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Linguagista

Léxico: «canhono»

Parece que não

 

    «De acordo com o disposto no n.º 2 do anexo I do Despacho Normativo n.º 47/97, de 11 de Agosto, faço público que a Associação Nacional de Criadores de Ovinos da Raça Churra Galega Mirandesa requereu o registo e protecção de Mirandês como Denominação de Origem Protegida para cordeiro ou carne de cordeiro ou carne de borrego ou canhono.» É o que se lê logo no primeiro ponto do Aviso n.º 5555/2007, do Instituto de Desenvolvimento Rural e Hidráulica, agora os lexicógrafos vejam bem se têm tudo anotado.

 

[Texto 11 626]

Léxico: «facultatividade»

Pois é verdade

 

      «E esquece também o ror de vezes que, no Acordo actual, são invocadas a perspectiva etimológica, a história das palavras, as consagrações pelo uso e as nefastas facultatividades, numa salada de critérios contraditórios que a parte brasileira teria feito um ponto de honra em não aceitar em 1945» (Acordo Ortográfico: a Perspectiva do Desastre, Vasco Graça Moura. Lisboa: Alêtheia Editores, 2008, p. 50).

     Nem por se falar tanto delas — a própria negação de uma pretendida unificação, tal o número — as encontramos no Dicionário da Língua Portuguesa da Porto Editora. Acontece muito, não é?

 

[Texto 11 625]

Léxico: «mesa-tenista»

Agora também é nossa

 

      «Fu Yu conquistou, esta quarta-feira, a medalha de ouro de ténis de mesa dos II Jogos Europeus, que decorrem em Minsk, na Bielorrússia. A mesa-tenista portuguesa, de 40 anos, derrotou a alemã Ying Han, de 55, por 4-2 (11-5, 11-8, 9-11, 9-11, 11-6 e 11-7)» («Fu Yu conquista medalha de ouro dos Europeus em ténis de mesa», Rádio Renascença, 26.06.2019, 16h51).

      A palavra veio mesmo do Brasil? Bem, não interessa, está a ser usada entre nós cada vez com maior frequência. (No Observador, a jornalista Mariana Fernandes ainda não encontrou, no caos da redacção, o dicionário certo.)

 

[Texto 11 624]

Léxico: «tartaruga-de-orelha-vermelha»

Também não

 

    Como faltam estas: «Mais de 5 mil tartarugas-de-orelha-vermelha bebés foram encontradas numa mala no aeroporto de Kuala Lumpur, na Malásia. As tartarugas estavam a ser transportadas para serem vendidas como animais de estimação na Índia» («Mais de 5 mil tartarugas bebés descobertas em mala num aeroporto», Rita Carvalho Pereira, TSF, 26.06.2019, 13h13).

     Pois, a tartaruga-de-orelha-vermelha (Trachemys scripta elegans) também não habita o Dicionário da Língua Portuguesa da Porto Editora, e isto é muito mais inocente que um marzapo, ou não?

 

[Texto 11 623]

Léxico: «marzapo»

Deixa-te disso

 

      «As orgulhosas Arriscados, uma foi para o Carvalhal Benfeito, a cevadíssima Isolda a queixar-se que o Zequinha não lhe chegou com o marzapo, mas agora, a recolher-se ao ninho, grávida até aos olhos» (Sou Toda Sua, Meu Guapo Cavaleiro, Alexandre Pinheiro Torres. Lisboa: Editorial Caminho, 1994, p. 252).

      O pudico Dicionário da Língua Portuguesa da Porto Editora não o acolhe, mas já a respeitabilíssima Grande Enciclopédia Portuguesa e Brasileira o regista. Além de que é abundantemente usado na nossa literatura.

 

[Texto 11 622]

Léxico: «terrincho»

Entre outros

 

      «Também pode refugiar-se em pratos cuja composição conhece, como o cordeiro bragançano e lentilhas no forno, ou deixar-se tentar por combinações novas e surpreendentes, como o salmonete, cuscuz de Vinhais e camarão-tigre. Há surpresa, aliás, em cada prato: na bola de Berlim recheada com queijo terrincho e no Ferrero Rocher de alheira, castanha e amêndoa, que fazem parte das “saudações” (couvert); no carabineiro do Algarve, massa fresca e cogumelos; no bacalhau e feijão bragançano; no pombo-torcaz com estufado do mesmo; no café, chocolate e caramelo, que é a última tentação» («Tudo no ponto no restaurante G Pousada, em Bragança», Manuel Gonçalves da Silva, Visão, 24.09.2018, 15h13).

      Queijo terrincho: no Dicionário da Língua Portuguesa da Porto Editora não lhe pomos o dente. No entanto, tem, por exemplo, rabaçal.

 

[Texto 11 621]

Léxico: «tokenização»

Agora já é tarde

 

      «De acordo com a empresa, o Mastercard Digital Enablement Service (MDES), dispõe de tecnologias de pagamento — EMV, tokenização e criptografia — que asseguram a integridade da informação do cartão. Além de Portugal, a Apple Pay vai estar também disponível para quem tiver cartão Mastercard na Bulgária, Croácia, Chipre, Estónia, Grécia, Letónia, Liechtenstein, Lituânia, Malta, Roménia, Eslováquia e Eslovénia» («Apple Pay chega a Portugal. Mas só em alguns bancos», Rita Carvalho Pereira, TSF, 26.06.2019, 12h05).

      Não é, isso é certo, o melhor aportuguesamento, mas é o que por aí já corre e enveredar por outro caminho é utópico.

 

[Texto 11 620]

Léxico: «catinona»

Eles é que sabem

 

      «Das Novas Substâncias Psicoativas (NSP) faz parte o consumo de canabinóides sintéticos (1,9%), catinonas sintéticas (1,5%) e plantas ou outras NSP (1,8%)» («Sobe o consumo de álcool e droga entre os jovens de 18 anos», Rádio Renascença, 26.06.2019, 9h40).

      Não deixa de ser frustrante, para não dizer mais, que qualquer dicionário de inglês registe cathinone e os nossos não acolham catinona.

 

[Texto 11 619]

Tradução: «immersive»

Para o coreano perceber

 

      «Uma exposição que usa tecnologias digitais e de ‘media art’ para uma experiência imersiva do visitante em 35 obras da pintora Maria Helena Vieira da Silva é inaugurada hoje, no Centro Comercial Colombo (Lisboa)» («Vieira da Silva no Centro Colombo», Destak, 26.06.2019, p. 12).

      Vou tratá-lo como um caso de tradução, pois se de imersivo todos os nossos dicionários dizem apenas que é o que faz imergir, que se realiza por imersão, estamos longe do inglês immersive, «seeming to surround the audience, player, etc. so that they feel completely involved in something» (in Cambridge Dictionary). Se se concluir que este sentido do vocábulo já está bem solidificado na nossa língua, alguma coisa se tem de fazer.

 

[Texto 11 618]

Tradução: «plasticrust | intertidal»

Esforço mínimo

 

      «Os plasticrusts, o nome que os cientistas deram ao fenómeno agora descoberto, é uma espécie de crosta plástica que se formou em algumas rochas vulcânicas e que foram detectados numa zona “intertidal”, área costeira que apenas se encontra exposta ao ar durante a maré baixa, ficando submersa com a subida da maré, na Madeira» («Plasticrusts, as crostas de plástico nas rochas da Madeira», Sofia Neves, Público, 26.06.2019, p. 26).

      Não é nada: no artigo todo, incluindo título e legenda da imagem, o leitor é bombardeado seis vezes com a palavra plasticrust. Tanto quanto sei, o Público é o único jornal que não aportuguesou/traduziu o termo. Bonito serviço... E a jornalista Sofia Neves também não se esforçou por saber como se diz em português intertidal, que usou três vezes. Se se esforçasse um pouco, saberia que é intermareal.

 

[Texto 11 617]