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Linguagista

Léxico: «perata(s) | sethita(s)»

Mais seitas

 

      Vejo que já tens os nomes de duas das quatro principais seitas gnósticas ofíticas: naassenos e cainitas. Faltam outras duas: sethitas (do latim Sethoitae) e peratas. Qual o estudante de Filosofia da Religião que não ficará satisfeito que um dicionário acessível registe estas palavras?

 

[Texto 11 633]

Léxico: «ofítico | ardosífero»

Não só da petrologia

 

      Ah, sim, várias seitas gnósticas derivaram o seu nome do culto da serpente (em grego, [ὄφῐς] ophis), sendo então designadas seitas ofíticas. Mas não é apenas aqui que falhas: o adjectivo relativo ao mineral ofito, uma rocha esverdeada com manchas brancas, também é ofítico. Nesta área do conhecimento, imagino o que falta... Olha, para não ir mais longe, onde pára o xisto ardosífero? Já era.

 

[Texto 11 632]

Léxico: «alfa-sinucleína»

Do que discordamos

 

      «O corpo humano fabrica naturalmente uma proteína chamada alfa-sinucleína, que se encontra, entre outros lugares, no cérebro, nas terminações das células nervosas. No entanto, a aglutinação incorreta dessas proteínas estará ligada a danos nas células nervosas, à deterioração do sistema de dopamina e ao desenvolvimento de problemas de movimento e de fala — as três características da doença de Parkinson» («Doença de Parkinson terá origem no intestino», Isaura Almeida, Diário de Notícias, 26.06.2019, 22h01).

      Os lexicógrafos acham que alfa-sinucleína (ou, menos dicionarizável, α-sinucleína), uma proteína nuclear com 140 aminoácidos e massa molecular de 14 kDa, presente nos terminais pré-sinápticos e na mitocôndria, não tem de estar nos dicionários, do que, evidentemente, discordamos.

 

[Texto 11 631]

Léxico: «paramédico»

Não é claro

 

      «O Instituto Nacional de Emergência Médica (INEM) anunciou esta quinta-feira que vai contratar em julho 20 profissionais e vai abrir em breve um concurso para mais 130 técnicos de emergência pré-hospitalar. [...] O INEM adianta que estes profissionais, que atuam no âmbito da emergência médica, nomeadamente em ambiente pré-hospitalar, são “fundamentais para a rede de emergência médica do país porque asseguram a primeira resposta às situações de emergência médica pré-hospitalar”» («INEM vai contratar 150 técnicos de emergência pré-hospitalar em julho», TSF, 27.06.2019, 14h54).

      Sim, técnicos de emergência pré-hospitalar, é uma carreira especial, e muito recente. Ora isto levou-me logo para o termo paramédico, que estive já esta semana a consultar no dicionário da Porto Editora e que, adianto já, não me convenceu. Paramédico é um conceito originariamente anglo-saxónico e, tanto quanto vi, pouco usado na nossa legislação. A definição da Porto Editora: «1. profissional treinado para executar cuidados médicos de emergência (como, por exemplo, um enfermeiro que acompanha uma ambulância); 2. indivíduo que exerce a sua profissão no campo da medicina, realizando actividades auxiliares ou complementares às de um médico». Talvez tenhamos de ter duas acepções, concedo por agora. A primeira, porém, não me convence. É nesta que cabem os técnicos de emergência pré-hospitalar — que não são enfermeiros, ou são? Talvez algum médico (pelo menos três sei eu que seguem este blogue) nos possa elucidar. Convém ter sempre definições claras e inatacáveis.

 

[Texto 11 630]

Léxico: «xelindró | xilindró | chilindró»

Sabotagem, disse ele

 

      «Se pagas caro o malogro, não o pagas com o rico corpinho no chilindró, que é o principal» (Maria Benigna: Antecipação, Aquilino Ribeiro. Lisboa, Livraria Bertrand, 1958, p. 257).

      Vem isto a propósito de a palavra do dia, na Infopédia, ser xelindró. Muito bem. A definição só diz isto: «popular estabelecimento prisional; cadeia, presídio». Não se indicam variantes. Xilindró, por exemplo. Regista-o, sim, mas diz que é brasileirismo. Será mesmo assim? Hum... Para começar (mal), Rebelo Gonçalves, no seu Vocabulário da Língua Portuguesa, não acolhe nem xelindró nem xilindró, apenas chilindró. José Pedro Machado, no Grande Dicionário da Língua Portuguesa (Amigos do Livro, 1981), regista apenas xilindró e chilindró. Nenhum fala em brasileirismo.

      «Xelindró» até faz pensar que dicionarizaram uma forma resultante de dissimilação: como se, agora, a par de «ministro», levassem para o dicionário «menistro». Têm melhor explicação?

 

[Texto 11 629]

Léxico: «fonetização | foneticização | cantonense»

Clandestinas

 

      «É na Suma Oriental de Tomé Pires que encontramos pela primeira vez uma fonetização sistemática em especial do cantonense (quantom, oquem, namtoo)» (Macau: Poder e Saber: Séculos XVI e XVII, Luís Filipe Barreto. Lisboa: Editorial Presença, 2006, p. 239).

     Nos nossos dicionários, nem fonetização nem foneticização; são palavras usadas em várias obras, mas, para todos os efeitos, clandestinas. Curioso... Pelo que vejo, nem sequer cantonense está em todos os dicionários. Depauperados.

 

[Texto 11 628]

Léxico: «moa | ave-elefante | avicídio»

Dois esquecimentos (e um avicídio)

 

      «Um fóssil de uma ave três vezes maior do que uma avestruz foi descoberto numa gruta da Crimeia, sugerindo que os primeiros europeus conviveram com uma das maiores aves conhecidas. [...] A espécie agora descoberta numa caverna de Táurida, na costa do Mar Negro, remete para uma ave tão grande como o pássaro-elefante de Madagáscar ou o moa da Nova Zelândia» («Pesava mais de 450 quilos. Descoberto fóssil de ave três vezes maior que avestruz», TSF, 27.06.2019, 7h58).

      Coitados, queriam dizer ave-elefante (Aepyornis maximus), mas o domínio da língua é o que se vê. Não a encontramos no Dicionário da Língua Portuguesa da Porto Editora, como tão-pouco encontramos moa, a tal ave gigante da Nova Zelândia da família Dinornithidae, extinta pela acção predatória dos Maoris, no que terá sido um dos primeiros avicídios (que aquele dicionário também não regista) da História. Ah, malvados!

 

[Texto 11 627]