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Linguagista

Léxico: «metanfetamina»

Hitler e a lógica

 

      «Delírio Total é um olhar surpreendente sobre Hitler e a Alemanha Nazi. Mostra-nos como a metanfetamina foi determinante para as vitórias retumbantes da Wehrmacht, mostra-nos um abjecto regime liderado por um Führer que se foi refugiando num paraíso artifical alimentado a injecções diárias» («Um Reich na ponta da agulha», Mário Lopes, «Ípsilon»/Público, 28.06.2019, p. 26).

      Hitler drogava-se, Salazar também se drogava e eu não me sinto lá muito bem, apesar das injecções e comprimidos de Voltaren. E qual a lógica de anfetamina estar no Dicionário da Língua Portuguesa da Porto Editora, mas metanfetamina se encontrar apenas no Dicionário de Termos Médicos, alguém me sabe responder?

 

[Texto 11 700]

Ainda à volta do adjectivo derivado de «clímax»

Apanhados do clima

 

      Abram o Diccionario de Dudas A-H, de Antonio Fernández Fernández, na página 152: «climácico, ca No debe confundirse este adjetivo, que significa ‘del clímax’, con climático/a (del ‘clima’)». Infelizmente, cá confunde-se tudo e mais alguma coisa. Se o termo derivado se formou já na nossa língua, não tinha de ser «climático» nem «climáctico». Seria, isso sim, climácico ou climáxico. Continuo a ter a mesmíssima opinião. Condenável, a meu ver, é admitir, como fazem muitos dicionaristas, tudo e mais alguma coisa. Em questões decisivas, não servem de farol, não se querem comprometer. Ferve-me o sangue nas veias ao ver estas atitudes.

      O dicionário da Porto Editora regista, relativo a clímax, somente «climáctico» — mas não acolhe «anticlimáctico». Isto, que será apenas um lapso, já é mau, mas faz pior: em «climático», não há nenhuma acepção referente a clímax. Contudo, «anticlimático» só regista acepções relativas ao anticlímax ou em que não há clímax. Alguém nos salva disto? Alguém quer saber disto? Alguém tem mão nisto? É simplesmente descoroçoante. Acho que me vou dedicar a qualquer outra actividade.

 

[Texto 11 699]

Léxico: «eduardino | eduardiano»

Por acaso

 

      «[O sutiã] Mudou de forma e estilo até ao final do século XIX e entre os mais famosos estão o Tudor, o Isabelino (de Elizabeth I), o Rainha Maria II, o Vitoriano e o Eduardino/Eduardiano» («Um assunto para levar a peito», Bianca Marques e Teresa Lopes, «Revista E»/Expresso, 16.03.2019, p. 94). 

      Faz algum sentido escrever desta maneira? Nenhum. E cá está: escrever a quatro mãos (quatro dedos, hoje em dia) é pior. Por acaso, sim, porque há-de ser apenas por acaso, o Dicionário da Língua Portuguesa da Porto Editora não regista nem eduardino nem eduardiano.

 

[Texto 11 698]

Léxico: «velocista»

Incompetência

 

      «Mas ser pai de uma criança com trissomia 21 (T21) requer também o treino intensivo de um velocista dos 100 metros» («Em nome do filho», Luciana Leiderfarb, «Revista E»/Expresso, 16.03.2019, p. 28).

      Velocista, no Dicionário da Língua Portuguesa da Porto Editora, é um brasileirismo. Quem fez isto deve estar agora a rir-se, mas não tem nenhuma graça, além de que se trata de incompetência pura.

 

[Texto 11 697]

Léxico: «curcumina | curcuminóide»

Mal explicado

 

      «Um novo estudo da Universidade Estadual de Washington revelou o poder da curcumina, a substância ativa do açafrão-das-índias (também conhecido por curucuma), de inibir o desenvolvimento de cancro dos ossos, ao mesmo tempo que promove o crescimento de ossos saudáveis» («O poder curativo da curcuma», Visão, 27.06.2019, p. 30).

     A definição de curcumina no Dicionário da Língua Portuguesa da Porto Editora é simplesmente para rir: «matéria corante da curcuma». A curcumina é um dos vários curcuminóides do turmérico (Curcuma longa L.), não simplesmente um corante. O problema é que os nossos dicionários (e até vocabulários) não registam o termo curcuminóide: um fitoquímico, um polifenol, concretamente, encontrado no turmérico e noutras espécies do género Curcuma, com propriedades anti-inflamatórias e anticancerígenas.

 

[Texto 11 696]

O drama das maiúsculas e das minúsculas

Impenetrável

 

      «Em Portugal, acompanhados por Dan Graham, estiveram na luxuosa moradia do ex-treinador do Manchester United em Troia, onde aproveitaram para ir à praia e apanhar banhos de Sol» («De Troia até ao Porto», Carolina Pinto Ferreira, Correio da Manhã, 5.07.2019, p. 38).

      Se falham nestas merdices, já dá para adivinhar como será no resto. Os arcanos por detrás de Sol/sol são impenetráveis.

 

[Texto 11 695]

O AO90 no dia-a-dia

Muitos anos depois

 

      «Já no número 31 da avenida 9 de abril, também no centro da cidade, o restaurante A Bela Palha tem como especialidades pratos típicos da gastronomia nacional: Sopa da Pedra, Cozido à Portuguesa ou Caldeirada de Bacalhau são algumas das iguarias que pode apreciar no espaço» («Estremoz», Correio da Manhã, 5.07.2019, p. 43).

      É uma regrinha que se aprende em escassos segundos — mas, pelos vistos, essa facilidade não é para todos. Habitualmente, só para um QI acima de 55.

 

[Texto 11 694]

Léxico: «equipolente»

Azar

 

      «O beato Bartolomeu dos Mártires, português, vai ser santo. A decisão foi tomada pelo Papa na sexta-feira, mas anunciada este sábado pelo Vaticano. [...] A 5 de Fevereiro de 2015, D. Jorge Ortiga entregou ao Papa Francisco, em mãos, um dossier sobre a vida do antigo arcebispo de Braga e formulou o pedido de canonização equipolente (dispensa do milagre)» («Beato português Bartolomeu dos Mártires vai ser santo», Rádio Renascença, 6.07.2019, 9h58).

      A acepção que mais se adequa ao contexto é precisamente a que falta ao Dicionário da Língua Portuguesa da Porto Editora e o Aulete, por exemplo, acolhe. Azar.

 

[Texto 11 693]