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Linguagista

Léxico: «salpa»

Não adianta muito

 

      Uma vaga de salpas (Salpa fusiformis) está a invadir as costas da Andaluzia e do Algarve. Trata-se de uns invertebrados gelatinosos, semelhantes às medusas, que parecem de plástico transparente. No litoral granadino, são conhecidas por zapaticos. Não são urticantes nem perigosas, bem pelo contrário. Além do mais, absorvem toneladas de CO2 por dia, sedimentando-o nos fundos marinhos. Encontramos o termo salpa no Dicionário da Língua Portuguesa da Porto Editora, mas não se indica o nome científico: «ZOOLOGIA nome vulgar extensivo a uns animais protocordados, tunicados, de corpo gelatinoso, que vivem isolados ou em colónias». Repare-se que pela definição nem sequer se fica a saber — ora bolas! — que são animais marinhos.

 

[Texto 11 605]

Léxico: «petiscaria»

Temo-las por aí

 

      «À boleia desta movida, Joana Osswald adaptou o negócio, passando a Mercearia das Flores a funcionar como petiscaria» («O triângulo que anima a Baixa do Porto», Florbela Alves, Visão, 16.05.2019, p. 100).

      Não, Porto Editora, já não é somente uma forma do verbo «petiscar»: há-as aí por todo o lado, basta sair de casa.

 

[Texto 11 604]

Léxico: «envergonhante»

Sim, tenho a certeza

 

      «Tratou-se de um espetáculo absolutamente deprimente. Tão deprimente e envergonhante como significativo do que acontece quando campeia uma total inversão de princípios e de valores» («Berardo: um “escândalo” com nome...», José Carlos de Vasconcelos, Visão, 16.05.2019, p. 81).

      Resposta: «A palavra pesquisada não foi encontrada neste dicionário. Verifique se a palavra ou expressão introduzidas estão bem escritas e pesquise novamente.»

 

[Texto 11 603]

 

Léxico: «bicho-da-farinha | larva-da-farinha»

Um processo

 

      «E o karaté é a maneira de subsistir e de poder continuar com a carolice de produzir tenébrios, a que o comum dos mortais chama “bicho-da-farinha”» («Insetos para o prato, já!», Luísa Oliveira, Visão, 16.05.2019, p. 74).

     No início de Fevereiro deste ano, sugeri que a Porto Editora dicionarizasse tenébrio, o que fez, e agora chegou a vez dos sinónimos bicho-da-farinha ou larva-da-farinha. Não podemos é pensar que está tudo feito, pelo contrário, é um processo, nunca acabará e, sobretudo, temos de recuperar o atraso.

 

[Texto 11 602]

Léxico: «tríade»

São mais de três

 

      «Os russos cortam os corpos em pedaços e espalham os restos no campo ou numa floresta. A faca é a arma de eleição das tríades de Hong Kong. Já a Yakuza japonesa prefere a espada, de preferência bem grande» («Esta vida de mafioso», Sílvia Caneco, Visão, 16.05.2019, p. 64).

      O pobre leitor que consulte o Dicionário da Língua Portuguesa da Porto Editora vai logo pensar que, se são só três marmanjos, até é capaz de despachá-los.

 

[Texto 11 601]

Léxico: «espadim-azul | espadim-branco»

São bem nossos

 

      «Nas águas da Madeira predominam espécies de atum como “o patudo, o voador, a albacora, o bonito (ou gaiado, um atum pequeno que nunca passa dos 10 quilos) e o rabilho (o grande predador)” mas também é possível encontrar espécies como o famoso Marlin, ou “espadim azul”, como os locais [sic] lhe chamam. Numa saída deste Wild One já se apanhou um destes, o maior peixe que já conseguiram dominar (272 quilos)» («Varas, corrico e sustentabilidade. À pesca de atum em Porto Santo, o “CR7” dos mares madeirenses», Diogo Lopes, Observador, 22.06.2019, 16h43).

      Na realidade, espadim-azul (Makaira nigricans), também conhecido por marlim-azul, tal como também há o espadim-branco (Tetraplurus albidus), também conhecido por agulhão, que, se andam nos nossos mares e até são lembrados em selos de correio, não estão no Dicionário da Língua Portuguesa da Porto Editora, que os únicos espadins que conhece é a espada curta e estreita e a moeda antiga. Azar o nosso.

 

[Texto 11 600]

Tradução: «especiado»

Agora em português

 

      «E, porque o ano foi fresco, apresenta-se “especiado, resinoso e mais balsâmico, com algumas notas florais e uma nota de mineralidade muito forte”, segundo o enólogo Luís Sottomayor, que o criou [vinho Cortes de Cima Amphora]» («Trio singular», Visão, 16-22.05.2019, p. 109).

      Acontece que especiado é castelhano, é o particípio do verbo especiar, «añadir especias a una comida». Em português dir-se-á então «condimentado», quando não «picante». Depois de alguém o usar, no âmbito da enologia, pela primeira vez, fosse por presunção, fosse por ignorância de que não era português, caiu no goto.

 

[Texto 11 598]

Já não há poetisas

A inveja do pénis

 

      «Na primeira biografia dedicada à grande poeta, cabem, sem medos nem genuflexões, muitas das suas facetas» («Arquipélago de memórias», S. S. C., Visão, 16-22.05.2019, p. 123). Não vai demorar muito até os lexicógrafos darem conta que «poetisa» já não se usa. É que, nos últimos anos, as poetisas querem, à viva força, ser poetas (a inveja do pénis?), e os jornalistas, recenseadores, prefaciadores, etc., passaram a ter receio de as ofenderem se lhes chamarem poetisas. Ah, sim, e alguns, os mais «requintados», até já acham ridículo usar-se a palavra «poetisa». Quanto a mim, é a eles que acho ridículos e dignos de dó, e espero que passem tão depressa como a própria moda.

 

[Texto 11 596]