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Linguagista

Léxico: «multimissão»

É preferível a «multi-role»...

 

      «Trata-se de uma aeronave com alcance intercontinental, dotada de verdadeiras capacidades multimissão e capaz de executar operações estratégicas e táticas, civis e militares, sem limitações, desde o transporte de tropas, veículos e cargas, lançamento de paraquedistas e carga, evacuações sanitárias, missões de busca e salvamento e de reabastecimento aéreo» («Governo compra cinco aviões para substituir antigos C-130», Rádio Renascença, 11.07.2019, 13h33).

 

[Texto 11 760]

Léxico: «cristão-social», de novo

Existe, pois

 

      «Eleita em 26 de maio, a cabeça de lista dos cristãos-sociais (CSV), o partido de Jean-Claude Juncker, nasceu em Lisboa e veio para o Luxemburgo com três anos, dez anos antes da Revolução dos Cravos» («Eurodeputada luso-luxemburguesa diz que cravo é o símbolo da Europa», Diário de Notícias, 2.06.2019, 10h09).

 

[Texto 11 759]

Léxico: «gilbertês»

Cá ninguém conhece

 

      «As Gilbert são habitadas há quase cinco mil anos e deram origem ao idioma oficial do país (junto com o inglês), o gilbertês. Os primeiros europeus a lá chegar foram Adam Johann von Krusenstern, um almirante germano-báltico ao serviço do império Russo, e o seu capitão francês Louis Duperrey, que resolveram prestar homenagem ao capitão britânico Thomas Gilbert no nome» («Um país pequeno no centro do mundo», A. R., Público, 12.07.2019, p. 30).

 

[Texto 11 758]

O que se passa com esta gente?

Uma coisa sem senso

 

      «A luta derrotada para a introdução no Censos de uma pergunta sobre as “origens étnico-raciais” dos portugueses veio trazer a lume uma confusão categorial com potencial racista, aproveitada por Fátima Bonifácio, no PÚBLICO, a 6 de Julho» («A paixão xenófoba de Bonifácio, a questão cigana e o racismo de Estado», José Gabriel Pereira Bastos, Público, 12.07.2019, p. 20).

      Trata-se de um excerto de um artigo de opinião. O autor não é jornalista, mas sim antropólogo e psicanalista. A minha pergunta é só uma e muito simples: o que se passou entretanto para que pessoas à primeira vista normais, licenciadas e até doutoradas, escrevam «o Censos»?

 

[Texto 11 757]

O AO90 no dia-a-dia

Não se recomenda

 

      É médico, segue, mais por hábito do que por convicção ou conhecimento, as regras do Acordo Ortográfico de 1990 e infelizmente quer publicar um livro. Assim, escreve incontáveis vezes «fato», «contato», mas «aspecto», «colectivo», «percepção», «sector», ou, por outro lado, «direto», «fator»... Enfim, o que calha, sem vislumbre de critério. Reparem: médico (e não um médico qualquer) e não chegou ainda a compreender as novas regras ortográficas. Imaginem agora — tenho de o dizer sempre, porque, afinal, médicos, engenheiros, jornalistas, etc., são milhares, mas o zé-povinho são milhões — o que será no dia-a-dia por esse País fora.

 

[Texto 11 756]

Léxico: «taboa»

Sempre duplo, pelo menos

 

      «Com que materiais do rio trabalha habitualmente?», perguntam ao artesão António Gomes, de Furnazinhas, Castro Marim. «Com junça, taboa e buinho. São todos diferentes: o buinho é redondo, a junça é triangular e a taboa é assim meia-cana» («O artesão que trabalha o que o rio dá», Evasões, 12-18.07.2019, p. 31).

      Ou seja, Porto Editora, ao contrário do que registas, e tal como ensina Rebelo Gonçalves, o nome desta planta herbácea tanto se pode escrever tabua como taboa. E vejam para qual vai a preferência de quem conhece e trabalha a matéria-prima.

 

[Texto 11 755]

Léxico: «calcídico»

Falta de atenção?

 

      Como viram, a tempestade supercelular aconteceu na região da Calcídica, na Grécia. Mais um termo, calcídico, que o Dicionário da Língua Portuguesa da Porto Editora se esqueceu de registar, isto quando o usa — como não podia deixar de ser, dada a importância — em vários textos de apoio na Infopédia.

 

[Texto 11 754]

Léxico: «tempestade supercelular»

Cá, nem nos dicionários

 

      «A violência do fenómeno — uma “tempestade supercelular” em que foram registados cerca de 5000 raios — levou vários membros do novo Governo ao local [na região da Calcídica, Grécia], onde foi decretado o estado de emergência» («Tempestade inédita mata sete pessoas», Ivete Carneiro, Jornal de Notícias, 12.07.2019, p. 31).

 

[Texto 11 753]

Léxico: «catequeta | pastoralista»

Ficaram no osso

 

      «Decorre nesta sexta-feira e no sábado (dias 12 e 13), em Braga, o primeiro Encontro Ibérico de Catequetas, uma iniciativa da Faculdade de Teologia da Universidade Católica de Braga com o apoio do Secretariado Nacional de Educação Cristã. [...] O também diretor-adjunto da Faculdade de Teologia da Universidade Católica de Braga acrescenta que lhe pareceu “muito importante estreitar a relação entre Portugal e Espanha no que à reflexão espiritual diz respeito, aproveitando também esta ocasião para congregar os catequistas e pastoralistas portugueses, que não temos o hábito de desenvolver projetos conjuntos”. [...] A finalizar, o padre Luís Figueiredo Rodrigues explica a diferença entre catequetas e catequistas. “Catequista é todo aquele que numa comunidade concreta, em nome dessa comunidade, realiza um processo de animação de educação da fé. Catequeta é o teólogo que reflete sobre essa mesma prática. Portanto, catequista refere-se à ação e catequeta refere-se à reflexão sistemática e científica sobre essa prática”, esclarece» («Braga acolhe primeiro Encontro Ibérico de Catequetas», Ana Lisboa, Rádio Renascença, 12.07.2019, 7h46).

      Nos nossos dicionários, nem catequeta nem pastoralista. Deixaram os dicionários no osso.

 

[Texto 11 752]

Léxico: «pinguim-de-humboldt»

Tem problemas

 

      «Hoje, falamos-lhe do Pinguim de Humboldt, que deve o seu nome a Alexander Von Humboldt, um explorador alemão do século XIX que, nas suas viagens pela América do Sul, descreveu várias espécies desconhecidas na Europa daquela altura» («Com o calor, só me apetecia ser Pinguim… de Humboldt!», André Rodrigues, Rádio Renascença, 11.07.2019).

      André Rodrigues, deite-se aí nesse divã e fale-nos da sua relação com o Acordo Ortográfico de 1990. Escreve-se pinguim-de-humboldt (Spheniscus humboldti), que é uma espécie de pinguim nativa da América do Sul, e nomeadamente do Peru e Chile. Não se encontra entre os vários registados no Dicionário da Língua Portuguesa da Porto Editora.

 

[Texto 11 750]

«Ad nutum, in primis...»

E vão duas

 

      Mais um caso. Já tínhamos aqui visto que a locução latina ad nutum está, erradamente, registada como italiana no Dicionário de Italiano-Português da Porto Editora. Não fizeram caso. Agora vejo outra locução latina ali enfiada à má fila: in primis. Vamos lá ver se nos entendemos: usar-se uma expressão latina em dada língua não faz dela uma expressão dessa língua. No meio de um texto em português, também podemos — se quisermos, se virmos que se ajustam — usar essas duas e todas as expressões dessa e de qualquer língua. Se querem mesmo, se estão numa ânsia de dicionarizar essas duas locuções latinas e outras centenas que existem, tomem o caminho correcto: façam um dicionário bilingue latim-português, mais necessário do que alguns dos que estão na Infopédia. Quantos incautos não serão apanhados...

 

[Texto 11 749]

Erros em todo o lado

Eu não disse?

 

      A tradutora, descuidada como poucos, escreveu «práctica». Não tem desculpa, não, pois o original é italiano, e nesta língua escreve-se pratica. Poucas vezes encontrei este erro — mas até na Infopédia o encontramos, no texto de apoio sobre o cardeal Richelieu: «A 16 de abril de 1621 tornou-se Cardeal de Richelieu, por intercessão do rei, três anos depois membro do Conselho Real e chegando ao posto de primeiro ministro, dedicou-se à práctica de uma política que procurou fortalecer tanto o poderio francês face a outros dominantes na Europa como o do rei no seu próprio país.»

 

[Texto 11 748]

Léxico: «sociologístico»

É outra forma

 

      «Aqui, devemos distinguir os tipos de racismo; basicamente, o suave e o duro. Um pode ser caracterizado por frases, textos ou opiniões que sendo errados – filosófica, sociologística e biologicamente – não visam a perseguição dos outros, ou a sua menorização legal; o outro, o duro, visa maltratar, menorizar, expulsar ou de qualquer outro modo prejudicar de facto uma ou diversas comunidades» («O cisne negro, a historiadora, o racismo e os censores», Henrique Monteiro, Expresso Diário, 10.07.2019).

      Pelo menos no Dicionário da Língua Portuguesa da Porto Editora não o encontramos.

 

[Texto 11 747]

Léxico: «autonivelante»

Até é mais nos automóveis

 

      Para já apenas no mercado britânico, a Volkswagen vai passar a oferecer em opção para alguns dos seus modelos um conjunto de centros de jantes autonivelantes, que mantêm o símbolo da companhia germânica sempre no sentido correcto, VW, à semelhança do que a ultraluxuosa Rolls-Royce também faz. Também há carros que têm suspensão autonivelante. Assim, é estranho que os dicionários apenas registem em autonivelante uma acepção relativa a um produto usado na construção civil.

 

[Texto 11 746]

Léxico: «correio»

Não a têm

 

      «A PJ explica que este modo de atuação consiste na utilização das vulgarmente designadas ‘money mules’ (correios de dinheiro) para fazer o transporte dos valores de um continente para outro, sendo característico de uma das fases do branqueamento de capitais, conhecida como circulação» («PJ apreende três milhões de euros no aeroporto de Lisboa em malas», TSF, 9.07.2019, 17h11).

      Pelo menos no Dicionário da Língua Portuguesa da Porto Editora não encontramos esta acepção de correio.

 

[Texto 11 745]

Léxico: «lenda urbana | megalodonte»

Sabem para onde devem ir

 

      «É uma lenda urbana que começou nos anos 70 na África do Sul. Supostamente é um tubarão-branco com cerca de dez metros (os maiores conhecidos rondam os cinco/seis) que tem a fama do tal tubarão assassino. João Correia não acredita que exista e muito menos o pré-histórico megalodonte, que é dado como extinto há cerca de dois milhões de anos (teria 18 metros de comprimento)» («Do fascínio ao medo e na costa portuguesa há muitos», Elisabete Silva, Diário de Notícias, 22.07.2017, 00h37).

 

[Texto 11 744]