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Linguagista

Léxico: «fatímida | aiúbida»

Fiquem com esta

 

      No dicionário da Porto Editora, lê-se que a «dinastia islâmica que governou regiões do Norte de África entre 909 e 1171» tem o nome de fatimitas. Sim, também se indica a variante fatímidas. Dois problemas: não apenas fatímida(s) não aparece num verbete autónomo (!), como a opção por «fatimita» é errada, ou ­— vá, contemporizando um pouco — menos correcta. E, já que estamos nisto, porque não regista o termo aiúbida? E, contudo, num texto de apoio da Infopédia sobre os mamelucos usa-se a palavra.

 

[Texto 11 948]

Léxico: «utente»

Era bom, era

 

      Utente, lê-se no dicionário da Porto Editora, é a «pessoa que utiliza bens ou serviços públicos ou privados». Aplica-se mais a quem usa os serviços públicos, e em especial os serviços de saúde. Aliás — nenhum dicionário o diz, claro —, a designação apareceu pela primeira vez no articulado de um despacho da área da saúde (Despacho Normativo n.º 97/83, de 22 de Abril), que dizia o seguinte: «São naturais utentes do centro de saúde os indivíduos residentes, incluindo os residentes ou deslocados temporariamente, e ainda aqueles que, por motivo de doença súbita ou de acidente, necessitem de cuidados de saúde urgentes.» E assim ficou até hoje.

 

[Texto 11 947]

Léxico: «prazo internupcial»

Ajudaria

 

      «De acordo com a nota publicada na página oficial na internet da Presidência da República, o chefe de Estado promulgou o diploma que “altera o Código Civil, revogando o instituto do prazo nupcial”, ou seja, estabelece o fim do prazo imposto pela lei para casar outra vez, depois de um divórcio. Antes da alteração legislativa aprovada em 11 de julho, em sede de especialidade parlamentar, as mulheres divorciadas tinham de esperar 300 dias para voltarem a casar e os homens tinham de aguardar 180 dias» («Já não é preciso esperar para voltar a casar depois de um divórcio», TSF, 7.08.2019, 8h27).

      Em rigor, isto não obriga a nenhuma alteração na definição de prazo internupcial no Dicionário da Língua Portuguesa da Porto Editora, dada a sua redacção: «período de tempo mínimo imposto por lei para que uma pessoa possa voltar a casar-se após a dissolução, a anulação ou a declaração de nulidade do casamento anterior». Ainda assim, eu proponho uma alteração que a tornaria mais útil e clara: «período de tempo mínimo imposto por lei para que uma pessoa possa voltar a casar-se após a dissolução (pela morte de um dos cônjuges ou pelo divórcio), a anulação ou a declaração de nulidade do casamento anterior». Afinal, estas definições são para leigos.

 

[Texto 11 946]

Léxico: «policíclico»

Não neste sentido

 

      «Na última década, 95% dos alertas da CE deveram-se a riscos químicos (aminas aromáticas cancerígenas, hidrocarbonetos aromáticos policíclicos e metais pesados) e os restantes a riscos microbiológicos (uso de água da torneira para diluição e falhas na esterilização). Os resultados de estudos publicados na Nature e na Scientific Reports sugerem a presença de nanopartículas das tintas nos gânglios linfáticos, deitando por terra a ideia de que as substâncias injetadas não ficam sempre, e apenas, alojadas na derme» («Perigos à espreita numa “simples” tatuagem?», Clara Soares, Visão, 24.12.2018, 11h25).

 

[Texto 11 945]

Três focas

Não as temos

 

      «Na Europa Setentrional os grupos do final da Idade da Pedra caçavam os quatro principais grupos de focas: a foca-marmoreada, a foca-da-gronelândia, a foca-cinzenta e a foca-malhada; os dados de que dispomos indicam que a foca-cinzenta predominava um pouco na alimentação em relação às restantes» (A Alimentação na Antiguidade, Don e Patricia Brothwell. Tradução de Maria Idalina Furtado. Lisboa: Editorial Verbo, 1971, p. 38).

 

[Texto 11 944]

Léxico: «girafídeo»

E o singular?

 

      «Na zona mais meridional do continente africano, por exemplo, contavam-se entre os herbívoros o grande girafídeo Griquatherium, o búfalo gigante, Homoioceras bainii, hoje extinto, e o Bularchos arok; a carne dos porcos selvagens gigantes, incluindo os Notochoerus e Tapinochoerus, deve ter sido extremamente abundante» (A Alimentação na Antiguidade, Don e Patricia Brothwell. Tradução de Maria Idalina Furtado. Lisboa: Editorial Verbo, 1971, pp. 35-36).

      É, como temos podido ver, muito comum o dicionário da Porto Editora não registar o singular destas palavras. Vamos resolver isto?

 

[Texto 11 943]

Léxico: «corta-fitas»

Arredada dos dicionários

 

      «“Uma campanha da União Nacional pouco se distinguia do resto do ano, o corta-fitas, a propaganda. Era quase como uma campanha permanente, e este período oficial de campanha não diferia do resto do ano. A campanha era uma questão burocrática para o Estado Novo. Era uma coisa apagada, cinzenta, afastada das pessoas, em que interessava apenas cumprir o ritual”, afirmou [a investigadora Joana Reis, autora da obra Uma Campanha Americana: Humberto Delgado e as Presidenciais de 1958, Tinta-da-China, 2019]» («Campanha de Humberto Delgado recorreu a marketing político à americana», TSF, 10.09.2019, 10h47).

 

[Texto 11 942]

Léxico: «treinável»

Temos a nossa

 

      «Esta peculiaridade em concreto revelou-se muito importante para definir outro dos pontos que fazem dos polvos um ser inteligente. A espécie é “altamente treinável” para executar várias tarefas que envolvam o uso dos seus braços» («Os polvos são muito inteligentes. É aceitável comê-los?», Sofia Neves, Público, 9.09.2019, p. 37).

      Sim, treinável, ou só a língua inglesa é que tem direito a uma palavra, coachable, para dizer o mesmo?

 

[Texto 11 941]

Léxico: «torêutica»

E não só

 

      A palavra do dia, na Infopédia, é torêutica: «arte de cinzelar em metal, marfim ou madeira». Lá porque pouquíssimas vezes a vejamos na nossa vida não quer dizer que não deva estar bem definida. Na realidade, é a arte de esculpir ou cinzelar em metal, madeira ou marfim.

 

[Texto 11 940]