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Linguagista

Léxico: «tremocilha | consociação»

A agricultura, essa desconhecida

 

      «Num olival antigo da exploração de Montemor-o-Novo estão plantadas várias outras espécies de árvores: nogueiras, figueiras, citrinos e também nabo forrageiro, tremoço e tremocilha, hortícolas. “Neste modelo em que as multifunções aumentam a resiliência do sistema”, até os eucaliptos e os plátanos são chamados a participar na nova agricultura “pela enorme quantidade de biomassa que produzem”, assinala o técnico [Ricardo Silva], apontando para as figueiras que desempenham a função de tutoras de videiras» («Nesta herdade os sobreiros também têm direito à reforma», Carlos Dias, Público, 17.06.2019, p. 17).

      Não seja mentiroso, tu registas é «termopilha». Isto é tremocilha (Lupinus luteus L.), uma planta forrageira. E isto leva-me à palavra consociação, que o Dicionário da Língua Portuguesa da Porto Editora também não regista.

 

[Texto 11 555]

Léxico: «terajoule»

É para rir

 

      «Só em 2017, o benefício para o país resultante do consumo evitado de energia primária foi de 36.829 MJ/ton de pneus usados, tendo a poupança global de energia atingido os 2.994 TJ (TeraJoules)» («A energia poupada com a valorização de um pneu usado», Motor 24, 17.06.2019).

      Terajoule escrito daquela forma? Os jornalistas são uns patuscos, nem precisamos de humoristas. O Dicionário da Língua Portuguesa da Porto Editora o mais longe que chega é a megajoule. Não compreendo estas falhas.

 

[Texto 11 554]

Léxico: «carvalhesa»

Triste país

 

      «Centenas de pessoas despediram-se este domingo, em Lisboa, do dirigente comunista Ruben de Carvalho, com um “até sempre”, ao som de uma guitarra, da “Carvalhesa” e do “Avante Camarada” e com a promessa do líder do partido de "prosseguir a luta”» («Centenas no “até sempre” a Ruben de Carvalho, ao som de guitarra e da “Carvalhesa”», TSF, 16.06.2019, 18h04).

      Um dia o Sol brilhará também para os nossos dicionários. Então, vamos lá ver, por que razão não está carvalhesa — uma das três danças típicas do termo de Vinhais, composta de quatro figuras e acompanhada por gaita-de-foles e ferrinhos — nos nossos dicionários e a vamos encontrar em dicionários galegos? Ah, sim, já estava na Grande Enciclopédia Portuguesa e Brasileira.

 

[Texto 11 553]

Léxico: «catacus»

E o nome científico

 

      «“Com a água utilizada na rega de alfaces produzimos beldroegas e catacuzes”, acentua o técnico [Ricardo Silva, da Herdade Freixo do Meio], lembrando como se tem “abandonado muita coisa que é nacional” a partir do momento que “nos foram convencendo a comprar árvores e sementes que não se sabe de onde vieram”» («Nesta herdade os sobreiros também têm direito à reforma», Carlos Dias, Público, 17.06.2019, p. 17).

      Se os lexicógrafos quiserem (querem?) ser verdadeiramente úteis, em catacus (nome masculino de 2 números), única grafia admitida, fazem uma nota a chamar a atenção para esta forma errónea — mas praticamente a única usada, essa é que é essa. No caso do Dicionário da Língua Portuguesa da Porto Editora, há outra falha: não regista o nome científico, que é Rumex crispus L.

 

[Texto 11 552]

Léxico: «sintrópico»

Outra esquecida

 

      «A experiência está a decorrer na Herdade da Ribeira Abaixo. Árvores de fruto estão a ser plantadas nas zonas baixas para aproveitar a humidade do solo: um pomar biodiverso para produzir, para além de hortícolas e árvores de fruto, sobreiros e pinheiros, ervas aromáticas, como tomilho, orégãos, poejo. É a chamada “[agri]cultura sintrópica”» («Nesta herdade os sobreiros também têm direito à reforma», Carlos Dias, Público, 17.06.2019, p. 17).

 

[Texto 11 551]

Léxico: «fitóftora»

Tudo explicado

 

      «“Através da competição bacteriológica, julgamos poder encontrar bactérias antagonistas da fitóftora (Phytophthora cinnamomi)”, espera o biólogo [André Vizinho]. Esta bactéria patogénica muito agressiva pode estar presente em 30% a 80% das áreas de montado em declínio e vive no solo atacando as raízes das plantas causando podridão radicular» («Nesta herdade os sobreiros também têm direito à reforma», Carlos Dias, Público, 17.06.2019, p. 16).

      Nos nossos dicionários, estranhamente, não encontro o vocábulo fitóftora. Fica aqui tudo explicadinho.

 

[Texto 11 550]

O género de «ênfase», de novo

Só quatro segundos

 

      «Luís Montenegro vai participar na edição de julho do “Advanced Management Programme”, o programa de gestão avançada para executivos do Instituto Europeu para Administração de Empresas — INSEAD, sediado em Fontainebleau, França. [...] Questionado pelo Expresso, o ex-líder parlamentar do PSD confirma a informação, mas é parco em considerações. “Vou com o objetivo firme de me qualificar mais para o futuro, em todas as suas dimensões”, é o único comentário que profere. Para o caso, o ênfase na expressão “em todas as suas dimensões” equivale a uma reafirmação da sua candidatura» («Luís Montenegro vai estudar... para suceder a Rio e Costa», Filipe Santos Costa, Expresso, 16.06.2019, 13h00, itálico meu).

      Luís Montenegro, com um curso de quatro semanas, fica apto para ser primeiro-ministro. (Ou quase: também precisa de uma plástica para remover aquele sorrisinho embirrante.) Filipe Santos Costa — licenciado em Ciências da Comunicação! — precisa de uma ensaboadela de quatro segundos para ficar a saber que «ênfase» é do género feminino. Se eu fosse responsável por um dicionário, no verbete de ênfase punha uma chamada de atenção para o género do vocábulo, em que tantos erram.

 

[Texto 11 549]

Léxico: «biovigilância»

Desatentos

 

      «A segunda fase, com o programa BIOSCAN, vai analisar até 2026 as interações entre espécies e estabelecer as bases de uma rede monitorização da biodiversidade para a terceira fase, designada Missão para a Biodiversidade Planetária, a qual pretende completar em 20 anos o inventário total da vida e implementar um sistema global de biovigilância» («Universidade do Minho em “programa revolucionário” de monitorização da biodiversidade», Observador, 16.06.2019, 21h38).

      Dicionários da minha terra, onde está a biovigilância, que não a vejo em lado nenhum?

 

[Texto 11 548]