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Linguagista

Léxico: «contra-exemplo»

É prudente

 

      «Só para dar um pequeno contra-exemplo. Em Amesterdão, a coligação de partidos que governam o municipal decidiu em reunião e por unanimidade retirar de imediato (10 de Outubro) os famosos signos de letras gigantescas IAMSTERDAM que se encontravam em sítios estratégicos e muito apreciados pelos turistas» («“Aprés nous le Déluge!”», António Sérgio Rosa de Carvalho, Público, 13.10.2018, 6h14).

      Custa sempre muito a engolir que esteja registado nos dicionários bilingues, mas não no dicionário geral da língua. Pode ser, essa ausência, parte da explicação para me aparecer aqui avariado em «contraexemplo» numa tradução que não segue o AO90. Pouca vocação para pensar e ter counterexample à frente do nariz podem desembocar nisto.

 

[Texto 11 586]

Léxico: «metafilosofia | metafilosófico»

Para quê esperar?

 

      Procurar indagar por que motivo alguns vocabulários registam os termos metafilosofia e metafilosófico e os dicionários não seria tarefa vã e destinada ao fracasso: mais vale propor que sejam dicionarizados, pois que se usam. Ainda agora, no original de uma tradução que estou a rever, aparece «meta-philosophical debates».

 

[Texto 11 585]

Léxico: «gerontolescente»

Os novos velhos

 

      «Neste exercício prospectivo, alguns académicos já adoptaram expressões como “gerontolescentes” para designar a emergência de uma nova etapa da vida a somar àquelas que nos habituámos a conhecer: “A ideia é que haverá uma nova geração de activos, autónomos, autores das suas próprias vidas, e capazes de revolucionar o conceito de velhice, da mesma forma que se revolucionou o conceito de juventude há uns anos, até porque estaremos a falar de uma geração muito mais tecnológica”, traduz o investigador Óscar Ribeiro» («Os novos velhos terão direito a uma segunda adolescência», Natália Faria, Público, 21.06.2019, p. 4).

 

[Texto 11 584]

À volta da velhice

Tudo muito vago

 

      «À pergunta “É-se velho a partir de que idade?”, a investigadora Teresa Rodrigues responde: “É-se velho a partir do momento em que a parte física e a mental já não permitem levar uma vida autónoma, nomeadamente no desempenho das necessidades do quotidiano.”» («Os novos velhos terão direito a uma segunda adolescência», Natália Faria, Público, 21.06.2019, p. 3).

      Nos dicionários, todos estes conceitos são mais ou menos vagos, difusos. Curiosamente, há um conceito preciso. No Dicionário da Língua Portuguesa da Porto Editora, meia-idade está definido como a «idade dos quarenta aos cinquenta anos, aproximadamente». Não sei, é certo, desde quando tem esta redacção, mas, supondo que tem décadas, mantém-se actual. «De volta ao consultório de Manuel Carrageta, o médico não aspirará atingir o limite da longevidade humana que os cientistas fixaram nos 115 anos. Mas, apesar dos seus 77 anos, garante que não se sente velho. “Se quisermos usar um marcador etário, diria que a partir dos 80 já podemos falar de velhos. As pessoas aos 70 ainda estão muito activas e empenhadas em actividades que ajudam a dar sentido à vida.”» (idem, ibidem, p. 4).

 

[Texto 11 583]

Léxico: «burmês»

Preferem em inglês...

 

      «Certa noite, quando ficaram em casa da tia de Chantelle, Trudy, que os apresentara quase dez anos antes, o burmês da residência insistiu em dormir na cama deles» (Cleo, Helen Brown. Tradução de Elsa T. S. Vieira. Alfragide: Caderno, 2009, p. 348).

      Sim, burmês, uma raça de gatos muito bonitos, com duas variantes, europeia e americana, e um antepassado comum, o gato tonquinês. Tive um azul-acinzentado que se comportava tal como um cão, miava muito para nos cumprimentar e até sabia abrir a porta no trinco. Não percebo é porque não encontramos tudo isto nos dicionários.

 

[Texto 11 582]

Léxico: «bandeirinha»

Só futebol

 

      «Paula Pepê nasceu em Campo Maior, no distrito de Portalegre, mas os pais trouxeram-na para Lisboa com dois anos. É por isso que diz que Lisboa é que é a terra dela. Hoje tem 52 anos, ainda que pareça que mais anos lhe estão gravados na pele. Em Outubro do ano passado, ocupou com o lho Vítor uma construção antiga que em tempos abrigou os “bandeirinhas” — os homens e as mulheres responsáveis por assinalar se era ou não seguro atravessar a linha do comboio. Fê-lo porque ficou sem tecto. E estar ali sempre era melhor do que dormir ao relento» («Há quem chame casa aonde antes se abrigavam os bandeirinhas», Cristiana Faria Moreira, Público, 21.06.2019, p. 18).

      Nos nossos dicionários, porém, bandeirinha é apenas o auxiliar do árbitro.

 

[Texto 11 581]