Léxico: «orbitofrontal»
O organismo doente
«Se somarmos o córtex frontal e orbitofrontal na sua plenitude — ainda na testa — assistimos a uma alteração do comportamento nas dimensões da empatia e da capacidade de decisão. Admitindo que a consistência moral não segue um livre-arbítrio, é aqui que tudo se poderá eventualmente passar» («O neurónio da corrupção», Mésicles Helin, TSF, 9.12.2018, 14h55). É orbitofrontal, sim, à semelhança de «dorsolateral» ou «ventromedial», por exemplo, mas o Dicionário da Língua Portuguesa da Porto Editora não o acolhe.
Muito a tempo e a propósito se diga que não faltam erros naquele texto de Mésicles Helin, como, só para dar um exemplo, e nem sequer o pior, «préfrontal». Pode dizer-se que a culpa é de quem o aplica, e não do AO90 em si mesmo, mas também podemos perguntar quem pediu àqueles incompetentes um acordo ortográfico. Eu não pedi. Achava, e disse-o, necessária uma reforma ortográfica, e nem sequer muito profunda, mas apenas para nós, sem envolver os outros países de língua portuguesa. Eh pá, deixem a língua seguir o seu curso natural, como um organismo ou uma doença. Mas, neste caso, com o cataplasma avariado do AO90 em cima, já é um organismo doente. Isto agora é rezar-lhe por alma.
[Texto 11 580]