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Linguagista

Léxico: «orbitofrontal»

O organismo doente

 

      «Se somarmos o córtex frontal e orbitofrontal na sua plenitude — ainda na testa — assistimos a uma alteração do comportamento nas dimensões da empatia e da capacidade de decisão. Admitindo que a consistência moral não segue um livre-arbítrio, é aqui que tudo se poderá eventualmente passar» («O neurónio da corrupção», Mésicles Helin, TSF, 9.12.2018, 14h55). É orbitofrontal, sim, à semelhança de «dorsolateral» ou «ventromedial», por exemplo, mas o Dicionário da Língua Portuguesa da Porto Editora não o acolhe.

      Muito a tempo e a propósito se diga que não faltam erros naquele texto de Mésicles Helin, como, só para dar um exemplo, e nem sequer o pior, «préfrontal». Pode dizer-se que a culpa é de quem o aplica, e não do AO90 em si mesmo, mas também podemos perguntar quem pediu àqueles incompetentes um acordo ortográfico. Eu não pedi. Achava, e disse-o, necessária uma reforma ortográfica, e nem sequer muito profunda, mas apenas para nós, sem envolver os outros países de língua portuguesa. Eh pá, deixem a língua seguir o seu curso natural, como um organismo ou uma doença. Mas, neste caso, com o cataplasma avariado do AO90 em cima, já é um organismo doente. Isto agora é rezar-lhe por alma.

 

[Texto 11 580]

Léxico: «progestogénio | progestógeno»

Mero acaso

 

      Vamos ver se eu percebo: o Dicionário da Língua Portuguesa da Porto Editora regista o par de vocábulos estrógeno/estrogénio, mas não progestogénio/progestógeno, é isso? E tal obedece a algum propósito ou é mero acaso da vida? E que ataque de logorreia foi esse de no Dicionário de Termos Médicos definirem progestogénio como «tipo de hormona»?

 

[Texto 11 579]

Léxico: «bâncsia»

O habitual

 

      «Contra o contorno enegrecido das árvores mais altas, bâncsias e acácias criam nova vegetação rasteira» (Cleo, Helen Brown. Tradução de Elsa T. S. Vieira. Alfragide: Caderno, 2009, p. 338). Sim, bâncsia (Banksia cunninghamii), uma proteácea originária da Austrália que só encontramos num dicionário bilingue.

 

[Texto 11 577]

Léxico: «auto-estimulação»

Por causa da aventura danosa

 

      «“Supõe-se que a reacção de antecipação do objectivo funcione simultaneamente como impulso e como reforço”, diz Osgood, que sugere: “É o aumento da auto-estimulação aquilo que motiva e a redução da auto-estimulação aquilo que reforça”» (Teoria do Jogo, António Cabral. Lisboa: Editorial Notícias, 1990, p. 10).

      Claro que deve estar nos dicionários, porque agora, com a porcaria do Acordo Ortográfico de 1990, já ninguém vai sabendo como se deve escrever. Se houve alguém que perdeu muito com esta aventura danosa para a língua, foram os revisores: nunca os textos, seja qual for a sua natureza, apresentaram tantos problemas.

 

[Texto 11 574]

Léxico: «soalho pélvico»

Como se não existisse

 

      Outra coisa de que nem sequer os dicionários de termos médicos falam: soalho ou pavimento pélvico. É formado por uma fina camada de fibras musculares e tecido conjuntivo que encerram a cavidade pélvica na sua parte inferior, entre o osso púbico e o sacro posteriormente. Esta estrutura tem importantes funções, tanto no homem como na mulher, e há exercícios que se podem, e devem, fazer diariamente para fortalecer os músculos do pavimento pélvico.

 

[Texto 11 573]

Léxico: «vasocongestão»

Mesmo debaixo do nariz

 

      «A pesquisa, que recria artificialmente uma situação de insucesso sexual, mostrou que ambos os sexos relataram, em média, ter sentido menos prazer e excitação no segundo filme (após a “má noticia”). Porém, esse impacto não se traduziu na resposta fisiológica, que se manteve sensivelmente a mesma nas mulheres (vasocongestão vaginal) e com algumas alterações negativas nos homens (ao nível da ereção)» («Sexo: À minha maneira», Visão, 12.02.2014, 11h06).

      Os lexicógrafos, passadas tantas décadas, apenas se lembraram de «vasoconstrição» e de «vasodilatação».

 

[Texto 11 572]

Léxico: «lorico | lorículo | lorica»

Três de uma vez

 

      «Cleo estava deslumbrada pelas cores dos loricos arco-íris que se instalavam na pereira no nosso quintal» (Cleo, Helen Brown. Tradução de Elsa T. S. Vieira. Alfragide: Caderno, 2009, p. 297). Sim, é uma espécie de periquito da Oceânia, e não o encontramos no Dicionário da Língua Portuguesa da Porto Editora. E lorica, a forma divergente de loriga, porque não a registam? Depois, incongruentemente, vamos encontrá-las a todas nos bilingues. Enfim...

 

[Texto 11 571]