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Linguagista

Léxico: «báscula»

Fica-se na mesma

 

      «Um camião com a báscula aberta chocou esta terça-feira à tarde com um viaduto da autoestrada A1, na zona de Oiã, Oliveira do Bairro» («Camião com báscula aberta choca com viaduto e corta A1», Rádio Renascença, 18.06.2019, 17h58). Pela consulta dos nossos dicionários não se fica a saber o que é báscula neste sentido nem tão-pouco camião basculante. Fica à imaginação do pobre leitor ou ouvinte.

 

[Texto 11 561]

Léxico: «infiltração»

Um tratamento anormal

 

      O Sr. ***, diabético, depois de um internamento prolongado, ficou com um ombro congelado, cujo termo médico é capsulite adesiva. Comecemos por aqui: capsulite não está no Dicionário da Língua Portuguesa da Porto Editora. Nunca ponderaram seriamente em fundir os dois dicionários, o geral e o de termos médicos? Vamos agora ao tratamento do Sr. ***. O médico disse-lhe que a melhor solução são infiltrações intra-articulares. Ora, para o dicionário da Porto Editora, infiltração é o «derramamento anormal de um líquido entre os elementos anatómicos dos tecidos orgânicos». Vai tratar-te.

 

[Texto 11 560]

Léxico: «flagelárias»

Caso raro

 

      Ontem, a propósito das microalgas, dinoflagelados, que estão a avermelhar o mar algarvio, lembrei-me das flagelárias — que só encontro no Michaelis! «Denominação comum às plantas herbáceas do gênero Flagellaria, da família das flagelariáceas, originárias da Austrália, de caule lenhoso, aproveitado pelos aborígenes na confecção de cordas e artesanatos trançados.»

 

[Texto 11 559]

Léxico: «micropropriedade»

Até os políticos

 

       «Medida visa contrariar tendência para micropropriedade. Limite das áreas vai variar consoante a região do país. [...] Este limite, designado por Unidade Mínima de Cultura (UMC), é de quatro hectares em algumas áreas do Norte e Centro do país, onde a propriedade predominante é o minifúndio. E vai aumentando à medida que se avança para o Sul do país, podendo chegar aos 48 hectares na zona da lezíria do Tejo e em algumas áreas do Alentejo» («Lei proíbe divisão de terrenos abaixo de oito hectares», Eduardo Pinto, Jornal de Notícias, 26.01.2019, 17h17).

      Eis uma medida inteligente, num país onde elas não abundam. Veja-se o caso, divulgado ontem, de ninguém saber ao certo o custo de 50 % dos benefícios fiscais existentes. Voltemos à micropropriedade: ainda ontem à noite, num noticiário na rádio, ouvi Catarina Martins, do Bloco de Esquerda, usar a palavra micropropriedade. Ainda não está em nenhum dicionário.

 

[Texto 11 558]

Variedades de cerejas

Registem pelo menos as portuguesas

 

      «Em cada campanha, Resende começa sempre primeiro, com a fruta madura e disponível em meados de abril, abundam as variedades earlise, brooks, abrileira e rabicha, todas com ótima concentração de sabor e grande vocação culinária. Cerejas que se comem e ao mesmo tempo produzem, por assim dizer. Doçaria diversa, o próprio fruto confitado, e receituário clássico dão-lhes destino nobre. No momento de escolher, uns vão para as mais escuras pela riqueza em açúcar e sumo, outros contudo preferem as mais pálidas pelo equilíbrio entre doce e amargo. Importante é que o fruto esteja são, e isso percebe-se quando está ainda bem preso ao pedúnculo. [...] De Saco, napoleão-pé-comprido, morangão, espanhola, burlat, big windsor, hedelfingen, sunburst, summit, bigarreau tardif de vignola, sam, schneider, stark andy e stella são algumas das variedades que temos a pontear os pomares portugueses, nos quais as crianças adotam a árvore favorita, comem o fruto dela e brincam em família primeiro, mais tarde com amigos» («Cerejas: a origem, a história e as regiões de proveniência em Portugal. Um Ensaio de Fernando Melo», «DN Ócio»/Diário de Notícias, 24.05.2019).

 

[Texto 11 557]

Léxico: «neve»

Não a encontramos lá

 

      «Destes tempos antigos, restam alguns vestígios na Baixa de Lisboa, nomeadamente na fachada da antiga Pastelaria Pomona (Rua da Prata, 113) ou o Café Gelo, no Rossio – alguns dos “cafés chiques” que Carlos Ribeiro referia. Também no Palácio Nacional da Ajuda se conservam alguns dos recipientes usados para “servir as neves” à corte, como as taças ou baldes de gelo em vidro, cristal, porcelana ou prata, revela Maria João Burnay, conservadora de vidros do palácio. [...] Entre os imensos serviços que a rainha comprava para a Casa Real, estão contempladas as peças para servir as “neves”, com o seu monograma» («O gelo do Montejunto que abastecia os reis de Portugal», Marina Almeida, «DN Ócio»/Diário de Notícias, 17.06.2019).

      Não vejo esta acepção de neve no Dicionário da Língua Portuguesa da Porto Editora, e não é o único com esta falha.

 

[Texto 11 556]