Léxico: «ossada | restos mortais | cinzas»
Pensemos nisto
«O relicário com os restos mortais do beato Bartolomeu dos Mártires foi roubado na terça-feira da igreja de São Domingos, situada no centro de Viana do Castelo, disse esta quarta-feira à Lusa o pároco Vasco Gonçalves» («Relicário com ossadas de Bartolomeu dos Mártires roubado de igreja de Viana do Castelo», Observador, 12.06.2019, 12h09).
«Ossadas»? Ossada, meus meninos, é um substantivo colectivo — como meninada, papelada, etc. Sim, é verdade que no artigo usam «ossada», mas o título tem uma importância crucial, e está errado. Para Fr. Bartolomeu dos Mártires ter ossadas, tinha de ter mais do que um esqueleto. Quanto a considerar «restos mortais» sinónimo de «ossada», tenho as minhas dúvidas. O dicionário da Porto Editora, entre outros (que nisto todos se copiam), diz que restos mortais é o «cadáver ou cinzas de alguém». Não será antes simplesmente sinónimo de «cadáver de alguém»? Alguém morre num acidente, por exemplo: fica ali um cadáver, os restos mortais. Teremos cinzas depois de cremado, ou ossada depois de parte do corpo ser consumido com a inumação. Por fim, uma palavrinha sobre a ilustração do artigo: se a notícia é sobre um acontecimento na Igreja de São Domingos, em Viana do Castelo, porque usam uma imagem da Sé da Guarda?
[Texto 11 529]