editora registe os termos vitimologia, vitimologista/vitimólogo. É o mínimo. No fundo, é o meu primeiro TPC. Então, já que perguntas, a vitimologia é o estudo da vítima no momento do crime, da ocorrência até às suas consequências.

 

[Texto 11 458]

Léxico: «proactividade | pró-actividade»

Mais uma boa pergunta

 

      Até podemos pensar que o Dicionário da Língua Portuguesa da Porto Editora não regista pró-actividade porque defende que a única grafia admissível é proactivo. Então, se for assim, por que raio acolhe, a par de proactivo, a grafia pró-activo, não me dizem? Ninguém está obrigado a ser coerente, mas é mais digno de crédito e da nossa admiração aquele que procura sempre a coerência.

[Texto 11 457]

A intuição e o trabalho

Inadmissível

 

      A ortografia não é tudo, mas é uma boa parte da língua. Aqui um tradutor verteu hedgehog por «ouriço-caixeiro». Uma pessoa que lida com a língua todos os dias, como é o caso de um tradutor, tem de se imunizar contra estes desvios de cariz popular, estas corruptelas filhas da ignorância, o que só pode conseguir por muita leitura e muita consulta de dicionários. Aqui de pouco valem intuições.

 

[Texto 11 456]