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Linguagista

Léxico: «marcosiano»

Mais gnósticos

 

      Está em dezenas e dezenas de obras publicadas em Portugal ao longo dos séculos — marcosianos. Era o nome que se dava aos membros de uma seita de hereges do século II cujo chefe era um tal Marcos, discípulo de Valentim, que propagou as suas ideias na Ásia e depois, ao que parece, nas Gálias. A maior parte do que sabemos desta seita foi-nos transmitido por Santo Ireneu. Valha, por todos, o VOLP da Academia Brasileira de Letras: ✓.

 

[Texto 11 682]

Léxico: «adossar»

Aos pares é sempre pior

 

      «“É um sítio muito grande, todo muralhado, tem uma muralha muito robusta e adoçado à muralha saem uma série de estruturas. Esta produção metalúrgica foi encontrada numa estruturas destas que está perto da muralha e perto de uma zona de circulação que nós julgamos ser uma rua que se desenvolveria paralela à murada e depois haverá eventualmente uma zona habitacional, mas que ainda está debaixo de terra”, conta a arqueóloga [Mariana Nabais,] que acredita que na Safara há trabalho para várias gerações» («Há um tesouro arqueológico com mais de dois mil anos no Alentejo», Rita Costa e Rita Carvalho Pereira, TSF, 4.07.2019, 11h24).

      Parece uma maldição: se um texto é escrito por dois jornalistas, tem mais erros. Com palavras que manifestamente não conhecem, porque não consultam um dicionário para saber como se escrevem? É, no caso, adossado, isto é, encostado. Não deixa também de ser estranho que os nossos dicionários não acolham o verbo adossar — que é usado em muitos textos sobre arqueologia.

 

[Texto 11 681]

Léxico: «valentiniano | valentianismo»

Como te faltam estes

 

      «No esquema valentiniano, que responde de maneira mais perfeita a todos os outros esquemas, existem quatro escalões na hierarquia das realidades: 1) O Pleroma Superior; 2) A Sofia inferior (Ogdóada, Achamot), Mãe, que deseja a redenção do inferior para o superior; 3) O “Lugar do Meio”, entre o superior e o inferior, residência do filho-demiurgo da Sofia (mãe) superior; 4) O universo material nomeado, por vezes, com o nome hebraico Hamakom (que significa “Lugar”), correspondente ao Deus do AT» (Ler a Bíblia no Século XXI, Joaquim Carreira das Neves. Queluz de Baixo: Editorial Presença, 2017, p. 101).

 

 

[Texto 11 679]

O AO90 e o PSD

Não é fácil

 

      Até eu tinha como certo que Pacheco Pereira, ontem à noite, na Circulatura do Quadrado, perguntaria a Rui Rio o que pensa fazer em relação ao Acordo Ortográfico de 1990. Em vez de dar a resposta que deu, mais valia que Rui Rio tivesse um delíquio ou qualquer coisa assim benigna e temporária, mas que o impossibilitasse de revelar a enorme ignorância que tem em relação à língua. «Oh pá, o “facto” ponho c, o “fevereiro” às vezes escrevo grande, outras vezes pequeno, para ser sincero, oh pá, umas vezes ponho de uma maneira, outras de outra.» Não tem posição pessoal nem ideias sobre a questão, e por isso não se comprometeu. «Está lá a vermelho [no esboço do programa do partido].» Por conseguinte, não vale a pena alimentarmos grandes esperanças quanto ao que dali virá.

 

[Texto 11 678]

Léxico: «elefante-marinho-do-sul»

Mas mais à frente

 

      Duas páginas mais à frente, já noutro artigo, mais uma: «Dentro da vasta família das focas (Phocidae), a espécie que fornecia óleo em maior abundância era o elefante-marinho-do-sul (Mirounga leonina), cujo habitat natural são as ilhas e arquipélagos da região subantártica» («Açorianos na caça às focas», Carlos Rilley, My Plan, Novembro de 2017, p. 30).

 

[Texto 11 677]

Léxico: «pato-escuro-americano»

O mais pesado

 

      «O Caldeirão, uma das principais zonas húmidas dos Açores, é um dos lugares mais apetecíveis para espécies como limícolas, garças e patos, que ocupam uma cratera silenciosa, dominada por plantas e aves que lá fazem o seu habitat, como são os casos da narceja-comum, ao pato-real, ao pato-escuro-americano, à marrequinha, entre outras» («Aves no Corvo», Sílvia Toste, My Plan, Novembro de 2017, p. 28)

      De todos, o único que o Dicionário da Língua Portuguesa da Porto Editora ainda não regista é o pato-escuro-americano (Anas rubripes). Já que é americano, diga-se que o nome em inglês é American black duck. É a espécie mais pesada da família dos Anatídeos.

 

[Texto 11 676]