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Linguagista

Léxico: «modularização»

Da mesma família

 

      «O investimento em investigação e desenvolvimento (I&D) feito pela indústria para aumentar o valor agregado dos seus produtos que, para além do fabrico e da modularização de veículos, inclui áreas como software e serviços de mobilidade, diminuiu as margens de lucro das marcas que são obrigadas a partilhar recursos e a reduzir custos, com implicações diretas nas próprias fábricas e nos fornecedores» («O que falta fazer para uma engenharia automóvel do futuro?», António Luís Moreira, Público, 4.04.2019, 6h10).

      O termo modularidade encontramo-lo no Dicionário da Língua Portuguesa da Porto Editora, mas não modularização, que se usa em arquitectura, em informática, etc.

 

[Texto 11 471]

Léxico: «bilugar»

Não custa acrescentar

 

      «A queda de um paramotor (parapente com motor) no concelho de Águeda causou esta segunda-feira dois feridos, disse à Lusa fonte do Comando Distrital de Operações de Socorro (CDOS) de Aveiro» («Dois feridos em queda de paramotor em Águeda», Rádio Renascença, 3.06.2019, 21h08).

      Está no Dicionário da Língua Portuguesa da Porto Editora, é verdade. Vejam, porém, o que se diz na página da Internet do Clube Vertical em relação à iniciação ao parapente em voos de bilugar: «A iniciação ao parapente em voos de bilugar não requer nenhuma experiência anterior da parte do passageiro, não havendo outras restrições salvo condições de saúde graves. Os nossos pilotos de bilugar estão devidamente acreditados e segurados para o efeito, seguro esse que inclui o passageiro.» Era isso, bilugar, que os dicionários não registam.

 

[Texto 11 470]

Léxico: «consequencialismo | consequencialista»

Mais terra-a-terra

 

      Ora leiam isto: «Se essa coincidência não se verificar, acrescentam, o consequencialismo das regras não será uma teoria consistentemente consequencialista, pois sancionará a reprovação de actos que têm as melhores consequências» (Manual de Filosofia Política, João Cardoso Rosas. Coimbra: Edições Almedina, 2.ª ed. revista e aumentada, 2013, p. 15).

      Os nossos dicionários é que não são lá muito dados a filosofias, e esquecem-se de ambos os vocábulos, consequencialismo e consequencialista. Quem as amarga somos nós, que lidamos com a língua todos os dias.

 

[Texto 11 469]

Léxico: «comoditização»

Há piores

 

     «Um dos principais desafios das empresas deste setor [energético] é minimizar o risco associado ao avanço da comoditização da energia (eletricidade e gás)» («A energia dos millennials», Rui Assis, Observador, 20.10.2018, 00h04, itálico meu).

      Desde a década de 1980 que o vejo por aí, sobretudo no jornalismo económico, e já se sabe, antes um aportuguesamento do que um termo estrangeiro, e comoditização nem sequer nos causa grandes engulhos.

 

[Texto 11 468]

Léxico: «bazulaque»

Erros não faltam

 

      «Um bazulaque sobre a mesa. Uma espécie de guisado à base de miúdos de carneiro, cozinhados em frigideiras ou caçoilas de barro, onde depois de se pode molhar o pão. Estamos no século XV e sorte de quem, na Lisboa medieval, tem esse pitéu sobre a mesa» («A padeira e o marchante que alimentaram a Lisboa medieval», Cristiana Faria Moreira, Público, 3.05.2019, p. 22).

      Está no Dicionário da Língua Portuguesa da Porto Editora, sim, mas tenho dúvidas. Será mesmo caso para figurar como segunda acepção? Hum... Deu-se o nome de bazulaque ao homem baixo e muito gordo porque se alambazava com tal pitéu, não o contrário. Lê-se naquele dicionário que é um «guisado de miúdos», mas a jornalista acrescentou, e bem, que se trata de miúdos de carneiro, e não outros quaisquer. Faz toda a diferença — pelo menos para quem o come. Há uma variante, badulaque, que a Porto Editora regista, mas para a qual bazulaque não remete. Na variante, a definição já não é a mesma: «guisado de fígado e bofes em bocados pequenos; bazulaque». Enfim, erros, imprecisões, injustificadas diferenças de tratamento não faltam.

 

[Texto 11 467]

Português sem compromisso

Sem cerimónia

 

      «Você sonha, a gente realiza», lê-se nos tapumes de uma obra na Quinta da Marinha. A empresa é a Major Development. Será a mesma que tem sede na Tailândia? Bem, a esta hora até a rainha Suthida, sob cujos auspícios a empresa opera, já fala este português popular.

 

[Texto 11 466]

Léxico: «géiser | gêiser»

E o plural

 

      «De vez em quando, redemoinhos de pó provocados por fortes correntes de vento rasteiro recordavam-me os géiseres de Costa Rica» (O Mundo Que os Portugueses Criaram, Armando de Aguiar. Lisboa: Empresa Nacional de Publicidade, 1951, p. 328).

      Aqui está correcto, mas acabei de ver um plural (geísers»!) errado num texto que estou a rever. Quanto ao Dicionário da Língua Portuguesa da Porto Editora, porque não acolhe a grafia gêiser? Porque não regista o plural? Não é assim que se ajuda o falante.

 

[Texto 11 465]