Muito enganador
«O aumento da temperatura vai prejudicar a qualidade dos vinhos, que podem ter um teor alcoólico mais elevado e uma menor acidez. Por outro lado, estão já a verificar-se outras alterações, como a redução nos compostos fenólicos, aqueles que são responsáveis pela cor dos vinhos tintos. [...] É por isso que hoje estão a usar-se mais as castas tintureiras – para compensar a falta de cor. No que toca aos vinhos brancos, o problema prende-se com a falta de acidez» («Vinho com menos cor e menor acidez. É o impacto das alterações climáticas na vinha», Manuela Pires, Rádio Renascença, 5.06.2019, 10h19).
Tintureira está no dicionário da Porto Editora, mas não nos enganemos: não se trata do mesmo conceito. «BOTÂNICA variedade de videira (ou as suas uvas) cultivada em Portugal, que produz grandes bagos pretos, também conhecida por tintureiro». Sem querer brincar com as palavras, esta casta não é tintureira no sentido do artigo da Rádio Renascença, isto porque as uvas das castas tintureiras têm polpa escura. Se por «bago preto» (termo talvez equívoco) se entende a película, de certeza que não é tintureira, pois as uvas de película escura têm polpa clara. Exemplos de uvas tintureiras: Alicante-Bouschet, Grand-Noir, Petit-Bouschet, Teinturier, Gamay-Teinturier, Royalty, Rubired. Entre nós, a casta Vinhão, ou Sousão, de uva preta (que o dicionário da Porto Editora acolhe), é usada para esse fim, apesar de ter polpa levemente rosada. Por fim: de certeza que a definição de casta naquele dicionário está correcta? Não me parece, mas ajuíze cada um por si: «(enologia) qualidade aromática que cada uma das variedades de uva transmitem ao vinho que originam».
[Texto 11 484]