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Linguagista

Léxico: «radiocirurgia | submilimétrico»

Só uma nos bilingues

 

      «É uma das mais recentes inovações na luta contra o cancro. Tecnologicamente falando. Um equipamento de radiocirurgia com um braço robótico que dá a dose máxima ao tumor e protege os tecidos à volta. Chama-se Cyberknife e já está na Península Ibérica» («A máquina que combate o cancro com precisão submilimétrica», Sara Dias Oliveira, Notícias Magazine, 13.06.2019).

 

[Texto 11 534]

Léxico: «gratificado»

Crónica policial

 

      «O PSP estava de gratificado num arraial quando foi chamado por uma cidadã, que o alertou para o facto de estar um homem a tocar-se e a insultar quem estava no velório» («Homem toca-se durante velório e ataca PSP ao murro», S.A.V., Correio da Manhã, 13.06.2019, 1h30).

      É uma maneira tão parva de dizer as coisas, que até revolta. Uma «cidadã», o homem a «tocar-se», enfim. Nietzsche dizia, e é a segunda vez que o lembro aqui, que toda e qualquer profissão lança um céu de chumbo sobre a cabeça de quem a pratica, forjando-lhe uma visão do mundo, e é bem verdade. Este textinho só serve para chamar a atenção para aquele gratificado, que anda por aí há anos e ninguém se digna levá-lo para os dicionários.

 

[Texto 11 533]

Léxico: «transasiático»

Mais uma peça

 

      «O comunicado de imprensa do Instituto Max Planck refere ainda que alguns dos esqueletos e objectos encontrados no local apresentavam características que se assemelham às dos povos contemporâneos mais a oeste na Ásia Central. “Além disso, estudos de isótopos estáveis sobre os ossos humanos do cemitério mostram que nem todas as pessoas enterradas lá cresceram localmente”, refere o documento, concluindo que os dados encaixam na ideia de que as montanhas desta região tenham tido “um papel fundamental nas primeiras trocas transasiáticas”» («O ritual de fumar cannabis tem (pelo menos) 2500 anos», Andrea Cunha Freitas, Público, 13.06.2019, p. 32).

      Vamos lá, Dicionário da Língua Portuguesa da Porto Editora, só é feriado aqui em Lisboa: tran·sa·si·á·ti·co.

 

[Texto 11 532]

Léxico: «queimador»

O objectivo é outro

 

      «Foi Yimin Yang, investigador na Universidade da Academia das Ciências da China e no Instituto Max Planck, que apresentou o cenário que coloca o consumo de cannabis no alto das montanhas [Pamir] num ritual em que seria usada como meio para comunicar com entidades divinas ou com os mortos. Assim, as pedras seriam aquecidas, depois transferidas para os queimadores de madeira e, nessa altura, as pessoas em volta inalavam o fumo. [...] Com os novos métodos de análise, foi possível isolar os compostos químicos encontrados nas pedras dos queimadores descobertos durante uma escavação levada a cabo por uma equipa de arqueólogos da Academia Chinesa de Ciências Sociais» («O ritual de fumar cannabis tem (pelo menos) 2500 anos», Andrea Cunha Freitas, Público, 13.06.2019, p. 32).

      É óbvio que não encaixa em nenhuma das duas acepções de queimador no Dicionário da Língua Portuguesa da Porto Editora: «1. aquele que queima; 2. aparelho ou dispositivo que faz a queima de um combustível, com o objectivo de produzir energia calorífica». Como um queimador de incenso também não encaixa.

 

[Texto 11 531]

Léxico: «fotoprotecção | fotoprotector»

Basta ir à farmácia

 

       Ontem fui a uma farmácia aqui perto de casa e que vi na parede? Um cartaz de produtos Isdin que garantia uma eficaz fotoprotecção. São, portanto, produtos fotoprotectores, coisa que a generalidade dos dicionários — entre os quais se inclui, sem grande surpresa, o da Porto Editora — ignora. O Aulete, incongruentemente, só regista o adjectivo. Já fotodegradação, por exemplo, um inimigo dos nossos livros, está em todos os dicionários.

 

[Texto 11 530]