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Linguagista

Isso mesmo, com os pés

Nunca

 

      Claro que nunca se pode dizer que já se viu tudo, é impossível. Já tinha visto traduções de expressões inglesas completamente parvas ou vergonhosas. Não é raro ouvir alguém — a Júlio Machado Pais já o ouvi várias vezes — falar em «pôr-se nos sapatos de alguém». Hoje foi outra: vote with one’s feet foi traduzida literalmente por «votar com os pés». Ah, Isabel, Isabel, isso é traduzir com os pés. Como traduzir? Sei lá, «abandonar, descontente», «voltar as costas», etc. Valia mais irem para a Escola de Pastores, talvez a sua aptidão se revelasse plenamente nessa nobre actividade.

 

[Texto 11 920]

Léxico: «macroscópio»

Já temos o adjectivo

 

      «No projeto financiado pelos fundos europeus, vai usar-se dados do Twitter e métodos clássicos de investigação em ciências sociais, como entrevistas, usando as redes sociais como “um macroscópio”» («Quase três milhões de euros para dois cientistas portugueses», Rádio Renascença, 3.09.2019, 11h27).

      Não temos nós microscópio? Então, também macroscópio devia ser dicionarizado. Até porque já temos macroscópico...

 

[Texto 11 919]

Léxico: «viés cognitivo»

Ajudem os falantes

 

      «Outro viés cognitivo, conhecido como efeito Dunning-Kruger, faz com que se tenha mais confiança no que se sabe do que conhecimento, o que também se manifesta na disseminação de notícias falsas, como se os humanos não tivessem evoluído para “parar e pensar” perante um título chamativo para determinar se é verdade ou não» («Quase três milhões de euros para dois cientistas portugueses», Rádio Renascença, 3.09.2019, 11h27).

      Já falámos aqui disto. Podemos concordar ou discordar, mas a verdade é que aparece cada vez mais.

 

[Texto 11 918]

Léxico: «fascite | fasciite | fasceíte»

Uma tripla

 

      Como funciona a câmara hiperbárica no caso da cicatrização? Responde a capitã-tenente médica Carla Amaro, subdirectora do Centro de Medicina Subaquática e Hiperbárica: «Outra das situações é a fasceíte necrotizante (uma infeção que causa a morte dos tecidos moles do corpo), muitas vezes associada a gangrenas de Fournier. Também é uma situação de urgência, porque tem elevado risco de mortalidade. Nessa situação, não só fornece o oxigénio necessário para produzir os radicais livres (moléculas produzidas pelas células, durante o processo de queima do oxigénio), para matar as bactérias – nós precisamos de radicais livres para as matar – como vai favorecer a atividade dos glóbulos brancos, para matar as bactérias – existem vários estudos a comprovar isso» («O que é e para que serve a câmara hiperbárica que está a tratar Ângelo Rodrigues», Anabela Góis e Inês Rocha, Rádio Renascença, 3.09.2019, 11h12).

      Vê-se mais, garanto, fasceíte do que as únicas que o dicionário da Porto Editora regista, fasciite e fascite. E falta saber se não é a única grafia legitimada pela etimologia, mas agora não quero pensar nisso, até porque tenho ali o pequeno-almoço à minha espera.

 

[Texto 11 917]

Léxico: «ruteno/Rutenos»

Não é o único

 

      Era a 9 vertical: «Povo da família eslava que faz parte do grupo russo.» Anteontem, um leitor nosso demorou mais do que o habitual a terminar as palavras cruzadas do Público, e tudo porque não conhecia a palavra ruteno/Rutenos. Ora, também o nosso Dicionário da Língua Portuguesa da Porto Editora a não conhece.

 

[Texto 11 916]

Léxico: «sapador florestal»

Anotemo-lo

 

      «Os sapadores florestais têm como função prevenir e combater incêndios, através da limpeza de mato ou da criação de linha de quebra de fogo» («Sapadores florestais vão ser eforçados com mais 40 equipas», Jornal de Notícias, 6.08.2019, p. 10).

      Como se lê no portal do Instituto da Conservação da Natureza e das Florestas, «o sapador florestal é um trabalhador especializado, com perfil e formação específica adequados ao exercício das funções de gestão florestal e defesa da floresta».

 

[Texto 11 914]

Léxico: «nanoesfera»

Mais uma

 

      «O método desenvolvido pela equipa luso-israelita implica colocar proteínas das células tumorais a atacar dentro de nanoesferas revestidas de açúcar, para que sejam “comidas” por glóbulos brancos (células dendríticas)» («Portugueses descobrem vacina para melanoma», Jornal de Notícias, 6.08.2019, p. 10).

      Nunca pensei que não estivesse no Dicionário da Língua Portuguesa da Porto Editora, mas assim é. A última que foi dicionarizada com este elemento de formação, sugerida por mim em Março de 2017, foi nanocápsula.

 

[Texto 11 913]

Léxico: «permafrost»

Em rigor

 

      «Permafrost. Solo, rochas e restos de plantas que permanecem abaixo de 0ºC pelo menos dois anos. Quando o permafrost descongela, os micróbios decompõem o material orgânico, libertando anidrido carbónico e metano para a atmosfera» («Incêndios florestais no Ártico», Jornal de Notícias, 6.08.2019, p. 2).

      O dicionário da Porto Editora, em permafrost remete, e bem, para pergelissolo: «subsolo constituído por terra, gelo e rochas, que se mantém gelado ao longo de todo o ano e que se encontra sobretudo nas regiões polares; permafrost». (Claro que aqui também tinha de grafar o termo em itálico. Falhas...) Pese embora o nome (perm-, de «permanente»), bastam aqueles dois anos para se poder dizer que se trata de pergelissolo — o que devia estar na definição.

 

[Texto 11 912]